"Vitória" de Lisboa no caso Bragaparques permitirá reforçar apoios

Decisão do Tribunal Administrativo Sul não é passível de recurso e evita o pagamento de 239 milhões de euros à Bragaparques por parte do município.

O presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, afirmou esta terça-feira que a "vitória" do município no processo Bragaparques vai permitir à autarquia ir "mais longe" e reforçar os apoios à economia da cidade no âmbito da pandemia de Covid-19.

"Hoje é um dia de uma grande vitória de Lisboa e dos lisboetas. É um dia de vitória do interesse público sobre o interesse particular. É um dia de grande vitória de uma gestão pública criteriosa, rigorosa e exigente face à gestão municipal incapaz de fazer valer a defesa do interesse público", afirmou Fernando Medina (PS), numa conferência de imprensa nos Paços do Concelho, momentos depois de a câmara ter relevado que o Tribunal Administrativo Sul "deu razão" à autarquia.

A decisão daquele tribunal não é passível de recurso e evita o pagamento de 239 milhões de euros à Bragaparques por parte do município.

O presidente da autarquia realçou que a câmara poderá, assim, "libertar recursos" e ir "mais longe" nas medidas de apoio às famílias e às empresas da cidade devido à pandemia de Covid-19, lançando uma terceira fase do Programa Lisboa Protege.

Fernando Medina escusou-se a precisar o montante previsto para os novos apoios, mas disse esperar apresentá-los ainda "no final do mês de março".

A câmara municipal tinha uma reserva de contingência para fazer face a imprevistos, contando com um eventual desfecho negativo deste processo, mas teve de gastar uma parte da verba para face à pandemia.

Em abril do ano passado, o vice-presidente da câmara, João Paulo Saraiva, disse que se o desfecho do caso Bragaparques fosse desfavorável ao município seria necessário "alienar ativos ou recorrer à banca".

Esta terça-feira, Medina sublinhou que a decisão do tribunal "permite que a câmara não tenha que ter uma decisão excecional" para fazer face ao litígio.

"O que esta decisão nos vai permitir é reduzir esta reserva de contingência, reduzi-la ainda mais, como já não teremos essa contingência e fazer esse investimento adicional", destacou.

O presidente da câmara adiantou ainda que "este processo regressa à sua estaca de reabertura do Tribunal Arbitral", mas já de acordo com os termos do Tribunal Administrativo, "que é a nulidade dos negócios operados em 2005".

"A partir daí, o tribunal pode desenvolver o seu trabalho para poder aferir os valores que o município couber se for determinado que há a apurar em termos de contas", explicou.

"Isto reconduz o debate ao sítio onde a câmara sempre disse que ele se deveria reconduzir, que é no fundo a avaliação do Parque Mayer", acrescentou o autarca.

O processo agora concluído resulta de uma controvérsia entre a autarquia e a Bragaparques com base num negócio feito há quase duas décadas e que pretendia a requalificação da zona.

A autarquia acordou com a Bragaparques uma permuta de terrenos em que os terrenos e os equipamentos culturais do Parque Mayer, então propriedade da empresa, seriam cedidos à Câmara Municipal de Lisboa, que, em troca, cedia à empresa lotes municipais no local da antiga feira popular, em Entrecampos. A Bragaparques adquiriu ainda um terreno lateral à feira, propriedade municipal, que foi a hasta pública.

Em 2004, a permuta dos terrenos deu origem a um processo que acabaria em tribunal, originando uma crise governativa que levou à demissão, em 2007, do então presidente da câmara, Carmona Rodrigues.

Em 2008, já sob a presidência de António Costa, a Câmara de Lisboa aprovou que a autarquia deveria defender em tribunal a nulidade da permuta dos terrenos, anulação que viria a ser decretada em 2010 pelo Tribunal Administrativo e Fiscal de Lisboa.

Em 2014, a autarquia aprovou um "acordo global" com a Bragaparques para a aquisição dos terrenos da antiga Feira Popular, em Entrecampos, e do Parque Mayer, por 101.673.436,05 euros.

No entanto, no mesmo ano, o grupo Bragaparques pediu num Tribunal Arbitral uma indemnização à Câmara de Lisboa com base nos lucros que deixou de ter devido ao falhanço do processo de permuta dos terrenos, tendo, em 2016, este tribunal fixado que a Câmara de Lisboa teria de pagar uma indemnização de 138 milhões de euros à empresa.

Na sequência desta decisão, a autarquia recorreu, tendo esta terça-feira anunciado que o Tribunal Central Administrativo Sul lhe deu razão, de forma definitiva.

Atualmente, estão a funcionar no Parque Mayer o Teatro Maria Vitória e o Cineteatro Capitólio, que, depois de ter estado encerrado durante mais de 30 anos, sofreu obras de requalificação concluídas no final de 2016.

A Câmara de Lisboa prevê a requalificação do Parque Mayer, no "estrito cumprimento" do Plano de Pormenor do Parque Mayer, em vigor desde abril de 2012, com infraestruturas de "fruição cultural" e "numa profunda ligação" com o Jardim Botânico e o Príncipe Real, de acordo com um relatório técnico da Zona de Emissões Reduzidas Avenida Baixa Chiado (ZER ABC), apresentado em fevereiro de 2020.

Mais Notícias

Outros Conteúdos GMG

Patrocinado

Apoio de