Saramago, valores de Abril e ataque ao Bloco Central. João Ferreira apela à "mudança" para corrida a Belém

O comunista apresentou-se como candidato presidencial para "transformar o desassossego em confiança".

O eurodeputado João Ferreira apresentou oficialmente a candidatura à Presidência da República. A sala da Voz do Operário foi o cenário escolhido pelo comunista para dar o tiro de partida à corrida a Belém, com meta marcada para janeiro de 2021.

João Ferreira começou por citar José Saramago, em "Ensaio Sobre a Cegueira", para lembrar que "num mundo onde se tenha acabado a esperança, deixamos de olhar para o futuro, deixamos de o ver. A cegueira também é isto". O eurodeputado comunista responde com um verso de Mário Castrim: "Esperança é a maneira como o futuro fala ao nosso ouvido".

O candidato a Presidente da República diz que os portugueses não lhes ouvem falar ao ouvido há muito tempo, e justifica a apresentação da candidatura com a necessidade de organizar o futuro. "Transformar a inquietação em luta, transformar o desassossego em confiança."

"A candidatura que assumo é e será um espaço de luta comum. Da juventude, dos trabalhadores e do povo. É minha e é vossa. Assumo-a com honra, determinação, consciência da responsabilidade e dever", apontou.

João Ferreira, apoiado pelo PCP, chama todos os portugueses para a caminhada até Belém, "independentemente das escolhas do passado". O eurodeputado lembra os que vivem do trabalho e sentem injustiça na repartição de riqueza, as mulheres, os jovens, e os reformados e idosos que aspiram a uma "vivencia gratificante no plano pessoal e social".

"A candidatura apela à força que há em todos. Façamos desta candidatura, parte da mudança que Portugal precisa", apela.

O comunista refere que a crise provocada pela Covid-19 empurrou milhões de pessoas para uma situação de vulnerabilidade extrema, dando como exemplo os lares de idosos e o aumento do desemprego.

João Ferreira recuou ao tempo do estado de emergência, implementado pelo Governo, para fazer frente à pandemia. Afiança que apenas serviu para restringir os protestos e a luta, num "oportunismo dos que querem continuar a enriquecer à custa dos trabalhadores".

"Marcelo está empenhado numa reorganização de forças políticas"

Marcelo Rebelo de Sousa ainda não anunciou a recandidatura à presidência da República, mas as sondagens mostram que leva uma clara vantagem na corrida. João Ferreira lança, por isso, um ataque ao atual inquilino do Palácio de Belém, recordando o apoio ao Governo.

"É notório que o atual Presidente da República está empenhado numa reorganização de forças políticas, assente no branqueamento de uma política de direita e dos seus executores, promovendo a reabilitação do bloco central. Um Presidente da República verdadeiramente comprometido com o juramento que faz não pode deixar de mobilizar o povo português noutro caminho", aponta.

João Ferreira diz que os últimos Governos e Presidentes da República têm convergido no bloqueio da Constituição, sustentando a "promiscuidade do poder económico que alimenta a corrupção".

"Há um outro rumo e uma outra política capaz de responder aos problemas do povo português, assegura o eurodeputado, cuja candidatura diz representar "os valores de Abril no presente e futuro de Portugal".

João Ferreira, biólogo, 41 anos, é eurodeputado do PCP e vereador da CDU na Câmara de Lisboa.

A seis meses do fim do mandato do atual Presidente da República, são já oito os pré-candidatos ao lugar de Marcelo Rebelo de Sousa. André Ventura (Chega), o advogado e fundador da Iniciativa Liberal Tiago Mayan Gonçalves, o líder do Partido Democrático Republicano (PDR), Bruno Fialho, a eurodeputada e dirigente do BE Marisa Matias, a ex-deputada ao Parlamento Europeu e dirigente do PS Ana Gomes, Vitorino Silva (mais conhecido por Tino de Rans), o ex-militante do CDS Orlando Cruz e João Ferreira, do PCP.

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