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A promessa é feita entre sorrisos, mas é bem séria. "Vamos ser muito aborrecidos, mas vamos falar muito de habitação", diz Catarina Martins no final da Mesa Nacional do Bloco de Esquerda e a razão é o facto de este ser um problema "transversal" no território e que "abrange todas as classes sociais" e sobre o qual o governo tem tido uma "política ruinosa".
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Com promessas à vista já para breve da parte do governo com um novo pacote legislativo, Catarina Martins desconfia do sucesso das medidas pensadas pelo governo. Sabe-se pouco, para já, o primeiro-ministro apenas falou em alterações à lei dos solos e benefícios fiscais para estimular a construção, mas desde logo, a coordenadora do Bloco não deixa de ser crítica.
Ouça a reportagem da TSF.
"Seguramente, há zonas de Portugal em que é preciso construção, não duvidamos disso. Mas é preciso construção para habitação a preços que as pessoas possam pagar. Nós todos olhamos para a nova construção que está a aparecer em várias zonas do território e ela está a aparecer para os segmentos de luxo e, portanto, se houver benefícios fiscais para nova construção para os segmentos de luxo, não se resolve o problema da habitação", introduz a bloquista.
Para a líder do partido há um olhar que tem de ser dado ao imobiliário vazio que existe nas cidades porque, diz, há "muitas casas que não estão a ser usadas para habitação e que ficam vazias em movimentos especulativos sucessivos, que vão sendo vendidas e revendidas e nunca ninguém as habita". Daí, tira a conclusão de que "estar a fazer nova construção sem obrigar as casas desabitadas a entrarem no mercado de arrendamento e a poderem ser habitação também não resolve o problema".
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Além disso, Catarina Martins lembra que o paradigma hoje é diferente e é necessário ter em atenção a questão climática: "Construir mais pode criar ainda mais problemas do ponto de vista ambiental, precisamos de ter respostas para os tempos que vivemos".
Por isso mesmo, a coordenadora do Bloco realça que o partido vai estar não só nas mobilizações populares de norte a sul sobre este tema, mas também com maior atividade legislativa sobre este ponto, realçando a proposta a que deram entrada há pouco tempo para proibir a venda de casas a não-residentes em território nacional.
Em termos mais latos, sobre as mobilizações e contestação nas ruas que tem vindo a subir, Catarina Martins também não perdeu a oportunidade, seja para criticar o governo, seja para criticar a direita, e manifestando a responsabilidade que a esquerda tem em estar na linha da frente.
Desde logo, realça que "o governo não está a responder à inflação, não está a responder pelo salário, pela habitação, pelos serviços públicos" e que, ao mesmo tempo, "a direita cavalga os casos, que são reais e problemas do governo, mas para não falar das alternativas".
"A direita não tem nenhuma resposta à habitação porque nunca limitará a especulação imobiliária, a direita não tem nenhuma resposta para os professores, como já se percebeu, acha que é preciso responder às reivindicações, mas contar o tempo de serviço nem pensar", critica Catarina Martins frisando que "as mobilizações populares são, de facto, mobilizações que não são sobre a espuma dos dias".
E por não serem espuma dos dias, estão também no primeiro parágrafo da resolução política do partido aprovada hoje: "As semanas que se seguirão a esta reunião são o tempo decisivo de uma alteração de fundo na situação política, uma alteração que responsabiliza o Bloco de Esquerda: a entrada em cena da luta popular".