Posições que foram trocadas entre o líder da bancada socialista e o chefe do executivo na parte inicial do debate quinzenal, na Assembleia da República, ocasião em que Ferro Rodrigues aproveitou também para atacar a coligação "PSD/CDS" por fazer "o discurso do medo", com Passos Coelho a negar, contrapondo com uma distinção entre medo e "prudência".
"Começam a ser previsíveis as intervenções que o senhor primeiro-ministro faz neste parlamento, em correlação com as últimas semanas da propaganda do Governo e da coligação CDS/PSD. Fez uma intervenção com um enorme pendor burocrático, mais parecendo um relatório de um conselho de administração", apontou Ferro Rodrigues, numa alusão ao discurso de Passos Coelho que abriu o debate quinzenal.
O primeiro-ministro reagiu pouco depois: "Prefiro sinceramente ser muito previsível do que regressar aos tempos da imprevisibilidade e da incerteza", declarou numa alusão ao último executivo de José Sócrates e à entrada da 'troika' (Banco Central Europeu, Fundo Monetário Internacional e Comissão Europeia) em Portugal, em maio de 2011.
Um dos pontos de crítica do líder da bancada socialista dirigiu-se ao facto de a maioria PSD/CDS ter assinalado no sábado passado, em Guimarães, um ano da saída da 'troika' de Portugal, considerando que esse jantar/comício constituiu mesmo "um insulto" e um "gesto de desprezo" face aos portugueses visados pelas políticas de austeridade.
"Não se percebe por que razão comemoraram a saída da 'troika', porque foi com a 'troika' que tiveram a oportunidade de pôr no terreno o programa da direita mais conservadora. Apesar da campanha eleitoral de embuste que fizeram em 2011, foram sempre para além da 'troika'. Acontece, também, que os objetivos que a coligação PSD/CDS propõe para 2019 são mais baixos do que os propostos para 2015, ou seja, com a 'troika' era mau, sem a 'troika' ainda é pior", considerou Ferro Rodrigues.
Ferro Rodrigues disse ainda que o Governo tem "o livro negro dos recordes", dando como exemplos a emigração, a dívida pública, o desemprego, a carga fiscal, o crédito malparado, o número de falência, taxa de risco da pobreza ou menor número de nascimento de sempre.
Neste ponto, o primeiro-ministro também deu uma resposta dura: "Da sua lista não podem constar coisas positivas para o país, caso contrário o senhor deputado [Ferro Rodrigues] não tinha função neste parlamento".
"Mas, na verdade, existem coisas positivas como o crescimento da economia, a melhoria dos indicadores económicos fundamentais, a melhoria do emprego. Isso é bom que seja previsível, porque é um modelo mais sólido e mais seguro do que aquele que andam à procura" no PS, ripostou o líder do executivo.
Sobre o jantar/comício da coligação PSD/CDS, no sábado passado, o primeiro-ministro disse que, exceção feita ao PS, "todos os portugueses percebem a razão dessa comemoração". "Não sei o que entende por insulto e desprezo pelos que sofreram. Por sabermos o que os portugueses sofreram é que tudo faremos para que a 'troika' não regresse", contrapôs.