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O Presidente do Supremo Tribunal de Justiça está a cinco dias de deixar o cargo, mas o último discurso centrou-se mais no futuro do que no passado. António Piçarra pediu reformas na Justiça, mas criticou as opções do Governo para combater a corrupção.
"Se os processos continuarem a durar dez, 15 ou mas anos, será importante criar novos crimes? Diria que para os cidadãos pouco interessa o ilícito ou ilícitos em causa. Interessa-lhes, sim, uma justiça capaz", apontou.
Falta eficácia para gerir os processos complexos, e António Piçarra diz mesmo que essa é a "grande impotência do sistema". "Este continua a ser o maior problema e é uma falta grave que põe em causa o funcionamento de toda a Justiça. Afeta a sua credibilidade e motiva a desconfiança dos cidadãos", lembrou.

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António Piçarra já defendeu a extinção do Tribunal Central de Instrução Criminal, de Carlos Alexandre e Ivo Rosa. E para quem o critica, explica que no ano passado, o tribunal avaliou apenas 20 processos "número que não se afasta de anos anteriores, mesmo desde a sua criação, em 1999, com apenas um juiz".
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"Nenhum tribunal do país tem números tão reduzidos ou aproximados. Nem mesmo os tribunais criminais que julgam os mesmo processos em fase de instrução têm números próximos destes", adiantou.
O presidente do Supremo terminou a intervenção, com uma reflexão sobre a necessidade de reforma da Justiça, afirmando que são necessárias reformas sustentadas em entendimentos políticos estáveis e alargados, reforçando que "os cidadãos têm direito a uma justiça forte, íntegra e independente, não uma justiça popular e, ainda menos, uma justiça populista. Uma justiça séria e elevada".
O discurso e as críticas foram ouvidos de perto por António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa, sentados lado a lado no Supremo Tribunal de Justiça. O Presidente da República e o primeiro-ministro também tiveram discursos marcados para a cerimónia, mas acabaram por não falar.

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