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O parlamento discutiu hoje a proposta do Governo que cria um regime fiscal especial para as entidades organizadoras, clubes e desportistas envolvidos nas finais da Liga das Nações e supertaça Europeia, com os partidos a tecerem críticas à medida.
Em causa está a criação de um regime que atribui isenção de IRS e de IRC aos rendimentos relativos à organização e realização das referidas provas que sejam auferidos "pelas entidades organizadoras das finais, pelos seus representantes e funcionários", "pelas associações dos países e pelos clubes de futebol, respetivos desportistas e equipas técnicas".
O objetivo da medida, como referiu o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais no início do debate, é evitar uma dupla tributação por parte dos rendimentos auferidos por não residentes, criando-se uma garantia adicional face ao que já preveem os acordos de dupla tributação.
O secretário de Estado António Mendonça Mendes acrescentou ainda que a criação deste tipo de regimes fiscais especiais é comum na realização destes eventos, sendo que, no preâmbulo do diploma, é referido que esta é uma das condições impostas pela UEFA no processo de seleção do país responsável pela organização das competições.
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BE fala em "borla fiscal"
Os argumentos não foram suficientes para convencer os deputados dos diferentes grupos parlamentares com as críticas mais duras a chegarem da bancada do BE, com o deputado Luís Monteiro a acusar o Governo de demagogia e de estar a conceder uma "borla fiscal" sem quantificar o valor da medida.
"O que o Governo aqui nos vem propor é uma verdadeira borla fiscal à indústria do futebol", afirmou Luís Monteiro, acrescentando ser "demagogia" dizer que aqueles rendimentos vão ser taxados em algum lado.
PCP pergunta pelas outras modalidades
Duarte Alves, do PCP, lamentou que o regime especial vise apenas um tipo de modalidade desportiva e repetiu as questões levantadas pelo seu partido quando em 2004 e 2014 foram criados regimes especiais idênticos.
Nessas alturas, precisou, o PCP absteve-se, suscitando questões que "mantêm a atualidade" já que entende que "as isenções fiscais para competições da UEFA não devem ser tratadas à peça, mas inseridas num debate mais amplo que permita encontrar soluções" que não discriminem uns eventos desportivos face a outros ou mesmo face aos de índole cultural.
PSD pede atenção à medida
O PSD, através de Leonel Costa, sublinhou a "mais-valia" que as referidas provas terão na dinamização da imagem do país e das cidades que as vão acolher, mas não deixou de referir que, numa altura em que a carga fiscal atingiu um valor máximo, "qualquer norma que crie benefícios tem de merecer as reticências dos portugueses" que "não têm como fugir à afinada máquina de caça fiscal".
A referência levou o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais a lamentar ter de estar num debate sobre demagogia fiscal e a recomendar a leitura do Boletim Económico, hoje divulgado pelo Banco de Portugal.
As finais da Liga das Nações 2019 terão lugar entre 05 e 09 de junho no Estádio do Dragão, no Porto, e no Estádio D. Afonso Henriques, em Guimarães. Já a final da Supertaça Europeia 2020 está marcada para o dia 12 de agosto do próximo ano, no Estádio do Dragão.
João Almeida (CDS-PP) também lamentou que o Governo crie regimes fiscais especiais para não residentes, enquanto face aos cidadãos e empresas residentes não mostrava "contemplações".
O deputado não inscrito Paulo Trigo Pereira observou, por seu lado, que se o país desse incentivos fiscais a todos os eventos com externalidades positivas, então teria de dar "em barda" e manifestou-se contra uma medida que apenas abrange o futebol.
O parlamento discutiu também na sessão plenária de hoje o relatório de atividades e contas da ERC -- Entidade Reguladora para a Comunicação Social para 2017, tendo alguns deputados referido o desfasamento temporal entre o momento da discussão e o ano a que o documento se refere.