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Três dos treze juízes do Tribunal Constitucional (TC) têm o mandato caducado, estão em funções para lá do mandato, incluindo o presidente João Pedro Caupers e o vice-presidente Pedro Machete, o que pode colocar em causa a sua "legitimidade política". O professor de Direito da universidade norte-americana George Mason, Nuno Garoupa, acusa os juízes de "falta de sentido de Estado e de responsabilidade".
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A Constituição determina que os juízes podem exercer funções no Palácio Ratton durante nove anos, embora se mantenham em funções até que exista um substituto. Se João Pedro Caupers terminou o mandato a 06 de março, os restantes casos têm-se arrastado no tempo: Pedro Machete devia ter deixado o cargo em outubro de 2021 e Lino Rodrigues Ribeiro em julho de 2022.
Estes juízes, nomeados por cooptação, isto é, eleitos pelos seus pares, continuam em funções já que os restantes conselheiros não chegaram a acordo sobre quem deve ser o substituto. Dos treze juízes, dez são eleitos pela Assembleia da República e os recentes são designados por cooptação dos juízes eleitos pelos deputados.
Estamos perante uma situação muito complexa, que é uma situação política e única
Nuno Garoupa, em declarações à TSF, considera que os treze juízes "demitiram-se das próprias responsabilidades", já que "toda a gente sabe as datas em que os mandatos vão acabar, nove anos antes".
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"Estamos, de facto, perante uma situação muito complexa, que é uma situação política e única. Como é evidente, tem consequências de legitimidade política para o TC", admite.
Ouça as explicações de Nuno Garoupa
A alegada falta de legitimidade pode criar atritos em várias dossiers, como é o caso do novo diploma da eutanásia, caso Marcelo Rebelo de Sousa volte a pedir a fiscalização preventiva do novo documento. O Presidente da República já recorreu três vezes aos juízes conselheiros durante a atual legislatura e admitiu enviar o pacote do Governo sobre a habitação para o TC.
"Não é aceitável que o TC esteja colocado numa situação em que é possível que a maioria parlamentar levante objeções de legitimidade democrática e política à atual composição do TC", prevê Nuno Garoupa, reconhecendo que os juízes contam com "legitimidade jurídica".
O Presidente da República desperdiçou a sua intervenção nos 40 anos do TC
No entanto, um deputado da maioria absoluta socialista, ouvido pela TSF, afasta implicações no processo, lembrando que a lei prevê "que o juiz se mantenha no cargo até à nomeação do substituto", pelo que uma possível nova rejeição do diploma terá de ser respeitada. Além disso, os socialistas remetem para o TC "a resolução do problema" dos mandatos caducados.
Nuno Garoupa apela ao Governo, na figura do primeiro-ministro, e ao líder do maior partido da oposição para que falem com os juízes, "para isto se resolver facilmente e rapidamente". O apelo é estendido a Marcelo Rebelo de Sousa.
"O Presidente da República desperdiçou a sua intervenção nos 40 anos do TC, porque em vez de estar a elogiar o TC, dizendo que é o melhor tribunal do mundo, e aquelas coisas que o nosso Presidente sabe dizer de que é tudo muito bom e maravilhoso, devia ter chamado o presidente e o vice-presidente do TC, que têm mandatos prorrogados, e pedir-lhes para resolver o problema", insiste.
Para o professor de Direito, a solução para o problema "é muito fácil", bastando que os três juízes "renunciem ao lugar". "Os juízes devem deixar claro que se o tribunal não proceder às substituições até ao dia x, renunciam ao mandato", incentiva.
Entre os críticos, há quem defenda que a Assembleia da República deve legislar e impor um limite ao prolongamento dos mandatos, no entanto, Nuno Garoupa afasta "legislações a quente" e "a meio do jogo".
Sobre o assunto, o TC fecha-se em copas e, questionado pela TSF, o gabinete de assessoria de imprensa lembra apenas que "não disponibiliza informação sobre os procedimentos de cooptação, que decorrem de acordo com as regras do procedimento que estão estabelecidas na Constituição e na Lei".
