A tragicomédia de Berardo no Parlamento num minuto

A prestação do empresário madeirense na Comissão Parlamentar de Inquérito à Caixa deu-lhe acesso direto à campanha eleitoral. Tornou-se tema central e conseguiu, na crítica, uma rara unanimidade entre instituições e candidatos das diferentes forças políticas.

Quase em simultâneo, Presidente da República - depois de um longo jejum de palavra de 10 dias - e o primeiro-ministro comentavam, em tom muito crítico, a prestação de Joe Berardo no Parlamento, na passada sexta-feira. Marcelo optou por falar de responsabilidade - dizendo que ela é "maior quanto maior for o relevo de quem desempenhou ou desempenha posições de destaque na vida portuguesa". António Costa, em pleno debate quinzenal, declarou que o país ficou "seguramente chocado com o desplante" do empresário.

Um e outro referiram-se à audição em que Berardo esgotou as perguntas e a surpresa dos deputados , a 10 de maio.

Estas declarações demoraram menos de 72 horas a chegar a tema central da campanha eleitoral que está na rua - e os candidatos não perderam a oportunidade.

Num comício na noite desta segunda-feira, em Santa Maria da Feira, Paulo Rangel lembrou aos eleitores "Nós não queremos mais 'Berardos'", mas fez questão de destacar que personalidades como o comendador existiram em Portugal "para que a Caixa Geral de Depósitos assaltasse o BCP, e a Caixa e o BCP ficassem nas mãos de gente próxima do Governo socialista de José Sócrates".

"É que Berardo não caiu do céu, Joe Berardo não é uma invenção de si próprio. É uma invenção de uma conjuntura político-económica em que havia um governo que queria controlar a banca e o usou a ele", acusou o candidato social-democrata.

Em Coimbra, Nuno Melo também não resistiu e recorreu à memória para citar declarações de Joe Berardo, no ano de 2007: "Portugal precisa de um primeiro-ministro como José Sócrates para dar uma reviravolta ao país" ou "Sócrates tentou fazer alguma coisa pelo país, mas foi crucificado." O candidato dos centristas destacou passar a ironia: "Que diríamos nós que pagamos 350 milhões de dívida enquanto Joe Berardo no Parlamento, sorri, [e] diz que não deve nada a ninguém".

Jerónimo de Sousa também afinou pelo mesmo diapasão. Do "escândalo" da "desfaçatez" de Berardo, à promiscuidade entre poder político e poder económico, o secretário-geral do PCP não hesitou no diagnóstico do caso Berardo: "Mais não é do que a ponta do icebergue que esconde esse problema maior que mina a sociedade portuguesa e tem origem na promiscuidade entre poder político e poder económico, com o que significa de lastro para a corrupção e justificação para drenar milhares de milhões para a banca e seus negócios obscuros".

Já antes, a cabeça de lista do BE às eleições europeias, Marisa Matias, considerara o riso do empresário Joe Berardo ao ser confrontado com a "sua delinquência financeira, o melhor retrato da elite medíocre e parasitária".

O empresário madeirense está no olho do furacão do escândalo dos grandes devedores da CGD, pelo incumprimento nos elevados empréstimos que lhe concedeu o banco público.

Segundo a auditoria da EY à gestão da CGD entre 2000 e 2015, o banco público tinha neste último ano uma exposição a entidades de Joe Berardo (Metalgest e Fundação Berardo) na ordem dos 321 milhões de euros.

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