- Comentar
Paulo Rangel, vice-presidente do PSD, considera que ministro dos Negócios Estrangeiros "está ferido" na "credibilidade e autoridade política" e exige um cabal esclarecimento no caso da derrapagem de mais de 1,8 milhões de euros nas obras do antigo Hospital Militar de Belém, denunciadas em 2021 pela TSF e que voltou às notícias esta semana.
Relacionados
Marcelo insiste que questionário se aplica a atuais governantes e apoia-se em casos com ministros
"Se soubesse o que sei hoje não teria nomeado ex-diretor para empresa pública"
PS recusa comentar caso que envolve Cravinho: "Nada a acrescentar"
O jornal Expresso noticiou esta sexta-feira que o ex-ministro da Defesa e atual ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, foi informado em março de 2020 de que o custo das obras no antigo Hospital Militar de Belém estava a derrapar. Segundo o semanário, que cita um ofício de março de 2020, com as obras já a decorrer, o diretor-geral de Recursos de Defesa Nacional (DGRDN), Alberto Coelho, - hoje arguido por corrupção e branqueamento na Operação Tempestade Perfeita -, informou o ministro sobre "trabalhos adicionais" que já somavam quase um milhão de euros extra.
"O PSD considera altamente preocupantes as revelações feitas ontem pelo jornal Expresso a propósito do escândalo da derrapagem das contas das obras do hospital militar de Belém. Obras para que se estimava um custo de 750.000 euros e que, como se sabe, triplicaram de valor alçando ao valor de 3200.000 de euros", afirmou o social-democrata em conferência de imprensa a partir da sede do PSD no Porto.
"As revelações de ontem do semanário Expresso põem em causa as informações que o ex-ministro da Defesa Nacional João Gomes Cravinho fez na Assembleia da República. A gravidade destas revelações é, aliás, exponencial da pela circunstância do ex-ministro da Defesa ser agora Ministro dos Negócios Estrangeiros, contaminando também a sua autoridade e credibilidade política à frente da nossa diplomacia", considera Paulo Rangel.
O "conhecimento de uma derrapagem colossal pelo ministro mostra que ela nada fez para evitar para travar, para impedir e, portanto, que se conformou com essa derrapagem orçamental escandalosa", condena.
Subscrever newsletter
Subscreva a nossa newsletter e tenha as notícias no seu e-mail todos os dias
Questionado se o PSD iria pedir a demissão do ministro João Cravinho, o social-democrata afirmou que cabe ao primeiro-ministro, António Costa, "fazer esse juízo" e "assumir as responsabilidades".
"O senhor ministro dos Negócios Estrangeiros, por causa deste escândalo na Defesa que ele tinha conhecimento, e o senhor ministro das Finanças, por causa já da questão da indemnização de Alexandra Reis e agora por todas as questões que estão ligadas à situação do seu mandato na Câmara de Lisboa, estão muito condicionados politicamente. Estão fragilizados politicamente, mas cabe ao senhor primeiro-ministro fazer o juízo sobre que condições é que acha que dois ministros fundamentais do seu Governo têm para continuar", afirma Rangel.
"O respeito devido às nossas Forças Armadas, aos nossos militares, ao seu prestígio, à sua reputação exige um esclarecimento imediato. Porque ocultou o Ministro o conhecimento do ofício número 486? Porque o ignorou? O que o levou a pactuar com a derrapagem do valor das obras no hospital militar de Belém? O que levou a dar nova vida e novo alento ao principal protagonista deste escândalo, quando o escândalo era já conhecido?", questiona.
E acusa: "O Governo está ocupado a gerir a sua sobrevivência, está ocupado a lamber as suas próprias feridas. Diante da decomposição progressiva do governo e da sua autoridade."
Segundo uma auditoria da Inspeção-Geral da Defesa Nacional - a que TSF teve acesso em abril de 2021 - as obras para a construção do Centro de Apoio Militar Covid-19 do Hospital Militar de Belém, em Lisboa, custaram quase 2.6 milhões de euros - três vezes mais do que o previsto (750 mil euros).
Paulo Rangel criticou ainda o antigo ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, que "afinal sabia da indemnização de Alexandra Reis".
"Mas pasme-se, tinha-se esquecido de que sabia e de que autorizou, como se uma decisão desse tipo não tivesse de ser conversada com o seu secretário de Estado e chefe de gabinete, que também sabiam. Nada foi conversado, discutido, tudo se evaporou numa mensagem de 'Whastapp' entretanto redescoberta e ressuscitada", referiu.
As críticas do social-democrata estenderam-se também ao ministro das Finanças, Fernando Medina, que, disse, "voltou ao seu mantra político habitual" de que "tudo desconhece, nada sabe, está a leste de tudo o que se passa nos cargos públicos que teve de ocupar".