O subdiretor do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e Dependências (SICAD) diz compreender as dificuldades da Câmara Municipal do Porto em lidar com o problema da droga, mas afirma que nenhum Governo o vai resolver.
Manuel Cardoso sublinha, à TSF, que a criminalização dos consumos na via pública proposta pelo autarca Rui Moreira não é o caminho a seguir desde logo pelo custo financeiro que representa: "É abissalmente mais caro ter uma pessoa presa em termos de diária do que tratá-la."
Às exigências de Rui Moreira, que nos últimos dias tem criticado o que descreve como a inação do Ministério da Administração Interna (MAI) e da Polícia de Segurança Pública (PSP), o subdiretor do SICAD responde que "nenhum ministro da Administração Interna vai resolver o problema da cidade [do Porto] naturalmente", da mesma forma que "nenhuma situação de prisão resolve o problema da cidade, tal como não resolveu nos anos 1980 e 1990, quando os consumos eram criminalizados".
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"Foi a descriminalização e a intervenção integrada que foram sendo feitas no início do século em particular que fizeram com que conseguíssemos ter um controlo das infeções e das mortes por overdose", sublinha, destacando "o modelo português reconhecido em termos mundiais como uma boa prática".
Apesar da aplicação do programa a nível nacional, Manuel Cardoso reconhece que houve mais dificuldades na intervenção no Porto em comparação com Lisboa: "Enquanto em Lisboa se deitou abaixo o Casal Ventoso, e se construiu o bairro da Quinta do Loureiro, houve todo um trabalho sócio-sanitário que acompanhou essa intervenção. Aquilo que aconteceu no bairro do Aleixo, por exemplo, não teve nenhum acompanhamento específico para ajudar as pessoas. Naturalmente limitaram-se a distribuir-se pela cidade."
"Mas é incrível: o Estado investe, através do SICAD e do Ministério da Saúde em particular, na região Norte cerca de 1,3 milhões de euros, dos quais mais de meio milhão na cidade do Porto", destaca o subdiretor do SICAD.
Questionado sobre o que está a falhar, Manuel Cardoso responde que "a falta de investimento nas estruturas e nas respostas faz com que a referenciação no sistema integrado de intervenção não esteja a funcionar como devia desde há uns anos a esta parte".
"Quando os políticos acham que o problema está resolvido, e começam a despreocupar-se, há um recrudescimento das situações", reforça.
O subdiretor do SICAD constata o consumo de heroína como uma das dificuldades no Porto, mas defende que para as resolver é preciso mais do que dinheiro: "O que falhou ou o que está a falhar é alguma falta de investimento e capacidade para pôr a máquina a funcionar, de modo interligado, para disponibilizar acesso aos serviços para resolver os problemas de consumos e dependências das pessoas que os querem ver resolvidos."