Felipe González falava no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, num colóquio sobre os 25 anos da adesão de Portugal e Espanha à então Comunidade Económica Europeia (CEE), que também contou com a participação do ex-Presidente da República Mário Soares e que foi moderado pelo presidente da Assembleia da República, Jaime Gama.
Na primeira fila do debate estavam sentados González e o presidente do PS, Almeida Santos (em 1985 era ministro de Estado do executivo de Bloco Central liderado por Mário Soares), o primeiro-ministro, José Sócrates, assim como os ministros Pedro Silva Pereira, Mariano Gago e António Mendonça.
Na sua intervenção inicial, o antigo líder dos socialistas espanhóis defendeu uma arquitectura mundial de «blocos regionais abertos» em alternativa a uma lógica de multilateralismo puro.
Mas foi nas suas respostas a perguntas da plateia que Felipe González se mostrou mais incisivo e contundente em relação à actual realidade, sobretudo no que toca ao papel da União Europeia.
Interrogado por um jovem sobre a credibilidade de se concretizar o sonho europeu, González, de forma pragmática, frisou que os sonhos «têm de ser financiados».
Neste contexto, começou por defender uma reforma do modelo social europeu que se adapte à actual maior longevidade do cidadão.
«A Europa tem agora uma grande oportunidade para reagir. Tendo a maior esperança de vida do planeta, temos de perceber que a esperança de vida em 1929 era de 49 anos e agora é de 80 anos», observou.
Para o ex-primeiro ministro de Espanha, o modelo europeu «não pode ser igual ao de há 40 anos».
«Se queremos preservar o nosso estilo de vida, a nossa coesão social, temos de mudar, porque o mundo mudou e a nossa sociedade também. Se não quisermos mudar, então resta-nos defender declamativamente os nossos valores, mas, perante o mundo, seremos meros agentes declamativos e entraremos num processo de doce decadência», avisou.
Do ponto de vista político, González criticou a paralisia europeia de uma década face aplicação da Estratégia de Lisboa e considerou que a União Europeia «é cada vez mais irrelevante» politicamente «porque não tem estratégia».
«O presidente dos EUA, Barack Obama, já fez doze discursos de fundo sobre política externa e em nenhum deles falou em União Europeia. Barack Obama não fez por mal, mas porque a União Europeia é para os Estados Unidos uma irrelevância», considerou.