"No PSD não cabem racistas e xenófobos." Moreira da Silva promete "oposição firme e inconformista"

Moreira da Silva é o segundo candidato à sucessão de Rui Rio nas eleições diretas do PSD.

Jorge Moreira da Silva candidatou-se, esta quarta-feira, à liderança do PSD, afirmando que o partido enfrenta "uma crise de modernidade" e defendendo que na casa dos sociais-democratas "não cabem racistas, xenófobos e populistas".

"Candidato-me à liderança do PSD pelo sentido de responsabilidade que 33 anos de militância exigem e animado pela firme convicção de que sou portador de um projeto capaz de renovar o PSD, libertar o potencial de Crescimento Sustentável em Portugal e assegurar que os portugueses reconquistam o seu pleno Direito ao Futuro", disse Jorge Moreira da Silva na apresentação da sua candidatura.

Relembrando o contexto em que o mundo atual vive, Jorge Moreira da Silva destacou a pandemia, "que provocou a maior crise económica e social desde a 2.ª guerra mundial", a escalada de preços e a guerra na Ucrânia "com efeitos devastadores". "Em Portugal, enfrentamos uma tempestade perfeita: o mundo mudou a uma velocidade alucinante, o país não se atualizou, nem se reformou, e não pôde contar com o potencial transformador do PSD", completou, sublinhando que "é chegada a hora de renovar o PSD, de reformar a política e de liderar o crescimento sustentável em Portugal".

Atualizar linhas programáticas e modernizar o PSD

Jorge Moreira da Silva assume o compromisso de "atualizar as linhas programáticas do PSD e clarificar natureza do nosso relacionamento com os outros partidos".

"O PSD não enfrenta uma crise de identidade, mas enfrenta uma crise de modernidade. Valores - como a liberdade, a igualdade e a solidariedade - e princípios - como o personalismo, a defesa do Estado de Direito, a salvaguarda dos Direitos, Liberdades e Garantias dos cidadãos, o pluralismo e garantia de livre expressão, a afirmação da sociedade civil, a tolerância e o direito à diferença, a valorização da paz, o reconhecimento do mérito, a valorização do liberalismo político e da livre iniciativa, o firme empenhamento na construção europeia - mantêm-se válidos. Mas, sob pena de ficarmos para trás na ordem de preferência dos setores mais jovens e mais dinâmicos da sociedade, os eleitores esperam de nós uma clarificação e uma atualização", considerou.

"Mais do que uma estéril e obsoleta discussão sobre o posicionamento do PSD como um partido de centro ou um partido de direita, é fundamental, num contexto em que o país tem sido liderado por forças conformistas, posicionar o PSD como o espaço amplo que une todos os reformistas e que agrega social-democratas e liberais-sociais", acrescentou, sublinhando que "em tempo útil, de forma praticamente isolada, alertei para os riscos da nossa ambiguidade na relação com o Chega".

"O resultado das eleições legislativas confirma que tinha razão. Lamento que, em 2020, muitos tenham ficado convenientemente calados e, ainda pior, venham agora definir o PSD como "a casa comum dos não socialistas". Comigo, não. Na casa do PSD não cabem racistas, xenófobos e populistas", afirmou, afastando a possibilidade de um diálogo com o Chega.

Com a sua candidatura, Jorge Moreira da Silva quer mudar o partido, para que deixe de ver "o mundo de forma desfocada".

"Passaram dez anos e, nesta década, assistimos a crises globais sem precedentes e a uma transformação a um ritmo igualmente estonteante na ciência, inovação e saúde. Emergiu uma revolução energética e o início do fim da era do carvão e do petróleo. Uma nova geração de empresas nacionais e internacionais destronaram os incumbentes. Insisto, o mundo mudou e os partidos políticos portugueses não se atualizaram. Se for eleito líder do PSD, lançarei um processo, aberto a toda a sociedade, de atualização das nossas linhas programáticas e acredito que a nossa capacidade de reconquistar a confiança dos portugueses depende desse passo", explicou Jorge Moreira da Silva.

Para abrir e modernizar o partido, tornando-o o preferido dos jovens, o candidato quer que o PSD tenha uma "cultura de start-up e não de incumbente".

