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Mais de cinquenta pessoas estiveram esta quinta-feira, ao final do dia, no Instituto Universitário de Justiça e Paz de Coimbra, para debater um mito: a incompatibilidade entre comunismo e cristianismo, em concreto o catolicismo.
Militantes, ou não, do Partido Comunista Português (PCP) ouviram argumentos de como é possível ser-se cristão e comunista ao mesmo tempo, de onde veio este estigma que perdura até hoje.
Foi no público que a TSF encontrou a resposta para a possível compatibilidade: o amor. Sim, o amor que comunistas e católicos têm pela igualdade, por uma sociedade mais horizontal e pelos mais fracos e pelos mais pobres.
Cruzar Comunismo, Igreja e Catolicismo é para uns uma relação incompatível. Para muitos, os que são comunistas, cristãos e católicos, é apenas um mito.
Manuela Pinto, que coordenou em Coimbra o encontro que juntou mais de cinquenta pessoas no Instituto Universitário de Justiça e Paz para debater o assunto, nos tempos que correm, a questão da incompatibilidade já nem devia ser colocada.
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Mas se ser católico e comunista é compatível, então de onde surgiu esta ideia de incompatibilidade? Dos tempos da ditadura do Estado Novo, quando "houve uma perseguição aos comunistas e uma campanha anticomunista dirigida aos católicos". Conta que há mesmo relatos de pessoas de pequenas aldeias que "por serem comunistas e católicos tiveram de fugir".
Ouça a reportagem da TSF
A juntar à realidade portuguesa, para alimentar o mito contribuiu também o contexto internacional, pois "houve países em que os religiosos não tinham acesso aos partidos comunistas, mas a verdade é que o PCP nunca foi nessa linha e teve uma posição singular no contexto internacional", explica.
Aliás, Álvaro Cunhal, logo em 1943, começou a desmistificar o assunto quando escreveu "A mão estendida aos católicos", texto que fez parte do Informe do Comité Central do PCP que saiu do III Congresso.
Sérgio Dias Branco, professor na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e autor do livro "O Trabalho das Imagens - Estudos sobre cinema e marxismo", testemunhou na primeira pessoa como a aproximação ao comunismo e ao cristianismo pode até acontecer em simultâneo. "Esta aproximação foi paralela e convergente", quando estava a tirar o doutoramento em Londres. "Há uma posição [em Marx] de que a religião pode ser o ópio do povo", mas este chavão deve ser remetido para a época de Marx.
Para os que ainda têm dúvidas, o também membro da direção do Partido Comunista em Coimbra, avança na explicação como se houve na reportagem áudio. Há aquilo a que se pode chamar de "comunismo cristão".
À saída, já na rua da Couraça de Lisboa, interpelamos Diogo Curto, militante da Juventude Comunista, para o questionar sobre os motivos que levaram um jovem de 18 anos a participar na sessão. Na ligação do comunismo e do cristianismo, Diogo Curto vê até uma união amorosa, "na defesa do ponto de vista dos oprimidos, no aproximar ao povo, aos cidadãos e às pessoas", aquilo que "acaba por ser mais importante, o amor pelo próximo".
O amor é a mesma palavra que escolhe Miguel Urbano. Embora para ele, na relação oprimido-opressor, o oprimido não seja sempre um santo. "A ideia de revolução, de luta, a ideia de opressor e oprimido existe porque há pecado. Um católico quando combate um opressor tem de perceber que está ali um irmão em pecado, até porque o oprimido também não é nenhum santo", afirma.
Edgar Silva, do Comité Central, esteve à distância, impedido de levantar voo da ilha da Madeira para o continente por causa dos ventos fortes, soprou bem alto que ser católico não implica uma posição política: explorados e exploradores são católicos, como são católicos patrões e operários.