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José Pedro Aguiar-Branco, antigo ministro nos Governos de Santana Lopes e de Durão Barroso, defende que Rui Rio teve quatro anos para demonstrar ter capacidades para liderar o partido e o país, mas que falhou nessa missão. Agora, Rangel deverá seguir-lhe, porque já deu provas de apresentar uma "alternativa clara e inequívoca" à governação socialista.
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Em entrevista com Fernando Alves, na Manhã TSF, Aguiar-Branco justificou o afastamento de Rio, de quem já foi apoiante, com motivos estratégicos e políticos: o PSD deve apresentar um projeto distinto do PS.
"Ao longo de quatro anos, Rio teve tempo para clarificar isso e não o conseguiu fazer", acusou o antigo líder parlamentar social-democrata. Para José Aguiar-Branco, o que o atual líder do PSD fez foi "dar a mão ao Partido Socialista", o que culminou com uma carga de desprezo de Costa contra o líder social-democrata que atingiu os militantes do partido. "O doutor Rui Rio, ao longo dos quatro anos, teve tempo para clarificar isso, e, a meu ver, não o conseguiu fazer de forma convincente e não vai ser a 15 dias ou a um mês das eleições que isso vai ser alterado. A estratégia foi sempre seguida, nestes anos, de forma a dar a mão ao Partido Socialista, sempre que o Bloco de Esquerda e o PCP lha tiraram, devo dizer até, com uma carga sempre de desprezo por parte de António Costa em relação ao líder do PSD, que muito machucou os próprios militantes do partido."
Ouça a entrevista de Fernando Alves com José Pedro Aguiar-Branco.
O antigo candidato a líder do PSD, aquando da vitória de Passos Coelho, sublinha que Portugal precisa que haja essa "alternativa clara, inequívoca", às políticas que se limitaram a "servir o propósito da sobrevivência política" do Partido Socialista e de António Costa na governação. É Rangel protagoniza melhor essa alternativa, de acordo com Aguiar-Branco, que manifesta sem surpresa que os vários dirigentes do PS se têm manifestado, "de forma mais direta ou indireta", indiciando preferir Rui Rio. José Pedro Aguiar-Branco sustenta, por isso, que o eurodeputado oferecerá mais perigo ao PS e poderá ter mais hipóteses de vencer as eleições. "Rangel teve um desempenho como líder parlamentar que muita mossa fez."
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José Pedro Aguiar-Branco reage com assertividade às críticas feitas por Rio, que declarou que a Rangel faltaria um curso intensivo para se tornar primeiro-ministro. "Levo isso à conta das picardias que se fazem em momentos eleitorais, mas que não correspondem ao pensamento. Acho isso até um bocadinho patético... Como se pode considerar que alguém que está na vida política ativa há 17 anos, que foi líder parlamentar do PSD, que foi eurodeputado, que foi candidato à liderança do PSD, que acompanha, desde há 17 anos, a sua dimensão nacional e internacional, que está completamente identificado com as políticas da União Europeia, que são hoje prioritárias também no âmbito das políticas nacionais, que teve experiência governativa também no passado que não tem preparação para o cargo? Obviamente tem."
Já quanto às capacidades de Rui Rio, o antigo governante diz ter dúvidas: "Quem parece que ainda não revelou ter essa capacidade é quem há quatro anos não mostra estar mais bem preparado do que António Costa. O que está a acontecer é que nem sempre um excelente líder camarário, um excelente presidente da Câmara, tem as competências e os atributos para se transportar para a liderança nacional." Para ilustrar os argumentos, dá o exemplo de Sampaio, que, como presidente da autarquia de Lisboa, se destacou, e depois como candidato a líder dos socialistas não convenceu. Para Aguiar-Branco, os mais relevantes autarcas "nem sempre são os que à escala nacional são os mais importantes", já que "há toda uma dimensão de ação política que é de outro nível", e "Rio não terá essa projeção".
Se Rui Rio vencer, contudo, o antigo ministro estará disponível para "dar o apoio para que o PSD vença as próximas eleições, porque o país precisa disso".
Quanto à maioria absoluta, diz que nem vale a pena falar já. "As coisas não se pedem, as coisas merecem-se."
Também não é para já momento para falar em alianças, salienta o antigo ministro, já que "os consensos não são ponto de partida, são ponto de chegada". Os consensos podem surgir, a bem dos interesses do país, e com sentido de Estado, mas mais tarde. Agora, realça, as prioridades são outras: "Em democracia o que é mais importante saber o que nos separa. É importante que os portugueses tenham liberdade de escolha."
Referindo-se ainda à candidatura de Luís Montenegro na concelhia de Espinho, lista que contém apoiantes dos dois candidatos a líder, Aguiar-Branco advoga que "há sempre sinais aqui e acolá, de quem os pretende dar, em momentos em que as águas estão mais quentes, para baixar a pressão". Montenegro "tem esse perfil", já o manifestou, refere, remetendo-se ainda a Paulo Rangel, exemplo de quem manifestou esse espírito de unidade.
"Montenegro faz isso mesmo, à escala da sua candidatura. Na prática, está a fazer aquilo que paulo rangel também deseja que aconteça."
O quarto convidado da semana em que a TSF acompanha o percurso até às diretas no PSD foi José Pedro Aguiar-Branco, antigo ministro da Justiça no Governo de Santana Lopes, e ministro da Defesa Nacional nos Governos de Durão Barroso. Foi líder parlamentar do PSD em 2009 e 2010 (rendendo no cargo Paulo Rangel). Já concorreu à presidência do partindo, defrontando Pedro Passos Coelho e Paulo Rangel. Foi pessoal e politicamente muito próximo de Rui Rio, de quem se afastou entretanto. Apoia Paulo Rangel.
A TSF iniciou, na segunda-feira, um ciclo de curtas entrevistas diárias com notáveis do PSD, partido cujas diretas se realizam no próximo sábado. Pela antena e site da TSF vão passar apoiantes declarados das candidaturas de Rio e Rangel, e, no último dia, alguém que se reclama equidistante.