"Estão a virar-se contra o presidente do partido por causa de tachinhos"

Luís Filipe Menezes sai em defesa do outrora "inimigo" e ataca os críticos internos. Antigo presidente do PSD sublinha que Rui Rio "herdou um partido destruído" e aponta aos críticos: "Deviam ter todos juízo e dar provas primeiro".

"Porque é que se estão a virar contra o presidente do partido? Por aquilo que tenho lido, é por causa de lugarzinhos, não é?", questiona Luís Filipe Menezes que sai em defesa de Rui Rio num momento de forte turbulência interna no PSD.

O antigo presidente social-democrata aceitou de forma "humilde" ser o primeiro dos suplentes na lista do Porto às legislativas de outubro, numa "atitude de solidariedade partidária". Questionado se é uma forma de dar o exemplo perante os episódios das listas das últimas semanas, Luís Filipe Menezes diz que não tem nada que ver com exemplos. Mas, ainda assim, não poupa nas palavras.

"Tachinhos. Estão a virar-se contra o presidente do partido por causa de tachinhos!", diz à TSF o antigo presidente da Câmara de Gaia. "Estão a virar-se por causa das ideias dele para o Serviço Nacional de Saúde? Por causa das ideias dele para a educação? Por causa das ideias dele para a reforma do sistema político? Isso aí, tirava-lhes o chapéu! Não... É porque o primo ou a prima não têm lugar, não têm um tachinho", critica.

Sublinhando que não seguiria o mesmo caminho que Rui Rio, diz compreende-lo e escuda-se nos estatutos do PSD. "Rui Rio está a seguir o seu caminho, não é o que eu seguiria, não é o meu estilo, mas eu compreendo-o. A partir do momento em que cumpra os estatutos do partido e as pessoas que sejam indicadas, sejam de acordo com os estatutos do partido, não há nada a dizer. Os estatutos do partido dizem quem tem poder de decisão, em última instância, quem tem poder de decisão é o Conselho Nacional. Se o Conselho Nacional aprovar listas, elas são legitimadas. Ficam umas pessoas mal dispostas? Paciência!", nota Menezes.

A herança destruída

O antigo presidente social-democrata recua ao século XX para uma análise histórica. "Desde o final do século passado, o PSD enfrentou três vezes um Partido Socialista muito fortalecido. Na segunda candidatura de Guterres, em 1999, na segunda candidatura de Sócrates, em 2009, e agora", começa por dizer.

"Uma vez o candidato era Durão Barroso, da outra vez o candidato era Manuela Ferreira Leite e agora Rui Rio. Uma diferença substancial das outras duas vezes: o PSD era maioritário no poder local e dominava o tecido urbano nacional desde Valença a Sagres. Era maioritário na Área Metropolitana do Porto e era equitativo na Área Metropolitana de Lisboa. Hoje tem 40 e tal câmaras nos meios rurais. Portanto, estar a crucificar Rui Rio...", continua sem completar o raciocínio como quem iliba o atual presidente do PSD.

E iliba mesmo. "Rui Rio teve um ano e meio que se pode julgar, mas Rui Rio herda um partido destruído. Herda um partido destruído. Eu gostava que algum dos putativos candidatos alternativos à liderança do PSD dissesse que neste momento estaria em condições de ganhar eleições ao PS", afirma.

"Rui Rio tem cometido erros, Rui Rio não tem sido perfeito, Rui Rio não é a Madre Teresa de Calcutá. Aliás, quem disse que ele era a Madre Teresa de Calcutá foi uma parte substancial da comunicação social durante 10 anos. Ele era a Madre Teresa de Calcutá e eu era o Robin dos Bosques. Mas Rui Rio tem qualidades, ganhou três vezes a Câmara do Porto, tem experiência política de muitos anos, foi um bom parlamentar. Agora, herdou um partido destruído, ponto final", nota Menezes que não esquece também a liderança de Pedro Passos Coelho.

"Já nem vou falar dos anos da troika que foram anos manifestamente patrióticos e em que temos de louvar o esforço de Passos Coelho que foi de um estoicismo excecional. Mas onde houve muitos erros que deixaram uma mancha má, podia ter-se feito o mesmo com menos ónus. Estes primeiros dois anos e meio, três anos de oposição foram catastróficos", analisa Menezes que, questionado se desafia os críticos internos a fazer melhor, puxa dos galões.

"Quem sou eu para desafiar? Eu fui presidente do PSD, não vou desafiar pessoas que foram meus secretários gerais adjuntos e meus assessores. Seria diminuir-me muito a mim próprio, sabe que eu sou um bocado vaidoso, desafio Guterres, Marcelo, não desafio pessoas que foram meus secretários gerais adjuntos ou meus assessores", ironiza o homem que sucedeu a Marques Mendes na liderança do PSD para terminar com acidez: "Deviam ter todos juízo e dar provas primeiro. Algum daqueles que hoje desafia Rui Rio alguma vez ganhou alguma eleição com a sua cara perante o eleitorado? Nenhum, nenhum!", conclui.

E outubro?

A caminho de umas eleições cujas sondagens têm vindo a acentuar a queda do PSD, Luís Filipe Menezes reconhece que a situação está complicada. Mas é também por isso que se junta simbólica e solidariamente a Rui Rio neste caminho.

"Não sou um lírico, não sou um poeta. A posição do PSD não é fantástica, mas quem é que conduziu o PSD a esta posição? Foi Rui Rio? Foi Rui Rio que conduziu o PSD a 20 e tal por cento? Se alguém vier dizer isso, começamos logo a inquinar o debate político. Se Rui Rio sustentar o partido nestes plafonds e conseguir subir relativamente, faz um bom papel, se conseguir ainda ombrear com o PS, faz um milagre", nota Menezes.

"Eu há 60 anos que não acredito muito em milagres em Portugal. Agora, acredito que o PSD se vai aguentar e que vai continuar a ser a grande alternativa democrática em Portugal para o futuro", diz.

Até porque, sublinha, PS e PSD são os grandes culpados pela estabilidade política em Portugal desde o fim da ditadura. "O nosso país não tem Le Pens, não tem Orbans, não tem Johnsons, o nosso país não tem Trumps porque, apesar de tudo, o sistema bipartidário com todos os seus defeitos tem sustentado os excessos e populismos de extrema-esquerda e extrema-direita. Neste momento, ao apoiar o PSD, estou a apoiar a bipolaridade entre o PSD e o PS que têm sido o cerne fundamental da estabilidade política em Portugal desde o 25 de abril", sublinha.

"Não sou dos que acha que no PS são todos maus de família e antipatriotas. O PS é um grande partido nacional que tem de ser respeitado, tem de se acabar com esse radicalismo cego que anda por aí. Nem António Costa é nenhum bandoleiro que anda a incendiar os pinhais em Portugal", continua Menezes para concluir que é preciso "começar a fazer política de uma outra maneira".

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