- Comentar
O líder parlamentar do PSD considerou esta quarta-feira que o primeiro-ministro confirmou, nas respostas ao partido, que "interferiu junto do Banco de Portugal" quer no caso que envolve Isabel dos Santos, quer no processo de resolução do Banif.
Relacionados
"Esta é a sua hora." Montenegro avisa Costa que vai a Belém quando quiser pedir eleições
PS pede ao BdP "toda a documentação" sobre a intervenção no processo Eurobic/BPI
Em declarações aos jornalistas, Joaquim Miranda Sarmento comentou as respostas de António Costa às perguntas que lhe foram colocadas pelo PSD em 23 de novembro passado, depois de o ex-governador do Banco de Portugal Carlos Costa o ter acusado de pressão e de "intromissões políticas" no processo de afastamento da empresária Isabel dos Santos do BIC, enviadas na terça-feira ao parlamento.
"O senhor primeiro-ministro confirma que, de facto, interferiu junto do Banco de Portugal, quer relativamente à engenheira Isabel dos Santos, quer no processo de resolução e venda do Banif", considerou o deputado do PSD.
Por outro lado, o líder parlamentar social-democrata acusou o primeiro-ministro de, "como em muitas outras matérias", não responder às perguntas.
"Porque é que interferiu na questão da idoneidade de Isabel dos Santos e não vale a pena referir o BPI, porque o que estava em causa era o Eurobic; como é que teve conhecimento da reunião de Isabel dos Santos com o governador do Banco de Portugal, já que o telefonema foi na tarde do dia da reunião; porque é que teve essa interferência, com que objetivos?", afirmou.
Subscrever newsletter
Subscreva a nossa newsletter e tenha as notícias no seu e-mail todos os dias
"O PSD fez 12 perguntas, esperava que primeiro-ministro respondesse pergunta a pergunta, até porque elas são individuais e alguma delas de resposta direta, e o primeiro-ministro apresentou uma composição com um conjunto de elementos que não são novos e não esclarecem o que o PSD perguntou", refere.
Miranda Sarmento acrescenta que até os documentos que António Costa enviou com o carimbo de confidencialidade já integravam o acervo de uma anterior comissão de inquérito e que foram então divulgados pela comunicação social.
"Não excluímos a comissão de inquérito"
Nestas declarações, o PSD admitiu também que poderá dar "uma segunda oportunidade" e repetir questões ao primeiro-ministro ou colocar novas.
"O primeiro-ministro demorou 60 dias a responder às perguntas do PSD, temos o direito de, de forma ponderada e serena, analisar o texto do primeiro-ministro e equacionar se não devemos repetir novamente algumas questões e eventualmente colocar novas", afirmou Joaquim Miranda Sarmento, dizendo que o partido decidirá "nos próximos dias".
Questionado se exclui, como admitiu no passado, avançar com uma comissão de inquérito parlamentar, o deputado considerou que "as comissões de inquérito nunca são ameaças".
"Não excluímos nenhum mecanismo parlamentar, não excluímos a comissão de inquérito. O mais provável, nesta fase, é que haja espaço para que o primeiro-ministro tenha uma segunda oportunidade para esclarecer os portugueses, dado que nesta primeira pouco ou nada esclareceu", afirmou.
Por outro lado, em relação ao Banif, o social-democrata considera que o primeiro-ministro não respondeu porque enviou uma carta à Comissão Europeia sobre "uma eventual situação financeira difícil" desta instituição bancária.
"Aliada a uma notícia da véspera, faz com que o banco seja sujeito a uma corrida aos depósitos e que o Banco Central Europeu lhe retire o estatuto de contraparte, colocando o banco numa situação extremamente difícil, precipitando a resolução e consequente venda ao banco Santander com grave prejuízo para os contribuintes", refere.
Frisando que o primeiro-ministro demorou quase 60 dias a responder a "perguntas que disse que eram fáceis", Miranda Sarmento disse que o PSD irá "nos próximos dias analisar em detalhe" os documentos enviados ao parlamento.
"Não nos furtaremos a qualquer instrumento parlamentar, seja ele repetir algumas perguntas a que não tivemos resposta, seja novas perguntas suscitadas por este conjunto de respostas", disse.
Nas respostas enviadas ao parlamento, o primeiro-ministro afirma que nunca fez junto do Banco de Portugal "ou de quem quer que seja" diligências em favor da idoneidade de Isabel dos Santos e apenas atuou para procurar resolver o bloqueio acionista no BPI.
Já às questões sobre o Banif, António Costa refere que o Banco de Portugal em dezembro de 2015, liderado por Carlos Costa, concluiu que a venda do Banif por resolução ao Santander era a única alternativa à liquidação, e conduziu o processo.