À terceira será de vez? Eutanásia volta ao Parlamento sem referir "doença fatal", apesar do aviso de Marcelo

Na justificação do veto político, Marcelo Rebelo de Sousa falava "numa solução radical" caso se optasse por deixar cair o critério de "doença fatal".

Depois de dois vetos à despenalização da eutanásia, aprovada já por duas vezes na Assembleia da República (AR), os deputados vão a uma terceira tentativa, retirando das propostas a condição de "doença fatal" para a morte medicamente assistida. Há quatro documentos em cima da mesa, do PS, Iniciativa Liberal (IL), Bloco de Esquerda (BE) e PAN, além de um projeto de resolução do Chega que propõe um referendo para que sejam os portugueses, nas urnas, a decidir sobre o tema.

Em janeiro de 2021, em votação final global, os deputados aprovaram pela primeira vez um projeto de lei para despenalizar a eutanásia, que seguiu para Belém, mas não passou no crivo do Tribunal Constitucional (TC). Os juízes do Palácio Ratton analisaram o documento, a pedido de Marcelo Rebelo de Sousa, e consideraram "imprecisas" as condições para a eutanásia, com expressões como "lesão definitiva de gravidade extrema".

Devolvido à Assembleia da República, em novembro do ano passado, uma nova tentativa que pretendia responder às dúvidas dos juízes: "Por decisão da própria pessoa (...) com lesão definitiva de gravidade extrema ou doença incurável e fatal".

Marcelo Rebelo de Sousa vetou a proposta, na véspera da dissolução do Parlamento, pedindo uma clarificação "ao que parecem ser contradições no diploma quanto a uma das causas do recurso à morte medicamente assistida", e falando "numa solução radical" caso se opte por deixar cair o conceito de "doença fatal".

"Corresponde tal visão mais radical ou drástica ao sentimento dominante na sociedade portuguesa?", questionava o Presidente.

Passando ao lado dos reparos do chefe de Estado, o PS, assim como o BE e a IL, apresentam uma proposta onde se faz uso apenas dos conceitos "doença grave e incurável" ou "lesão definitiva de gravidade extrema", sem mencionar "doença fatal".

"Os equívocos formais ficam, pois, desfeitos com a uniformização em todos os preceitos do conceito de doença grave e incurável, aproveitando-se para empregar uniformemente, também, o conceito de morte medicamente assistida", lê-se no documento dos socialistas.

Já o PAN aponta dois critérios para a eutanásia, estendendo as condições, já que fala em "doença grave ou incurável" e "lesão definitiva de gravidade extrema".

Além dos critérios, os liberais apresentam mais alterações em relação à proposta que saiu do Parlamento em novembro. A IL defende que, depois do parecer favorável do médico orientador, um especialista na patologia do doente deve confirmar se estão reunidas as condições para a eutanásia, sendo selecionado de "forma sequencial, de entre uma lista de médicos especialistas na patologia que afeta o doente, que manifestem interesse em integrar essa lista, elaborada pela Ordem dos Médicos".

Os liberais pedem ainda que entre o agendamento da eutanásia e a real "administração dos fármacos letais" decorra um período de reflexão, "não inferior a dois dias" com o acompanhamento obrigatório de psicólogos.

As propostas vão ser votadas na fase de generalidade, com o PS e o PSD a darem, mais uma vez, liberdade de voto aos deputados, assim como a Iniciativa Liberal. Só o Chega e o PCP são contra, com as restantes bancadas e deputados-únicos a defenderem a despenalização.

Marcelo Rebelo de Sousa ainda não anunciou o que fará com o documento, dizendo apenas que "vai decidir rapidamente" quando a versão final chegar a Belém. Em cima da mesa estão três opções: promulgar, vetar ou pedir um parecer ao TC.

Se as propostas forem aprovadas na generalidade, seguem para a fase de especialidade, antes da votação final global. Em novembro do ano passado, o documento final foi aprovado com 138 votos a favor, 84 contra e cinco abstenções.

O Chega, por outro lado, pede um referendo à eutanásia "no mais curto espaço de tempo possível", argumentando que "os deputados não estão mandatos para votar sobre esta matéria".

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