A viver as últimas horas enquanto líder da Iniciativa Liberal, João Cotrim Figueiredo revelou em entrevista à TSF as portas que se vê a atravessar no futuro: as do Parlamento Europeu, em Estrasburgo, não o cativam, a de Belém não está fechada, mas as eleições são só em 2026 e a que leva à vice-presidência da Assembleia da República, embora já falhada, ainda lhe levanta muitas questões.
Por si, Estrasburgo não
Desafiado a olhar para o seu futuro, e já depois de ter garantido que se mantém em funções como deputado - sendo que ainda é cedo para saber se o é até ao fim da atual legislatura -, começou por afastar uma viagem europeia.
"Se depender exclusivamente de mim, eu não quero ser deputado europeu", lançou desde logo numa resposta em que não quis deixar dúvidas. O problema é a distância "ainda maior" do que a que já sente no parlamento nacional.
"No Parlamento europeu é ainda maior a distância entre o trabalho parlamentar e a obra feita", confesso, "e eu gosto de ver que o esforço e a ação política que fazemos têm impactos concretos, que muda qualquer coisa".
Se em Portugal, revela, a ação, "sendo importante", não é "suficientemente concreta" para o seu gosto, e tem essa sensação, "no Parlamento europeu "teria ainda mais".
A esta falta de "sonho e de vocação", juntam-se as "provas dadas" de que não é homem para perseguir "cargos e mordomias". Ainda assim, admite, não pode "ignorar" o papel que teve no partido e no seu crescimento, pelo que se a IL "precisar" dos seus préstimos para a "causa liberal", não quer condicionar desde já o próximo presidente.
Belém talvez
E Belém? A resposta começa pelo relógio, já que "falta muito tempo" até às próximas presidenciais, algo que torna, ao mesmo tempo, a resposta mais fácil e mais difícil.
Mais fácil porque o tempo que ainda falta "torna mais possível imaginar um cenário" em que não tem hipóteses de ser eleito Presidente da República. Ou seja, "só teria de fazer campanha" e não de se imaginar durante cinco anos em Belém. "Coisa que aliás me assustaria fortemente", confessa até.
Sem medo de uma campanha, o passar do tempo trará, por outro lado, uma realidade inevitável: o passar do tempo. "Terei mais idade, não sei se menos disponibilidade física ou outra coisa qualquer", confessa, sublinhando já ter 61 anos, apesar de muita gente achar que "é mais novo".
Entreaberta ou não esta porta, acredita que há candidatos "melhores" do que o próprio "de certeza". Quais é que ainda não sabe.
E vice da AR para quê?
Resta explorar outro cargo, o de vice-presidente da Assembleia da República, eleição que já falhou em maio e que, a seu ver, levantou mais perguntas do que respostas. E até tudo ser esclarecido, a resposta à pergunta sobre se volta a candidatar-se é, "enquanto não for esclarecido politicamente o que se passou, não".
Aquando da eleição, assinala, "houve 30, ou 40, ou 50 deputados do PS, ninguém sabe, ou 30, ou 40, ou 50 deputados do PSD" que votaram contra a sua candidatura. Desde aí, "todas as pessoas" que se pronunciaram, de um e de outro partido, disseram-lhe que votaram em si e tiveram "muita pena" do resultado.
Agora, Cotrim ainda espera para saber porque é que "30, ou 40, ou 50 deputados do PS acharam que a IL era igual ao Chega", prova, diz, de que "há uma ala do PS que é tão extremista que os liberais, com o seu passado e prática política em Portugal, são comparáveis ao Chega".
À procura de respostas, Cotrim desafia a que sejam ouvidos os deputados do PS sobre esse posicionamento político. Já em relação ao PSD, pergunta aos deputados sociais-democratas se foi "por birra" que o chumbaram, já que a eleição aconteceu depois da crispação da discussão de lugares no hemiciclo.
"Enquanto essas duas coisas não estiverem esclarecidas, eu, em minha opinião, se continuasse a ser presidente do partido ou tivesse responsabilidades parlamentares, não voltaria a apresentar um candidato à vice-presidência", garante, criticando também o voto secreto. "É uma coisa muito bonita, mas deviam ser responsabilizados os deputados."
Em relação ao cargo de vice-presidente e ao seu papel e peso político, este também não atrai especialmente Cotrim: apesar do "estatuto e visibilidade" que traz, "é uma responsabilidade muito mais do que um direito".
Não estando a IL na vida política "para cargos" - e respeitando o partido o direito de nomear um vice -, "se não nos querem, até nos fazem um favor".
"Qual é relevância? Fazemos melhor trabalho político? Aparecíamos na fotografia mais bonitos? Não, não é o nosso estilo." É uma porta fechada à chave.