"A marca que vai ser deixada pelo Governo nesta presidência é de quem não quer fazer a diferença"

Marisa Matias e Moisés Ferreira dirigiram duras críticas ao Executivo português e à sua posição de não defender o levantamento das patentes das vacinas contra a Covid-19. No comício do BE "Salvar Vidas, não os lucros", a eurodeputada disse mesmo que o Governo perdeu uma "oportunidade única".

Marisa Matias, com um lenço palestiniano ao pescoço, foi firme nas palavras para defender uma outra causa, que foi também a tónica do comício "Salvar Vidas, não os lucros", do Bloco de Esquerda. Na abertura da XII Convenção do Bloco de Esquerda, a eurodeputada referiu-se ao levantamento das patentes das vacinas contra a Covid-19 como uma "questão pública e global".

"A União Europeia está cada vez mais isolada", frisou, depois de lembrar que muitos países, como os Estados Unidos, já vieram defender o levantamento das patentes das vacinas. Em relação ao Executivo português, são também dirigidas várias críticas por assumir esta posição: "O Governo português teve uma oportunidade única na presidência do Conselho Europeu, de fazer a diferença, e desperdiçou-a."

Marisa Matias considera que a Tutela portuguesa "decidiu mais uma vez obedecer e colocar a saúde pública e colocar a saúde pública em segundo lugar, decidiu mais uma vez ser bom aluno".

"A marca que vai ser deixada pelo Governo português nesta presidência é do isolamento da União Europeia em relação ao levantamento das patentes. É a marca de quem não quer fazer a diferença, e, sobretudo, de quem não quer lutar pelo interesse comum."

A eurodeputada salientou que o "direito humanitário" tem de estar "acima do direito ao lucro", e que a União Europeia não pode permitir que "nem os preços, nem as quantidades" sejam determinados pelos grupos financeiros. Marisa Matias disse mesmo que impedir o levantamento das patentes é mais do que "uma falta moral; é um profundo erro político".

"A UE favoreceu a transformação de uma pandemia numa máquina de criar lucros", criticou ainda, expondo que, no último ano, o Executivo comunitário reuniu 140 vezes com o "lobby" farmacêutico e "apenas uma vez" com uma ONG.

Marisa Matias endereçou ainda algumas palavras acerca da perceção de que apenas a iniciativa privada tem estado envolvida na produção de vacinas, referindo que houve também "investimentos públicos massivos".

Na perspetiva da antiga candidata à Presidência da República, os mecanismos criados para distribuir vacinas não são suficientes "para responder a uma pandemia global": o programa Covax não é suficiente, é, em vez disso, "um instrumento de caridade que apenas alberga as sobras dos países ricos".

Marisa Matias aproveitou o seu discurso sobretudo para apelar à quebra das patentes, já que "centenas de milhões de pessoas são privadas de vacinas por dia" e há muitas mortes que poderiam ser evitadas. "Os países ricos receberam 80 vezes mais vacinas do que os países em desenvolvimento", lamentou.

"O PS tem de deixar jogo de malabarismo"

Antes de Marisa Matias, também o deputado Moisés Ferreira tinha lançado duras críticas ao Executivo socialista, considerando que o Governo alinhou com os países fortes e ricos contra o levantamento das patentes.

Moisés Ferreira criticou Costa, que falou em fortalecer a cooperação internacional, mas se "recusa" a defender o levantamento das patentes. "Não se pode ficar em cima do muro no meio de uma pandemia", atirou. "O PS tem de deixar jogo de malabarismo", comentou ainda o deputado. Para o deputado, é urgente deixar de se "servir os interesses da Alemanha, da França".

"Aumentar a produção é levantar as patentes", reforçou o bloquista que tem estado muito envolvido nas questões de saúde, sobretudo durante a pandemia.

Numa referência aos valores líquidos dos lucros obtidos pelas farmacêuticas no primeiro trimestre, Moisés Ferreira argumentou que a União não pode ser instrumentalizada pelos interesses da indústria farmacêutica, que, por sua vez, não pode "continuar a ganhar muito dinheiro com esta pandemia". Trata-se de uma "guerra entre as farmacêuticas e os direitos dos povos", vaticinou.

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