"É gratificante contribuir para a sociedade." Reclusos de Coimbra constroem confessionários para JMJ

Cinco reclusos do estabelecimento prisional de Coimbra estão, desde fevereiro, a construir 50 confessionários para a Jornada Mundial da Juventude. A TSF esteve na cadeia de Coimbra para ver como estão a decorrer os trabalhos e falar com quem está envolvido no projeto.

PorMarta Melo

À medida que nos aproximamos da sala onde os cinco reclusos trabalham vão sendo visíveis placas de madeira amontoadas. Já foram cortadas e estão prontas para dar forma a 50 confessionários para a Jornada Mundial da Juventude. Um trabalho que se repete nas cadeias do Porto e de Paços de Ferreira.

"Neste momento, estamos a fazer a união da parte de trás dos confessionários", descreve-nos o recluso que coordena a equipa e que nos pede para não ser identificado.

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"O fundo é pintado em branco, onde leva uma onda, amarela. A lateral é branca e depois leva um acompanhamento do terço. Isto tem uns buracos a imitar um terço." Por esta altura, têm "13 ou 14 feitos e o resto é envernizado".

Os cinco reclusos estão a trabalhar neste projeto desde meados de fevereiro, numa rotina que vai das 9h00 às 17h00.

Para construir os confessionários, têm de seguir o projeto que lhes foi enviado e "executar tal e qual como está". "Depois a confeção é feita, tudo numerado peça por peça para chegar ao local e montar tipo um puzzle", descreve.

Sobre a dificuldade deste trabalho, o homem que coordena a equipa considera que, "para quem percebe um bocado da arte, é um projeto normalíssimo". O que é o seu caso: "Infelizmente sim, ou felizmente, percebo desde os 13 anos."

"É como quando compramos um puzzle para os nossos filhos e eles estão a montar. Vêm no mapa. Simplesmente, só temos de fazer caso ao que põem no mapa", explica outro recluso. É serralheiro e não tinha experiência nesta área: "Tendo uma ideia de serralharia já é mais fácil."

Os confessionários devem estar concluídos em maio e nas oficinas de Coimbra acredita-se que tudo estará pronto a tempo. "Claro que sim. Sem dúvida alguma. Quando me comprometo com um projeto é para levá-lo até ao fim", atira o responsável desta equipa.

Já sobre a participação neste projeto, considera "que é bom principalmente para a população reclusa": "Um incentivo para que possam optar por uma arte e para, quando saírem, saírem com algumas habilitações de marcenaria. Faz sempre falta, visto que a mão-de-obra está tão escassa."

"É gratificante e é sempre bom sabermos que temos aqui um bocado de nós e da nossa arte."

Outro recluso que falou à TSF admite também que "é gratificante estar aqui e poder contribuir para a sociedade". Ainda assim deixa um lamento: "Em junho, se Deus quiser, vou embora, mas gostava também de poder contribuir lá fora e montá-los. Ver mesmo até ao fim do trabalho terminado. Infelizmente não vamos poder fazer isso, mas, se Deus quiser, vou estar lá [na jornada]."

O diretor do Estabelecimento Prisional de Coimbra, Orlando Carvalho, vê "com satisfação" a participação da cadeia neste projeto. "Significa que temos competência e recursos para efetuar este trabalho. Agora a nossa obrigação é fazê-lo bem e apresentá-lo no tempo que nos foi conferido para tal e que acordámos."

"Recebemos o layout dos trabalhos, foi dado aos mestres das oficinas e foram vistos que reclusos eram necessários de cada área e foram escolhidos entre os melhores de cada setor para afetar a este projeto", explica.

Orlando Carvalho considera ainda que este trabalho é importante os reclusos. "As pessoas sentem o reconhecimento. Veem a sua autoestima a aumentar porque participam e fazem parte de um projeto tão importante e que é tão falado como este. Além disso, também são remunerados de forma mais significativa".

Por cada dia de trabalho, os reclusos recebem 10 euros.

O Estabelecimento Prisional de Coimbra conta com várias oficinas, nomeadamente de encadernação ou estofaria. Esta também não é a primeira colaboração do estabelecimento. "Temos tido vários quer na cidade, com o Palácio da Justiça, quer com o Supremo Tribunal de Justiça. Somos contactados porque as oficinas têm uma multipluralidade e capacidade de intervenção, quer pelo reconhecimento da qualidade do trabalho ali efetuado."

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