"Seremos um partido-movimento, orientado por causas. Seremos um partido de eleitores e de militantes. Seremos um partido organizado matricialmente (conjugando a componente residencial e temática) e não apenas territorialmente. Seremos o partido que sairá das sedes e estará em contacto direto com os cidadãos, ouvindo-os, auscultando-os e envolvendo-os nos nossos processos de decisão interna", afirmou o candidato à liderança do PSD.

"Liderar uma oposição firme, inconformista"

Perante a maioria absoluta do Governo, o social-democrata promete uma oposição que sirva o interesse comum, escrutinando o atual Executivo e denunciando os seus erros.

"Dentro e fora do Parlamento. E seremos audazes na formulação de alternativas. Dentro e fora do Parlamento. Seguindo o modelo inglês, constituirei um verdadeiro governo-sombra cuja composição, se eleito, apresentarei no Congresso do dia 4 de Julho, no qual incluirei, obviamente, pessoas que não me venham a apoiar nesta eleição interna", esclareceu.

Além disso, compromete-se também a unir o partido em torno de valores como a integridade, transparência e independência.

"Não vivo a política como um vício ou um jogo e encaro-a como um serviço à comunidade. Sempre procurei comportar-me com um líder servidor, que assume que o seu principal objetivo é servir os outros, colocando as aspirações dos cidadãos em primeiro lugar e medindo o êxito da liderança pelo impacto gerado na vida das pessoas. Desenhei políticas, liderei reformas e entreguei resultados. Nas várias funções públicas que exerci, nunca me faltou a coragem para tomar decisões difíceis e até impopulares, enfrentando interesses e ultrapassando visões", afirmou Jorge Moreira da Silva.

Treze "missões críticas" e "sete agentes essenciais"

Até 2030, Jorge Moreira da Silva pretende também colocar Portugal "no top 3 do ranking do Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, no top 3 do Índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas, no top 3 do Índice de Bem-Estar da OCDE e acima da média europeia no PIB per capita".

Para concretizar esses objetivos, de acordo com Moreira da Silva, a ação política do PSD deverá assentar em 13 "missões críticas", sendo elas: a modernização do Estado; o aprofundamento da democracia e da cidadania; o combate à corrupção e a melhoria da confiança na justiça; a qualificação e digitalização para uma sociedade 4.0; o combate às alterações climáticas e liderança da revolução energética; a proteção da biodiversidade, a remuneração dos serviços dos ecossistemas e valorização do capital natural; a proteção do oceano e valorização da economia azul; o combate às desigualdades sociais e crise demográfica; a garantia da resiliência territorial e sustentabilidade das cidades; o aumento da competitividade e produtividade; a regulação do futuro do trabalho e criação dos empregos do futuro; a redução da dívida e promoção de uma fiscalidade mais inteligente e a promoção de uma cooperação internacional, multilateralismo e do projeto europeu.

O candidato à liderança do PSD abordou ainda a importância de "sete agentes essenciais", defendendo: "Um Estado que dignifique os cidadãos, promova a equidade social, liberte a iniciativa da sociedade civil e fomente o crescimento económico"; "uma ampla reforma do sistema político que vá além da reforma dos sistemas eleitorais"; "um modelo de crescimento inteligente assente no investimento, na inovação, na política industrial e na produtividade"; "uma regulação do mercado de trabalho que alargue a mais trabalhadores a segurança e proteção do emprego e que promova a capacidade empreendedora e a competitividade das empresas"; "uma política orçamental que compatibilize a redução da dívida com a redução da carga fiscal"; "uma escola que se assuma como o principal fator de igualdade de oportunidades e de mobilidade social" e "um combate sem tréguas às alterações climáticas e à perda de biodiversidade e posicionar Portugal como líder internacional no crescimento verde e azul".

"O PSD tem de estar à altura das suas responsabilidades históricas"

Moreira da Silva terminou a apresentação da sua candidatura com uma mensagem aos militantes: "Estas eleições disputam-se num tempo especial e seria imperdoável que, nesta hora, falhássemos aos portugueses. Temos de escolher bem o tipo de futuro que queremos oferecer a um país que tem tudo para vencer - História, língua, cultura, talentos, recursos e posicionamento geoestratégico - mas que está tragicamente adiado", disse, reforçando que "o PSD tem de estar à altura das suas responsabilidades históricas".

