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João Gonçalves Pereira, antigo autarca do CDS em Lisboa, reage aos resultados autárquicos do partido com a preocupação também manifestada por Adolfo Mesquita Nunes. O antigo vereador da maior Câmara do país exige uma "clarificação da estratégia, sob pena de estarmos perante uma possível fusão com o PSD, que pode ser uma via, pode ser um caminho, mas isso tem de ser claro para o partido e merece uma discussão".
O deputado centrista questiona "se esta direção quer transformar o CDS numa espécie de Verdes, como assistimos com o Partido Comunista", depois de os resultados das autárquicas terem apontado o êxito em casos de coligação, mas uma falta de consistência quando o CDS-PP se apresenta de forma independente. É uma matéria que "merece uma discussão interna", reconhece João Gonçalves Pereira, em entrevista, conduzida por Fernando Alves, na Manhã TSF.
Uma fusão com o PSD "teria necessariamente custos", e, sob a perspetiva do antigo autarca, "é um enorme erro", mas, recorrendo à história mais recente, lembra: "Houve uma frente de direita que retirou o Partido Socialista e a esquerda do poder, com estratégias absolutamente claras. O CDS foi a votos sozinho, com as suas bandeiras, com as suas propostas, segurou o seu eleitorado." O PSD também o fez, e depois as duas forças políticas uniram esforços, e criaram uma frente de direita.
"O que se depreende - e isso é preocupante quando se analisa os resultados eleitorais, como disse Adolfo Mesquita Nunes - é que o CDS, quando vai sozinho, tem um resultado manifestamente preocupante", vincou João Gonçalves Pereira.
Ouça a entrevista de Fernando Alves com João Gonçalves Pereira.
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Adolfo Mesquita Nunes deixa um alerta: "Para retirar a esquerda do poder, é preciso mais do que a junção de dois partidos." Depois de o CDS-PP ter obtido resultados aquém dos que esperava, o centrista sugeriu, em entrevista à SIC Notícias, que o partido faça uma reflexão interna.
O antigo vice-presidente da força política entende que o CDS teve um mau resultado eleitoral nos municípios onde concorreu sozinho, ficando mesmo no fim da tabela. "Quando o CDS vai sozinho, em capitais de distrito, e fica atrás do Chega - o Chega teve como pontuação ou como votação global 4,16%; o CDS teve 1,41 -, mas não é só nas capitais de distrito... Nas zonas urbanas como Loures, Póvoa do Varzim, Seixal, Barreiro, Sesimbra, Paços de Ferreira, Felgueiras, Oeiras, o CDS ficou atrás do Chega."
O Chega e a Iniciativa Liberal estão "a ganhar estrutura, a crescer, a implantar-se", ao contrário do que acontece com o CDS-PP, defende Mesquita Nunes, que nota que, "quando vai sozinho", o partido está "no fim da tabela autárquica". Nos sítios em que não houve coligação, houve "um mau resultado", o que leva Mesquita Nunes a considerar que o CDS deve pensar bem no que aconteceu: "É preciso fazer uma reflexão sobre o que estes resultados nos dizem. Estamos em condições de saber se o CDS vale, existe no terreno, se não for coligado com o PSD?"
A discussão que deve ser feita internamente é "qual é a estratégia do CDS e a que preço está disposto a dissolver-se em nome de uma frente que possa combater a esquerda", o que o antigo vice-presidente do partido diz ser "necessário" mas "longe" de se concretizar. É nesse momento que se explica: "Para retirar a esquerda do poder, é preciso mais do que a junção de dois partidos. É preciso liderança, mas é preciso programa. Em primeiro lugar, o CDS tem de ter ideias. E depois, para ser útil e para as conseguir concretizar, ele tem de ser forte por si próprio."
Esta leitura apresentada por Mesquita Nunes vem contrariar a que o presidente do CDS fez na noite das revelações de resultados das autárquicas, que, na perspetiva de João Gonçalves Pereira, "dá a entender que quer um acordo pré-eleitoral com o PSD". Essa clarificação deve ser feita e estratégia deve ser colocada em cima da mesa, exorta.