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A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica Portuguesa já identificou mais de 300 denúncias, desde janeiro, mês em que foi criada. O número foi revelado à TSF na semana passada por Daniel Sampaio, psiquiatra que faz parte da comissão. Num olhar sobre a realidade, o Frei Bento Domingues, em entrevista à TSF, afirma que é "reflexo do movimento que o Papa Francisco criou. Mesmo os bispos e dioceses que não estão a colaborar, como deviam, é impossível voltar atrás. Mas ficam, pelo menos, com essa consciência".
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O frei Bento Domingues considera que deve haver um maior escrutínio, logo no seminário, para detetar quem tem essas "tendências" e que estes "desvios" acabarão por ser eliminados. "Se eles [padres] sabiam que tinham essas tendências, nunca deviam aceitar [a função]", defende.
Ouça a entrevista com Frei Bento Domingues.
Os abusos sexuais de menores, no seio da Igreja Católica, merecem por parte do Frade a maior das reprovações: "É algo anticristão, anti-humano, é um problema de antropologia, cristologia, da Igreja."
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"O Papa Francisco abriu a Igreja a partir dos pobres, dos excluídos, das mulheres. Ele começou um movimento que é realmente extraordinário. Eu creio que ele já conseguiu muito. Já não é possível fechar a porta. Escancarou as portas e as janelas." Frei Bento Domingues recorda que no Vaticano, o atual Papa está a viver "um outro estilo de vida, escolheu não viver na opulência".

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Sempre defendeu uma maior integração dos homossexuais e das mulheres na Igreja Católica e considera que, mais do que nunca, esse cenário pode ser uma realidade, já que é o Papa Francisco ao comando da Igreja. "A única coisa que [a Igreja] pode fazer é acompanhar essas pessoas. Os homossexuais não se podem considerar os condenados", afirma.
Questionado sobre se a Igreja deveria incorporar casamentos homossexuais, o Frei Bento Domingues tem algumas reservas, porque "não tem o mesmo significado do casamento de que fala a Igreja", mas não tem dúvidas: "Essas pessoas devem ter uma organização, na qual se podem apoiar."

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As dúvidas também se dissipam, na resposta à pergunta "se é possível fazer mais para envolver as mulheres na Igreja Católica": "O que existe é uma vergonha, não existe um batismo para mulheres outro para homens. São todos discípulos de Cristo. Não deve haver discriminação. É preciso vencer uma mentalidade. Fico mesmo agoniado, só por ser mulher já não pode assumir determinada função."