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A abstenção nas eleições europeias foi a mais alta de sempre do Portugal democrático, mas a explicação está sobretudo numa mudança na forma como os eleitores estão recenseados, nomeadamente no estrangeiro.
Entre quem vota em território português a abstenção até diminuiu.
A explicação está naquilo que em estatística se chama uma "quebra de série", ou seja, como define o Instituto Nacional de Estatística (INE), "uma alteração nas normas estabelecidas para definir ou observar uma variável ao longo do tempo".
Quando se fala em abstenção esta baseia-se numa conta simples: a percentagem de eleitores que foram votar em relação aos que estão inscritos para o fazer.
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O problema é que o número de inscritos para votar teve em 2019 uma enorme novidade: o novo recenseamento automático (e não a pedido do próprio) que fez com que no estrangeiro o número de recenseados, em condições de votar, passasse de apenas 300 mil em 2014 para mais de 1,4 milhões em 2019, sendo aí que a abstenção, que sempre foi enorme, disparou ainda mais.
Foi pouco, mas abstenção em território nacional desceu
Numa altura em que ainda faltam contar 7 de 100 consultados, a taxa de participação lá fora passou de 2,01% para apenas 1,01% o que só por si não parece, à primeira vista, muito, mas como o número de eleitores registados quadruplicou isto significa que nas últimas europeias não tinham ido votar cerca 200 mil portugueses no estrangeiro e agora foram muito mais de um milhão, mesmo que em números absolutos até tenham existido o triplo de eleitores lá fora a votar (de 4.540 para mais de 12 000).
De facto, a percentagem total da abstenção (território nacional + estrangeiro) subiu: 66,09% em 2014 para 68,3% em 2019.
No entanto, se olharmos apenas para os números em Portugal a abstenção não aumentou, até desceu um pouco: 65,34% para 64,68%, numa altura em que todas as freguesias nacionais já estão contadas.
Se olharmos para números absolutos, em Portugal até houve mais 21.934 eleitores a votar.