"Silêncio ensurdecedor" do PS. Partido "tem de aceitar que se deixou instrumentalizar" por Sócrates

Ana Gomes reagiu à entrevista de José Sócrates na TVI e exortou o PS a posicionar-se, já que "aquela linha do 'à justiça o que é da justiça, à política o que é da política' não é mais aceitável". Dentro do partido, Pedro Delgado Alves admite que a Operação Marquês põe em causa a força política.

Depois de Ana Catarina Mendes ter considerado injustas as críticas de José Sócrates, que acusou o PS de ter encomendado críticas através de Fernando Medina, Pedro Delgado Alves, outra voz da direção da bancada do PS, admite que o partido não fez soar a tempo as necessárias campainhas.

"É hoje inegável que mesmo aquilo que o próprio José Sócrates dá nota que fez - dá nota que fez e confirma que fez entendendo que não foi ilícito -, mesmo isso não sendo um indício criminal, era algo que os militantes do Partido Socialista, os dirigentes do Partido Socialista, os eleitores da República portuguesa tinham o direito a saber." O socialista considera que os portugueses tinham o direito a conhecer mais cedo estes contornos, "para poderem tomar uma decisão sobre se achavam que aquela pessoa tinha idoneidade para exercer as funções que exerceu, e isso foi-lhes privado, intencional e dolosamente por parte de José Sócrates, que inviabiliza e anatemiza o Partido Socialista, queiramos ou não, gostemos ou não".

Este atraso na ação não deixa de ser, admite Pedro Delgado Alves, um elemento que permite apontar ao Partido Socialista não ter tido defesas e não ter feito "tocar alertas e campainhas suficientes para o impedir".

Quanto à defesa que José Sócrates tem vindo a arquitetar, face à opinião pública, comparando a Lava Jato à Operação Marquês e o próprio a Lula da Silva, o deputado socialista rejeita o paralelismo: "O caso paralelo mais interessante não está para Ocidente, no Brasil." É, por isso, mais adequado estabelecer outra comparação, analisa Pedro Delgado Alves: "É parecido com o que está a ser julgado em Israel [com Benjamin Netanyahu], e com o tipo de intervenção e de construção de narrativa."

Na perspetiva de Pedro Delgado Alves, a defesa que José Sócrates empreende é um mau "combate" porque não vem defender as estruturas democráticas. "Isto não é um combate, daqueles que consideramos defenderem as democracias e as instituições. Isto é um mau combate. Isto é um combate de alguém que está a tentar defender-se, de alguém que acredita, para parafrasear António Costa, para defender-se a si próprio e tentar salvar alguma coisa da sua opinião e ter uma carreira política que subsista."

"Se isso acontecer, é a morte da democracia, é a morte das instituições. Esta é uma linha vermelha." O deputado socialista posiciona-se, mas sem esquecer que o "escândalo" é compreensível, dada a incapacidade que o PS teve para detetar e travar os acontecimentos.

"Silêncio ensurdecedor" do PS

Ana Gomes, em entrevista ao Público e à Rádio Renascença, considera que o silêncio da direção do PS é insustentável. "Este silêncio é, de facto, ensurdecedor, porque dá ideia de que, ou há comprometimento, ou há demissão de uma assunção de responsabilidades que o PS também tem de fazer, porque o PS tem de aceitar que se deixou instrumentalizar por um indivíduo que tinha muitas qualidades mas também tinha tremendos defeitos, designadamente o de se aproveitar do cargo para tirar proveito pessoal."

Para Ana Gomes, há conceitos ultrapassados que já não respondem à confluência do momento. "Aquela linha do 'à justiça o que é da justiça, à política o que é da política', que tem sido utilizada por António Costa, não é mais aceitável, sobretudo a partir do momento em que já não é só o Ministério Público... É também o juiz que vem dizer que aquele indivíduo é corrupto", substancia.

"Há um momento em que vão ter de responder"

Paulo Baldaia, comentador de política nacional da TSF, também analisou os danos colaterais da entrevista de José Sócrates na TVI, e diz ser necessário um momento em que a "liderança do Partido Socialista, que é posta em causa por José Sócrates, mas, acima de tudo, o Partido Socialista que tem respostas para dar sobre o tempo em que Sócrates foi líder".

"Há um momento em que vão ter de responder", argumenta. "Dadas as respostas, designadamente pela líder parlamentar do PS, é um tema que estará, ou como um fantasma a pairar sobre o congresso do partido, que vai acontecer este ano, ou o Partido Socialista resolve de uma vez esse problema, não de um ponto de vista judicial, porque tem de ser a justiça a julgar os crimes que Sócrates terá praticado, mas há uma questão política que o Partido Socialista tem de resolver para si próprio e também para dar uma resposta aos que votaram Partido Socialista naquela altura e que votam Partido Socialista neste momento."

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