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O Estado gastou, em 2018, 925,8 milhões de euros com Meios Complementares de Diagnóstico e Terapêutica feitos no privado, mais 99,4 milhões que em 2015, no início da legislatura.
Parecendo confirmar as denúncias dos médicos que dizem que nunca se fizeram tantos exames no privado, os números do Ministério da Saúde também revelam que o aumento de despesa tem acelerado nos últimos anos: +3,2% em 2016, +3,3% em 2017 e +5,1% em 2018, numa subida acumulada de 12% entre 2015 e 2018.
No último ano, o Serviço Nacional de Saúde (SNS) gastou nos privados 444,8 milhões de euros em Meios Complementares de Diagnóstico e 481 milhões em Meios Complementares de Terapêutica.
Os números agora enviados em resposta escrita ao deputado do PS Renato Sampaio (que em fevereiro questionou o Governo para perceber quanto é que o Estado gasta com a saúde dos portugueses no privado) também revelam um aumento de 81,9 milhões de euros entre 2015 e 2017 na despesa da ADSE com o regime convencionado (394 milhões em 2017).
O jornalista Nuno Guedes dá conta dos números do aumento de exames feitos no setor privado
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Equipamentos ultrapassados e avariados nos hospitais
O presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares (APAH) acredita que os números agora revelados estarão sobretudo relacionados com prescrições dos médicos de família e não surpreendem, mas sublinha que faltam aqui outras áreas onde os hospitais públicos também têm de recorrer ao privado por falta de capacidade de resposta.
Alexandre Lourenço admite que o envelhecimento da população portuguesa aumenta a procura, mas isso não explica tudo, recordando a subcontratação dos hospitais ao setor privado em áreas onde são "obrigados a contratar por falta, obsolescência ou avaria de muitos equipamentos dadas as limitações que existem ao investimento".
O representante dos administradores hospitalares afirma que naturalmente os equipamentos têm um "tempo de vida" e nem para fazer a sua substituição há dinheiro suficiente, o que obriga a recorrer cada vez mais ao privado.
A Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares recorda ainda que há muito tempo que não existem grandes revisões das tabelas de pagamentos do setor convencionado o que impede um maior controlo dos custos do Estado com os exames no privado, travando a concorrência e a entrada de novos prestadores.
O presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, que representa os médicos de família que prescrevem grande parte dos exames feitos no privado, destaca o envelhecimento "significativo" da população - "não há mais médicos mas há mais doentes".
Rui Nogueira sublinha que seria muito difícil ter estruturas no SNS para responder a todo o volume de necessidades que não para de crescer, dando o exemplo, entre outros, da fisioterapia, das análises clínicas, das endoscopias, dos raios X, destacando um caso: a aposta em fazer mais colonoscopias para evitar os efeitos negativos da deteção tardia do cancro colorretal.