Fernando Medina rodeado de queixas e rosas vermelhas na primeira arruada
Autárquicas 2021

Fernando Medina rodeado de queixas e rosas vermelhas na primeira arruada

A primeira arruada de Fernando Medina, que tinha saudades de estar na rua, foi pautada por encontros com eleitores animados, mas também com críticas e queixas. Num percurso entre Sapadores, Graça e Alfama, o atual presidente da câmara de Lisboa e recandidato fez-se acompanhar pelos presidentes das juntas de freguesia e, em parte do percurso, por Rui Tavares.

O primeiro dia oficial de campanha eleitoral no encalço do candidato à Câmara de Lisboa, Fernando Medina, começou com a ameaça de chuva, no Mercado de Sapadores, em Lisboa, mas revelou-se soalheiro. Com chegada marcada para as 10h da manhã, o candidato e atual presidente da câmara da capital chegou quase meia hora atrasado, mas compensou o atraso com uma chegada encenada, ao descer de um mini autocarro descapotável, com a sua cara estampada de lado e na traseira.

A Medina juntaram-se cerca de 20 jovens militantes, cheios de vontade de gritar "Medina, amigo, os jovens estão contigo", de mãos prontas a distribuir rosas vermelhas, panfletos e bandeiras de apoio à candidatura "Mais Lisboa". Mas, claro, marcam também presença apoiantes mais velhos. Perante um autarca de camisa branca e sem casaco, uma dupla de senhoras apressaram-se a pedir uma fotografia: "É para a mesinha de cabeceira. Julieta, vais passar a dormir acompanhada", ria uma delas.

Medina contou aqui com Rui Tavares, fundador do LIVRE e apoiante desta candidatura, e foi dando ouvidos aos moradores, em troca de panfletos e rosas vermelhas. Cada porta, uma oportunidade de conversa, ainda que muitas vezes breve: um "bom dia", outro "como vai" ou algo como "força na campanha". Num dos primeiros encontros, à porta de um restaurante, uma mulher agradece o apoio à restauração, com o programa Refeições Solidárias: "Só tenho a dizer bem e espero que continue". Despede-se acrescentando que, com a abertura das esplanadas, o negócio tem estado melhor.

Mais à frente, uma lojista queixa-se de uma cova no alcatrão, que acumula água quando chove. Trabalha ali há 80 anos e queixa-se de ser obrigada a fechar portas sempre que chove. Medina promete ver a situação, assegura que é coisa rápida e ao alcance de "qualquer equipa de manutenção da junta de freguesia". Para fechar o acordo, tira uma foto à poça, na estrada, como nota de um dos problemas a resolver na cidade e explica que situações como esta podem ser reportadas numa aplicação chamada "Na minha rua Lx". E confirma-se: a aplicação de telemóvel está disponível na Play Store para Android e na App Store. Estes esclarecimentos fazem parte do ser presidente da câmara, explica Medina: "É aquela função muito próxima das pessoas, em que esperam que nós ajudemos a resolver os problemas. Há alguns que são da nossa competência e fáceis de resolver, e outros não. Há outros muito difíceis. Este [da poça] é fácil. Se fossem todos assim...".

A presença da comitiva não passava despercebida. O grupo avançava lentamente e ocupava os dois lados da rua, perturbando a circulação. Os condutores não se abstinham de buzinar e levantar os braços dentro dos carros. Um condutor abriu mesmo a janela para gritar sobre a falta de habitação na Graça. Desafiado pela TSF, Medina reconhece que estas ruas com passeios estreitos são difíceis para fazer arruadas, ainda por cima com o elétrico a passar, e não perde a oportunidade para dar a conhecer que a rua da Graça já foi alargada numa obra da câmara. "São as características de uma cidade antiga", remata.

Mais à frente, Rosália Madeira, de 73 anos, não hesitou em abordar o atual presidente da câmara. Apressou-se a furar a arruada para dar de caras com Medina e expor-lhe o seu problema. Cada vez mais emocionada, Rosália explicou que está a ser pressionada para sair de casa, nas Escolas Gerais. O proprietário quer transformar o prédio num hostel e oferece-lhe cinco mil euros de indemnização para sair. "Não quero dinheiro. Quero a minha casa, onde eu nasci e os meus filhos". Medina ouviu, aconselhou-a a recorrer à justiça e frisou que o gabinete da Junta de Freguesia também pode dar apoio para tentar resolver o problema. Rosália agradeceu o trabalho de Medina e afastou-se da multidão.

