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João Rosas e Eduardo Ribeiro, intermediários no mercado da lampreia, conversam no cais de Caminha, enquanto aguardam pelas embarcações que foram à pesca no rio Minho. Andam preocupados com a época, que começou no dia 2, e ainda não deu peixe para venda. Os poucos exemplares capturados até agora estão a ser comprados aos pescadores por "50 e 60 euros", de acordo com a Associação de Pesca Profissional do rio Minho e Mar. O excesso de caudal, por causa da chuva que tem caído este inverno, é uma das possíveis causas apontadas para a falta do ciclóstomo, que nesta altura do ano sobe os rios, vinda do mar.
Os revendedores não sabem o que dizer aos clientes, principalmente restaurantes de Lisboa, que habitualmente são os primeiros a procurar lampreia.
"Aos meus clientes já disse que [a época] só abria dia 10. Aos que me ligam de Lisboa, digo que está fechado, a alguns já disse que abre dia 15 por causa do mau tempo e agora vou dizer que há algumas lampreias mas que estão caras. O que vou dizer? Andamos a mentir às pessoas?", diz Eduardo a João Rosas. Este último anda agastado, porque em oito dias apenas conseguiu comprar uma lampreia. "As lampreias vem atrasadas, não sei. Isto não quer dizer que não vai ser um ano bom, mas para já não há", afirma.
Habitualmente, no rio Minho há em média centena e meia de embarcações portuguesas e cerca de 60 espanholas a pescar lampreia.
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Os pescadores atracam os barcos, desanimados. "Ainda não apanhei nenhuma desde que começou [a faina]. Já fui cinco vezes à pesca. Já ando nisto há vinte e tal anos e nunca comecei assim", desabafa Paulo Silva, mostrando as mãos vazias. "Não sei o que se passa. Os antigos diziam que era preciso vir chuva para virem lampreias. Ao que tem chovido era para estarem a entrar aí camiões de lampreias", acrescenta.
Manuel Alexandre, pescador no rio Minho há quase 60 anos, também não tem explicação para a escassez.
"Que me lembre, nunca aconteceu ser assim no princípio. Já tive muitas marés sem apanhar. No tempo do meu falecido pai, havia assim umas marés em que escasseava e até se dizia que era por causa da bruxa", recorda, referindo: "Ainda agora estive a falar com um pescador espanhol, o 'Deus', que já tem seis marés e ainda não apanhou nenhuma. Digo-lhe uma coisa, este ano nem Deus nem o Diabo apanham lampreias. Não sei como é que vai ser isto".
Com o divino ciclóstomo a escassear no rio Minho [e noutros rios], os preços dispararam.
"Apanhei hoje (ontem) a primeira do ano. Está difícil. Até dá vontade de desistir. Parece que apareceu hoje também a primeira lampreia em Viana (rio Lima) ao fim de nove dias do começo da época", conta Rui Castro, indicando que os preços "andam pelos 50, 60 e 70 euros". A sua primeira lampreia foi vendida a um cliente de Entre-os-Rios.
Enquanto isso, os intermediários João Rosas e Eduardo Ribeiro continuam no cais de Caminha, à espera de melhores marés. São concorrentes, mas entendem-se e cada um tem negócio combinado com os seus pescadores.
Na última maré, Eduardo lá comprou dois exemplares a 50 euros cada um. "Foram dez barcos ao rio e só um é que conseguiu lampreias", concluiu.