Rui Rio quer fazer renascer o Cavaquistão, apelou ao coração do interior e até cantou no primeiro comício da campanha social-democrata. Aqui está a chave, diz, para que Portugal deixe de ser um país "atrasado".
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O que tem Viseu em comum com Frankfurt? Nada. Esse é o problema. No primeiro jantar-comício da campanha social-democrata, em Viseu, Rui Rio chamou a atenção para algo em que, "se calhar", muitos "ainda não tinham pensado".
"O Banco Central Europeu está na Alemanha, mas não está em Berlim", nem nas maiores cidades do país - está em Frankfurt. Se fosse em Portugal, alguma vez se equacionaria colocar uma instituição deste peso em Viseu, ou qualquer outra cidade no interior do país? "Nem por sombras."
Para o presidente do PSD, os países desenvolvidos são os mais descentralizados e, por oposição, os "países mais atrasados são os mais centralizados".
Já momentos antes, Fernando Ruas, cabeça de lista por Viseu, tinha usado uma alegoria muito visual para descrever a discriminação do interior: "Andamos a construir um país com um corpo raquítico e uma cabeça enorme. Não é bonito num corpo, não é bonito num país."
É preciso coragem para tirar orçamento aos distritos onde mais se vota para investir onde não há votos, reiterou Rui Rio, ideia que tem vindo a repetir em todas as cidades que se autointitulam "do interior desquecido e ostracizado".
Afinal, é no centro que está a virtude: "Vamos votar para que Portugal não esteja completamente à esquerda, para que Portugal não esteja completamente à direita, para que Portugal esteja ao centro."
Cada vez mais confiante em falar de vitória, Rui Rio compara-se a uma figura querida de Viseu. "Estamos na terra de Viriato, que foi o chefe dos lusitanos, e é exatamente isso que domingo vamos fazer - escolher o novo chefe dos lusitanos."
E lembram-se do Cavaquistão? É novamente chamado pelo "futuro primeiro-ministro de Portugal" - como o presidente do PSD tem sido apresentado em todas as iniciativas de campanha - para fazer essa escolha no momento da verdade.
Mesas redondas, laçarotes cor de laranja nas cadeiras, luzes a piscar e um discurso intercalado por música, estilo Alberto João Jardim (e Rio até cantou). Mais de duas mil pessoas encheram o pavilhão multiusos de Viseu para ouvir o líder durante pouco mais de 20 minutos, seguido de uma atuação musical em espanhol que mais parecia uma ode à Geringonça: "Ya somos tres en una relación..."
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Como ficou sem resposta esta segunda-feira, Rio volta a atacar Carlos César, "campeão" do "familygate" e "um homem com um excelente olfato".
Se há dias dizia que já lhe cheirava à vitória do PS nas regionais da Madeira, "o que lhe está a cheirar para domingo?".
Também Afonso Henriques voltou ao discurso, este pela terceira vez, para assinalar a " maior carga fiscal de sempre", enquanto Mário Centeno voltou como o culpado dos problemas no Serviço Nacional de Saúde.
"Esta tarde fui ao hospital - em visita, não para tratar algo em especial - e vi uma urgência cheia de macas nos corredores". Em contraste, António Costa tem defendido que o SNS está melhor e tem mais meios. "Eu fico pasmado..."
Mais valia que não o dissesse, se fosse ao socialista não faria. "É uma medalha de mau comportamento para o Governo".
A par de um SNS mais célere e "de acesso universal", Rui Rio pede menos tempos de espera para tirar o cartão de cidadão e uma baixa de impostos.
E se antes, em resposta a Costa, disse que era melhor ir "rio acima", o líder social-democrata reformulou: "Acho que devemos ir rio abaixo, tal como vai o rio Tejo que vem a engrossar desde Espanha e quando chega ao estuário do Tejo em Lisboa está cheio de água e é o maior rio do nosso país. É rio abaixo, é a encher que nós temos de ir no domingo."
Não se pára o vento com as mãos
António Costa fez bem em mudar a agenda para que possa, se necessário, deslocar-se aos Açores por causa da passagem do furacão Lorenzo? Na resposta à pergunta colocada esta tarde à margem da visita ao Centro Hospitalar Tondela-Viseu, Rui Rio não é taxativo.
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Há "uma mistura entre as funções de candidato e as funções de primeiro-ministro", considera Rui Rio, ssumindo que não é fácil "formular uma opinião" sobre a postura do opositor.
"Enquanto candidato não faz sentido, enquanto primeiro-ministro pode fazer sentido, ou não, não sei." Uma coisa é certa, não há muito que quer o primeiro-ministro quer o líder do PSD possa fazer nos Açores.
"Para acompanhar sim, para se deslocar lá não sei, porque, como nós sabemos todos desde pequenos, nós não conseguimos travar o vento com as mãos."
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"O que eu espero é que a Proteção Civil esteja toda - e acredito que está, mal fora se não estivesse face a tanto anúncio de que vem aí o furacão -, que a Proteção Civil de caráter nacional esteja também nos Açores, no sentido de prevenir tudo o que é de prevenir e ter a capacidade de resposta imediata que for necessária, se se vier a verificar que o furacão passa mesmo ali", sublinha Rui Rio.
A obra que Centeno cativou
Rui Rio visitou o Centro Hospitalar de Tondela-Viseu, mas diz que podia ter visitado qualquer hospital público do país. Ali, como em todo o Serviço Nacional de Saúde, fica provada a tese já por vária vezes repetida durante a campanha: quem verdadeiramente controla o ministério da Saúde é o ministro das Finanças.
E por causa de Mário Centeno, acusa o presidente do PSD, não se fizeram obras necessárias neste hospital, desperdiçaram-se fundos europeus.
"Em outubro de 2017, faz agora dois anos, foi adjudicada a obra de alargamento da urgência, que funciona em situação muito precária, com os corredores cheios de macas. Por força da atuação do ministro Mário Centeno a verba foi cativada e dois anos depois a obra não foi feita."
O valor total da obra estava estimado em sete milhões de euros, mas apenas um sairia do Orçamento do Estado, já que o resto seria proveniente de verbas comunitárias.
Segundo Rui Rio, quando o orçamento para a obra acabou por ser autorizado, "há dois ou três meses", mas o empreiteiro recusou fazê-la porque, entretanto, os preços se alteraram.