Muitas paragens depois, surge a oportunidade de uma entrevista com os jornalistas. Abordando a questão que tinha vindo a puxar da manga até aí com os cidadãos, a questão das rendas acessíveis, Medina disse que o PCP tem o hábito "de reivindicar um bocadinho em excesso as coisas que os outros partidos fazem, mas a CDU não tem pelouros - porque não quis -, e por isso em relação a obras de renda acessível não fez nenhuma. Termos casas de renda acessível para jovens e famílias de classe média é uma nossa prioridade há muito tempo. Temos vindo a concretizá-la e queremos fazer muito mais no próximo mandato". A propósito de habitação, uma questão que vem frisada na frente dos panfletos distribuídos, Medina explicou que quer continuar o programa "Habitar o centro histórico", "dirigido às pessoas mais velhas que perderam as suas casas, fruto da Lei das Rendas, que liberalizou o mercado e que atirou para as ruas muitas pessoas de idade, que ficaram de um momento para o outro sem os seus contratos de arrendamento". Para levar a cabo estas políticas, Medina frisou que tem uma equipa "com trabalho feito, provas dadas e renovada".

Sobre as sondagens que o põem na frente da corrida eleitoral, Medina é claro: "Nenhuma sondagem ganha eleições. E quem achar que não vai votar porque já há qualquer resultado que as sondagens dão comete um erro muito grande. Os únicos votos que contam são os votos que estão na urna no dia 26". Assim, Medina apela ao voto na sua equipa "renovada, com nova energia", com "um projeto muito claro de habitação acessível para as pessoas, melhoria dos transportes públicos, de mais autonomia e segurança para os mais idosos".

Confrontado com a notícia de que Isabel Ayuso, presidente da Comunidade de Madrid, mostrou o apoio à candidatura de Carlos Moedas, Fernando Medina disse que isso "não tem qualquer significado político porque, por um lado, é natural - trata-se de uma líder de direita que apoia um candidato de direita- , e em segundo lugar, não vota em Lisboa".

Sobre as declarações de Jerónimo de Sousa, na Renascença, em que o secretário-geral do PCP disse não fazer coligações pós-eleitorais em Lisboa, Medina disse estar preocupado com "falar com os lisboetas, sinalizar-lhes a importância do voto no dia 26 e mostrar-lhes o nosso projeto e equipa (...) um projeto que há quatro anos não contou com o apoio do PCP e que vale por si própria". Para rematar, Medina acrescentou que o PS tem áreas de convergência com o PCP, "que são conhecidas", mas também áreas de diferença. "Esta é uma candidatura de Lisboa, só para Lisboa. Quero nestes próximos dias ter um diálogo muito próximo com a cidade. Já estava com muitas saudades de estar na rua. Entre a pandemia e esta fase de debates televisivos, uma pessoa tem menos tempo para estar nas ações de campanha. Agora dedicar-me-ei até ao último dia de eleição falando diretamente com os lisboetas e mobilizando-os para a importância da eleição", disse Medina antes de cruzar a fronteira para outra freguesia de Lisboa: Alfama.

À TSF, uma moradora nascida e criada em Alfama desenha o perfil da zona: "morava aqui muita gente e agora há muita casa vaga. As pessoas vêm ver as casas, mas as rendas são muito altas. É 1100€ ou 1200€. Quem é que pode pagar uma renda tão alta?". Outra moradora revela que tudo fechou em Alfama - farmácias e bancos - e que é preciso ir à Graça para levantar dinheiro. "Fecharam tudo. Não temos nada. Estamos aqui muito sem ninguém. Senhor Presidente, tem de fazer alguma coisa por Alfama".

Confrontado pela TSF em relação ao atípico silêncio na zona, Medina começa por justificar a situação com a pandemia, mas em seguida oferece outra resposta: "Estes bairros desertificaram muito a partir muito da década de 80, 90. Quer esta zona de Alfama, Mouraria, quer também a zona da Baixa Pombalina sofreram um processo de desertificação grande. Aliás, a década em que se perdeu menos população foi a última, e depois houve de certa forma substituição por uma grande intensidade de utilização turística. O turismo está a recuperar, mas ainda está muito abaixo dos níveis anteriores. E este é de facto um desafio: como é que se consegue recuperar uma vocação com reforço de função residencial num bairro que é muito característico, muito típico". Sobre o preço elevado na habitação turística, Medina explica que limitaram a abertura do alojamento local". Para terminar, o atual presidente da câmara explica que nos anos 80, o centro histórico lisboeta chegou a ter quase 60 mil pessoas e agora a freguesia de Santa Maria Maior tem cerca de 10 mil. Para Medina, a esperança passa pelo regresso do turismo, se bem que "não com a mesma intensidade de utilização". "Espero que se possa encontrar uma função residencial, quer com o aumento de residentes permanentes. A câmara recuperou o seu património. Temos aqui cerca de 130 casas que foram atribuidas no "Habitar no centro histórico", a pessoas que tinham perdido a casa na Lei das Rendas. Acho que aqui havia programas inovadores que se podem fazer, nomeadamente residências para estudantes, que se podem encontrar pela conversão de alojamento local e procurar um equilíbrio maior".

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