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Historiador, investigador no Instituto de História Contemporânea na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Álvaro de Matos é um dos promotores da homenagem sobre os cem anos do nascimento de Jorge Borges de Macedo.
"O historiador exigente" parece ser uma legenda apropriada à obra de Borges de Macedo. Fernando Alves e Álvaro de Matos concordam, "porque era, em primeiro lugar, exigente com ele próprio".
O investigador revela, numa entrevista à TSF, que os caminhos dos dois se cruzaram desde cedo: "Fui aluno dele na Faculdade de Letras, na licenciatura. Voltei a ser aluno dele no mestrado, de História Contemporânea, também na mesma faculdade, e, depois, tive o privilégio de ser seu assistente na Universidade Católica portuguesa, onde dávamos os dois História Económica."
Álvaro de Matos enaltece-lhe o engenho e arte de "ter abraçado a História, na investigação, na publicação de livros, na resistência".
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"Eu, que entrei para a Faculdade de Letras com a ideia de saltar para Direito, de repente, confrontando-me com aquela figura, com aquele professor brilhante, fiquei literalmente viciado na História", recorda. As aulas de Borges de Macedo, eram - palavras do investigador Álvaro de Matos - momentos de "interpelação crítica constante".
Ouça a entrevista de Fernando Alves com Álvaro de Matos.
Ver a História como ponto de partida com várias possibilidades à chegada era uma das competências mais elevadas do docente, assevera Álvaro de Matos. "Ele ensinava-nos a pensar a História pela própria cabeça. Eu acho que essa é a grande virtude dele. Era um professor muito exigente, era um professor atento, que ajudava os alunos. Era um professor muito problematizante. Ele via a História como um problema, como um constante problema, como uma tarefa permanente, e era um professor brilhante que nos agarrava naquelas duas horas de sapiência e de lição permanente, sobretudo pelas leituras que ele nos dava."
Da memória militar à História da Saúde e da Higiene, todos os desafios que colocava eram surpresas para instigar o intelecto, rememora Álvaro de Matos. À pergunta de Fernando Alves, sobre a obra de Borges de Macedo que recomendaria a um estudante de História em começo de percurso, Álvaro de Matos atira: "Essa pergunta vale um milhão de dólares." Num arquivo de mais de 400 títulos, o investigador realça a força do "conjunto", que abrange análises políticas e económicas, culturais e sociais.
O afastamento da Faculdade de Letras, logo após o 25 de Abril, deixou-o "um pouco magoado", mas "a paixão pela docência, o interesse pela História e a preocupação com os alunos" estavam acima de qualquer outro sentimento, garante Álvaro de Matos. Em 1981, quando reintegrado, Jorge Borges de Macedo "voltou a abraçar a causa da pedagogia".
Marxista na juventude, esteve muito perto do marcelismo mais tarde e foi também amigo de Mário Soares. Tentando arrumar confusões ideológicas, Fernando Alves questiona Álvaro de Matos sobre as convicções políticas do amigo. "Era um heterodoxo crítico", resolve o investigador do Instituto de História Contemporânea na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. "Dizia Mário Soares: 'O Jorge não era só inteligente, mas também iconoclasta, irreverente.'"
Um "conservador heterodoxo", como Álvaro de Matos o caracteriza, Borges de Macedo evolui, mais tardiamente, para a ideologia marcadamente mais à direita.
O historiador que há cem anos nasceu foi ainda uma figura central na aquisição de documentos do acervo da Torre do Tombo. Ensaísta, pedagogo, tradutor "exímio", Jorge Borges de Macedo chegou à notoriedade sobretudo enquanto pensador e investigador.