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O secretário-geral comunista encerrou este domingo a Festa do Avante! com recados e críticas às opções do Governo, desde os apoios para os jovens ao PRR, e sustentou que com "anúncios repetidos" o país vai continuar na "cepa torta", prometendo bater-se a todos os níveis com o Governo na negociação do Orçamento do Estado para 2022, e não esqueceu a luta autárquica que está a começar.
"Não é em repetidos anúncios de programas governamentais de apoios aos jovens e ao interior que está a resposta", considerou Jerónimo de Sousa, aludindo ao Programa Regressar e IRS Jovem anunciados há uma semana pelo secretário-geral do PS e primeiro-ministro, António Costa.
Falando sobre a necessidade de "abrir caminho para a solução dos problemas nacionais", Jerónimo de Sousa defendeu que "são as opções orçamentais e de défice que o atual Governo quer impor que limitam e emperram" o alcance das medidas propostas.
Ouça a reportagem de Filipe Santa-Bárbara no comício de encerramento do Avante!
Durante quase 50 minutos, o secretário-geral do PCP aproveitou o comício de encerramento da 45.ª Festa do Avante para elencar várias críticas às opções feitas pelo executivo socialista, como, por exemplo, em relação ao Programa de Recuperação e Resiliência (PRR).
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Na opinião do dirigente comunista, o país "não precisa de mais do mesmo, mas de se libertar do ciclo vicioso da política de direita e dos problemas acumulados que criou".
Contudo, prosseguiu Jerónimo de Sousa, as medidas de que Portugal "precisa para avançar" não estão no PRR.
"Não encontramos no PRR, nem no Portugal 2030, por mais transições que estes proclamem. Ao contrário da propaganda, o PRR não é o instrumento capaz de imprimir as alterações estruturais de que o país precisa. O PRR não parte das necessidades do país, mas das imposições da União Europeia. Por mais milhões que possam ser anunciados (...), sem uma profunda alteração das políticas o país não sairá da cepa torta", advogou.
Sobre o poder económico dos portugueses, Jerónimo defendeu o aumento geral dos salários de todos os trabalhadores e em especial do Salário Mínimo Nacional "para 850 euros", assim como a valorização das carreiras.
"O combate à precariedade e à desregulação dos horários de trabalho não se faz sem confrontar o grande capital e tomar partido por quem trabalha", assinalou também.
A "batalha" das autárquicas
"Estamos a escassos 20 dias das eleições para as autarquias locais. Esta é uma importante batalha eleitoral. Uma batalha para travar com confiança, com os olhos postos no futuro que estamos e queremos construi", sublinhou Jerónimo de Sousa.
O dirigente comunista considerou que a Coligação Democrática Unitária (CDU) - constituída por PCP e PEV - tem um "particular significado", uma vez que declara "sem tibiezas" o projeto e programa que apresenta a eleições, assim como a "própria sigla e símbolo".
Sem referir situações concretas, Jerónimo de Sousa sustentou que a CDU não se esconde "como outros fazem em arranjos de circunstância, nem em falsas listas de independentes".
"A CDU responde pelo que é, pela ação dos seus eleitos, pelos programas que assume e pelo projeto que corporiza", completou.
Perante os militantes e visitantes da Festa do Avante!, o secretário-geral do PCP expôs os números com que a CDU vai arrancar a campanha eleitoral: candidaturas a 305 dos 308 municípios, mais de 40.000 candidatos, "muitos milhares sem filiação partidária".
Contudo, durante os quase 50 minutos de discurso não houve referência a objetivos concretos para as eleições autárquicas, apenas que a CDU vai estar a concorrer para responder aos "problemas que é preciso alargar do plano local ao plano nacional".
"Quiseram silenciar-nos"
O secretário-geral do PCP considerou também que existiram tentativas de impedir a realização da Festa do Avante! em pandemia, negando "motivações financeiras" e defendendo que "hoje é mais fácil" perceber "quão justas" eram as razões do partido, num discurso em que respondeu a algumas críticas, afirmando que houve quem tentasse "silenciar" o partido em tempos de pandemia.
"Quiseram silenciar-nos, quiseram limitar a ação deste partido indispensável à luta dos trabalhadores e das populações. Quiseram impedir a Festa do Avante!, insinuaram maldosamente motivações financeiras", declarou.
O líder comunista negou que estas tenham sido as motivações para o partido ter realizado a Festa do Avante! em pandemia - facto que em 2020 motivou polémica, de partidos e algumas personalidades públicas.
"Se fossem essas as nossas motivações não a teríamos realizado! Hoje é mais fácil perceber quão justas eram as nossas razões", vincou o secretário-geral.
Jerónimo de Sousa defendeu que "era preciso travar as pretensões dos senhores do medo e do mando, os senhores do dinheiro e as forças que os servem que aspiravam a limitar o exercício das liberdades, minar a democracia, dificultar o protesto e proibir a luta social e a ação coletiva nas empresas, no espaço público e nas instituições e levar longe, a pretexto da epidemia, a intensificação da exploração do nosso povo".
"Era necessário dar confiança e esperança", sublinhou, "combater o medo e ao mesmo tempo exigir as medidas e soluções para salvaguardar a saúde de quem vive e trabalha neste país, como sempre o fizemos, lutando e propondo medidas concretas, da vacinação à testagem e ao reforço do Serviço Nacional de Saúde".
Por essas razões, defendeu o secretário-geral, o partido não aceitou "desde a primeira hora, nem que o vírus infetasse os direitos, nem que a luta fosse confinada, deixando o grande capital em roda livre".
A 45ª Festa do Avante termina este domingo e representou o ponto alto das comemorações do centenário do PCP. O certame anual comunista teve este ano uma lotação máxima de 40.000 visitantes, mais 23 mil do que em 2020, ainda com limitações devido ao contexto de pandemia da Covid-19 (como a apresentação de certificado digital de vacinação ou teste negativo).