Águas residuais podem antecipar picos de Covid-19 e prevenir futuras pandemias

Análises recentes às águas residuais das ETAR do Freixo e de Sobreiras não indicam uma subida acentuada no número de novos casos de Covid-19 nas próximas semanas.

A análise às águas residuais para detetar vestígios de Covid-19 é uma forma complementar de seguir a pandemia e perceber o nível de presença e propagação da doença num determinado território. A convite da empresa Águas do Porto, o Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR) analisa semanalmente as águas que chegam às duas estações de tratamento da cidade e os dados já estão a ser usados pelas autoridades de saúde.

Esta é uma linha de investigação que está a ser seguida por vários países da Europa e já é feito em Lisboa e no Porto desde o início da pandemia. Ana Paula Mucha, investigadora do CIIMAR, afirma que as análises podem servir "para detetar o início de surtos ou pode ser útil para averiguar se as medias de confinamento estão ou não a ser eficientes".

Os resultados, segundo a investigadora e professora da Universidade do Porto, têm de ser encaradas "como complemento ao estudo epidemiológico que é feito nas populações" e podem sofrer interferência de fatores "como a pluviosidade ou a população flutuante", que podem diluir as amostras que chegam às estações de tratamento do Freixo e de Sobreiras. No entanto, Ana Paula Mucha indica que os recentes picos de coronavirus no país têm vindo a ser previamente detetados nas análises.

Apesar das interferências, a investigadora defende que este tipo de rastreio é "mais económico do que as análises que são feitas à população" e podem ser uma mais-valia na deteção rápida de novas variantes.

Para já, estes testes não detetam as diferentes estirpes do coronavirus e Ana Paula Mucha lamenta que não exista, no país ou na Europa, um registo comum dos resultados das análises. A estratégia passa por comunicar os resultados à empresa Águas do Porto, que por sua vez encaminha para as autoridades de saúde.

Mesmo com vestígios de Covid-19 nas águas residuais que chegam às estações de tratamento do Freixo e de Sobreiras, a investigadora garante que o vírus é removido "de forma eficiente", já que são comparadas amostras à entrada e à saída das ETAR e não é encontrada a presença de "material genético do vírus".

As autoridades de saúde "estão constantemente a questionar" o CIIMAR e a Águas do Porto sobre um eventual novo pico de infeção. A verdade é que os resultados recentes das análises às águas residuais são animadores, "ainda não indicam uma subida", inclusivamente, numa das ETAR, os valores são tão reduzidos que se encontram "próximos do limite de deteção", adianta Ana Paula Mucha.

O rastreio às águas residuais não se esgota na Covid-19. A investigadora e professora sublinha que, com esta estratégia, é possível "detetar o aparecimento de novos vírus em circulação na população e, eventualmente, conseguir prevenir numa fase precoce futuras epidemias ou até pandemias".

As análises às águas residuais são um trabalho de equipa, desenvolvido por seis investigadores do CIIMAR em parceria com a empresa Águas do Porto.

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