PCP defende que Portugal "precisa de arrepiar caminho" nas políticas de ordenamento de território

Deputado Duarte Alves deixou uma palavra de "solidariedade para com todas as vítimas das cheias que têm assolado várias regiões do país".

O PCP acusou esta quarta-feira o PS, PSD e CDS de submeterem "as políticas de uso de solos aos interesses financeiros" e defendeu que "Portugal precisa de arrepiar caminho" nas decisões relativas ao urbanismo e ao ordenamento de território.

Numa declaração política no plenário da Assembleia da República, o deputado do PCP Duarte Alves deixou uma palavra de "solidariedade para com todas as vítimas das cheias que têm assolado várias regiões do país" e de "apreço por todos aqueles que têm combatido as consequências desta intempérie".

Depois de recordar as políticas de planeamento territorial desde o 25 de abril de 1974, Duarte Alves criticou a "falta de planeamento e de medidas de ordenamento do território que previnam" as intempéries que têm assolado o país.

"Não negamos que as alterações climáticas tenham aumentado a frequência destes desastres, mas as alterações climáticas têm as costas largas quando o poder político se quer desresponsabilizar das opções tomadas ao longo de décadas, num problema que não é novo", afirmou.

O deputado comunista defendeu que, depois de ter sido aprovada a primeira Lei dos Solos, em 1976, "rapidamente os governos da política de direita de PS, PSD e CDS trataram de reverter a lógica progressista dessa primeira lei".

"Mudaram-se os tempos, mudaram-se as vontades do capital financeiro e do seu apetite pela renda fundiária. O que não mudou foi a submissão das políticas de uso de solos aos interesses financeiros, com PS, PSD e CDS a apostarem em lógicas de lucro máximo para promotores imobiliários e banca", acusou.

Na ótica de Duarte Alves, "Portugal precisa de arrepiar caminho nas políticas de urbanismo e ordenamento do território", e designadamente "inverter a lógica de construção em leito de cheia".

Entre as medidas defendidas pelo PCP sobre esta matéria, Duarte Alves apontou a necessidade de "impor o dever de prevenir o risco e realizar investimento público que possa mitigar esses riscos", como em eixos de drenagem, e defendeu que se deve "permitir aos municípios que possam recorrer a fundos comunitários para estes investimentos".

Portugal "precisa de respeitar os instrumentos de planeamento, em vez de serem atropelados sempre que o interesse económico se sobreponha (...), precisa de investir na proteção civil, (...) precisa, acima de tudo, que se cumpra o princípio de que cabe ao Estado e às autarquias locais a gestão do solo e da cidade", defendeu.

Nos pedidos de esclarecimento, o deputado social-democrata João Barbosa de Melo disse que o "PSD tem muito orgulho na sua história e, ao longo dela, já deu por diversas vezes provas" de que a questão do ordenamento do território "é muito importante".

"Para que estas situações ocorram menos vezes ou tenham consequências menos graves (...) é preciso uma coisa que tem faltado ao Governo e à maioria que o suporta: é preciso coragem", defendeu.

Por sua vez, o deputado do PS Hugo Pires criticou o facto de Duarte Alves ter considerado que as alterações climáticas "têm as costas largas", afirmando que o aquecimento global é "uma realidade".

Hugo Pires afirmou ainda que, em Portugal, existem 17 Áreas Urbanas de Génese Ilegal (AUGI), que considerou serem "um dos principais problemas neste problema das cheias", e criticou o facto de "mais de metade delas estarem em municípios" liderados pelo PCP.

O deputado do Chega Pedro Pessanha questionou "como é que é possível o PCP vir falar em ordenamento do território, com a responsabilidade que tiveram nos últimos anos a suportar a geringonça no Governo ou nos municípios onde eram, ou ainda são, o executivo".

Na mesma linha, o deputado da Iniciativa Liberal Carlos Guimarães Pinto convidou Duarte Alves a fazer "um momento de autocrítica em relação a todos aqueles concelhos que são, ou foram governados pelo PCP durante muito tempo" e que também foram afetados pelas intempéries, dando o exemplo de Seixal ou de Loures.

Por sua vez, o líder parlamentar do Bloco de Esquerda, Pedro Filipe Soares, questionou Duarte Alves se, além de um plano de drenagem em Lisboa, também considera necessário "atacar a impermeabilização da cidade e garantir que há zonas da cidade que não são impermeabilizáveis para garantir espaços esponja".

Em resposta às críticas sobre as autarquias dirigidas pelo PCP, Duarte Alves afirmou que o seu partido se orgulha "do papel que a CDU teve no ordenamento do território destes concelhos", citando obras que terão contribuído para uma melhor gestão das cheias e inundações.

"A intervenção da CDU no ordenamento do território não tem nada a ver com a intervenção de PS e PSD que são marcadas, sim, pela impermeabilização dos solos e não pela preocupação com a ordenação do território", afirmou, perante os aplausos da sua bancada.

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