"Até foi pacífico." Rio ouviu o que não queria mas tem as listas e o programa aprovado

18 votos contra, 10 abstenções e 80 a favor. Listas do PSD aprovadas numa noite em que as críticas foram duras, mas o "equilíbrio" falou mais alto.

"Até foi pacífico." É esta a frase que sai do Conselho Nacional do PSD onde foram aprovadas as listas e o programa do partido para as próximas legislativas. A consideração é de um sorridente Rui Rio que ouviu (sobretudo) o que não queria da boca de várias figuras do PSD . No fim, venceu o "equilíbrio".

"É um bom resultado, já vi muitos processos destes ao longo da minha vida política, processos muito mais turbulentos do que este", afirma Rui Rio aos jornalistas no fim da reunião que terminou já de madrugada. Mais direto não podia ser, é a forma que Rui Rio encontrou de desvalorizar as críticas que lhe foram apontadas.

Mais: é a prova de que as pessoas se reveem. "É uma vitória para o PSD, é uma vitória termos conseguido fazer um equilíbrio onde as pessoas se reveem. Não há saneamentos selvagens, não são privilegiados os amigos, há o equilíbrio possível dentro do partido", nota o presidente do PSD que chegou à reunião já com a certeza de que teria votos contra as listas de candidatos a deputados. Até porque, "quando se trata de pessoas, é sempre difícil gerir".

E a digestão que fez das críticas, sobretudo as de Hugo Soares, ficará no segredo dos deuses. Depois de várias intervenções, Rui Rio não se pronunciou, logo também não o faria aos microfones dos jornalistas.

O diabo é que é culpado disto tudo. Ou não?

Mas nem tudo correu mal ao presidente do PSD que nesta noite teve um reforço que outrora talvez não tivesse: Luís Filipe Meneses.

O antigo presidente social-democrata, na semana passada, já tinha saído em defesa de Rui Rio aqui na TSF . Neste Conselho Nacional, fê-lo perante os conselheiros e em declarações aos jornalistas.

"Se tivéssemos continuado com o diabo, estaríamos num patamar mais abaixo do que este ou não? Em meu entender, estaríamos". Pergunta e resposta deixadas por Luís Filipe Meneses à saída do Conselho Nacional, numa clara referência à expressão de Pedro Passos Coelho.

À porta fechada, estabeleceu como meta "um resultado honroso nas eleições" e sublinhou que o partido deve estar "honrado do passado", mas que deve reconhecer que foram cometidos alguns erros que ainda estão a ser pagos. Já na rua, Meneses defende que "não foi Rui Rio que construiu este patamar negativo para começar esta corrida".

"Este patamar que começamos a subir, este patamar íngreme, não foi construído por Rui Rio. Ainda há pouco via dois ou três jornais de junho de 2017, a meio da legislatura, e os títulos eram: 'PSD e CDS batem no fundo nas sondagens'", sublinha.

"O PSD não vai ter o pior resultado de sempre", afiança ainda Meneses que fugiu a números concretos do que é que significa um "resultado honroso", mas não fugiu à turbulência interna no partido, nomeadamente a questão da união que seria necessária numa altura destas. "Há muitas formas de unir. Tem de se unir quem quer estar do nosso lado, não podemos unir quem anda 3, 4 ou 5 meses a fazer-nos a vida negra", adianta o antigo presidente do PSD.

Questionado se a lealdade é mais importante do que a competência, Meneses responde que, "às vezes, talvez...". Acrescenta ainda que "Mussolini era super competente, mas era um fascista".

Outubro ao virar da esquina

Com as eleições a pouco mais de dois meses, este Conselho Nacional aprovou o programa (que tem vindo a ser apresentado setorialmente pelo presidente do partido) e os nomes dos candidatos a deputados. Na longa lista de nomes, estão "151 mulheres e 179 homens", como fez questão de explicar o secretário-geral, José Silvano, antes do início da reunião.

De acordo as contas feitas pela agência Lusa, são 39 os atuais deputados que voltam a fazer parte das listas, embora alguns deles não estejam em lugares, à partida, elegíveis. É uma renovação e não uma limpeza, como várias vezes a direção do partido fez questão de frisar. Nesta noite, não foi exceção: "as listas aprovadas pela Comissão Política Nacional apresentam uma vontade de renovação, não só nos cabeças de lista, mas no conjunto global das listas", diz José Silvano.

E da lista agora aprovada há três nomes que podem vir a dar que falar ou a causar uma dor de cabeça extra ao presidente do partido.

Emília Cerqueira, número dois por Viana do Castelo, foi recentemente constituída arguida no caso das falsas presenças no plenário da Assembleia da República. No círculo de Braga há outros dois nomes: Carlos Reis e Rui Silva. O primeiro foi envolvido na operação tutti-frutti, num processo sobre adjudicações entre empresas e autarquias; já Rui Silva foi acusado num processo em que estão em causa vários crimes de corrupção, participação económica em negócio e abuso de poder.

No entanto a regra de ouro de Rui Rio prevalece. Em entrevista ao Observador, o presidente do partido sublinhou que "os candidatos do PSD vão todos assinar - porque se não assinarem não serão candidatos pelo PSD - um compromisso de que se tiverem uma qualquer sentença em primeira instância, por via do crime cometido, automaticamente suspendem o cargo. E se houver trânsito em julgado, demitem-se".

Nota ainda para o facto de, da atual comissão política permanente, apenas três nomes seguirem nas listas: Rui Rio, José Silvano e Isabel Meirelles.

Em resumo: nomes e programa aprovados e Rio escapou com vida ao rol de críticas. Não lhes deu resposta, desvalorizou, segue em frente. Agora, fica no ar a pergunta: como vai ser a campanha eleitoral?

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