"Ninguém faz tudo certo, mas nós nunca falhámos a Portugal. Nos momentos mais difíceis dos últimos 48 anos de democracia, foi sempre o PSD a recuperar Portugal. Mas só o conseguimos fazer quando as nossas escolhas internas estiveram sintonizadas com as expectativas dos eleitores. Isto é, tal como sucedeu no passado, a responsabilidade dos militantes do PSD é agora enorme: quando votarem terão de saber interpretar a vontade daqueles que, não tendo direito de voto, são potenciais eleitores do PSD. Para esses não basta um líder capaz de criticar o governo. É preciso alguém que tenha um plano para Portugal. Que tenha provas dadas na liderança de reformas e na entrega de resultados, tanto no plano nacional como internacional", finalizou.

Jorge Moreira da Silva promete "campanha de proximidade" e positiva

O candidato à liderança do PSD promete fazer uma "campanha de proximidade", em que irá ouvir os militantes.

"Vou utilizar muito as redes sociais e esse ecossistema digital. O envolvimento de gente muito nova dá-me esperança e alento. A ideia do direito ao futuro foi rapidamente bem percecionada por esses jovens. Tenho dezenas de voluntários que tornarão esta campanha alegre, dinâmica e esperançosa", revelou.

Além da proximidade, quer uma campanha positiva, sem conflitos com Luís Montenegro.

"Não permitirei que nenhum apoiante meu faça desta campanha algo que não seja elevado no debate político. Não quero uma campanha que possa revelar o pior que as campanhas políticas têm: querelas e bota-abaixismo que não enobrece a política. Não saí da OCDE para vir para uma campanha negativa, sem precisar de desvalorizar as características do meu adversário", avisou.

Moreira da Silva é o segundo candidato à sucessão de Rui Rio nas eleições diretas do PSD, depois de o antigo líder parlamentar do PSD Luís Montenegro se ter apresentado publicamente na corrida há cerca de duas semanas.

Esta será a primeira candidatura de Jorge Moreira da Silva à presidência do PSD, ao contrário de Luís Montenegro que vai disputar o cargo pela segunda vez, depois de em janeiro de 2020 ter perdido para Rui Rio, numa inédita segunda volta no partido.

Moreira da Silva tem 50 anos, foi líder da Juventude Social-Democrata (entre 1995 e 1998), deputado, eurodeputado, e primeiro vice-presidente do PSD, durante a liderança de Pedro Passos Coelho, tendo sido no seu Governo ministro do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia.

Jorge Moreira da Silva preside ao 'think-tank' Plataforma para o Crescimento Sustentável, que fundou há 10 anos e que reúne cerca de 500 pessoas de diversos quadrantes.

Em setembro do ano passado, apresentou um livro intitulado "Direito ao Futuro" no qual defendeu que se deve discutir "menos partidarite e mais políticas públicas", e que "um líder tem de ser um líder servidor".

Foi diretor da área de Economia da Energia e das Alterações Climáticas do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), secretário de Estado Adjunto do ministro do Ambiente e do Ordenamento do Território, secretário de Estado Adjunto da Ministra da Ciência e do Ensino Superior e consultor do Presidente da República Cavaco Silva nas áreas da Ciência, Ambiente e Energia, entre 2006 e 2009.

Recebeu a insígnia Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, atribuída por este chefe de Estado, e a Comenda de Mérito Civil, atribuída pelo rei de Espanha.

O atual presidente do PSD, Rui Rio, que ocupa o cargo desde janeiro de 2018, já anunciou que deixará a liderança do partido depois da derrota nas legislativas de 30 de janeiro. As eleições diretas para escolher o seu sucessor foram marcadas em Conselho Nacional para 28 de maio e o Congresso vai realizar-se entre 01 e 03 de julho, no Porto.

O prazo limite para a apresentação de candidaturas à liderança do PSD é o dia 16 de maio, e estas têm, como habitualmente, de ser subscritas por um mínimo de 1500 militantes e de ser acompanhadas de uma proposta de estratégia global e do orçamento de campanha.

Fora da corrida foram-se colocando nomes como Paulo Rangel, Carlos Moedas, Poiares Maduro, Ribau Esteves, Miguel Pinto Luz ou Pedro Rodrigues.

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