- Comentar
Colorido e acolhedor, o gabinete Girassol foi decorado por Tatiana Jesus e Ana Moreira. Desde Outubro do ano passado, as duas jovens psicólogas constituem a equipa da RAP de Leiria, a Resposta de Apoio Psicológico criada há cerca de um ano, dirigida às crianças e jovens vítimas de violência doméstica.
Em todo o país, há 31 RAPs com 66 psicólogos distribuídos pelo Norte, Centro e Alentejo. Pelos dados enviados à TSF pela Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG), entre Setembro de 2021 e 31 de Agosto deste ano, as RAPs atenderam 6062 crianças e jovens vítimas de violência doméstica, a maioria do sexo feminino, com idades entre os 7 e 16 anos. O vice-presidente da CIG, Manuel Albano, considera que é um número "expressivo, que demonstra e consolida a necessidade de resposta" às crianças que são "vítimas directas da violência".
Manuel Albano garante que estão a ser feitos todos os esforços para que as respostas de apoio psicológico cheguem a mais zonas do país
Até à criação das RAPs, não existia uma estrutura dedicada em exclusivo ao apoio psicológico dos menores vítimas de violência doméstica. Daí que no arranque do projecto experimental, tivessem sido poucos os pedidos, mas Manuel Albano está convencido que "a consolidação da resposta vai duplicar ou triplicar estes números".
Manuel Albano prevê que o número de crianças e jovens vítimas de violência doméstica que precisem de apoio psicológico aumente
Subscrever newsletter
Subscreva a nossa newsletter e tenha as notícias no seu e-mail todos os dias
No gabinete Girassol, a maioria das crianças e jovens apoiados pelas duas psicólogas tem entre 7 e 16 anos, mas já foi atendida uma criança de 4 anos. Ana Moreira revela que foram detectados casos de "isolamento social, tristeza, sintomatologia depressiva e ansiosa", Algumas crianças queixam-se de pesadelos, outras "assumem o papel de estar bem presente" na família, para "garantir que está tudo bem, o que representa um peso muito grande, especialmente para as crianças pequenas".
Tatiana Jesus nota que as dificuldades na família podem ter "reflexos na escola", seja no aproveitamento ou comportamento nas aulas. Dificuldades de concentração, apatia, medo, comportamentos agressivos e até pensamentos de suicídio são algumas das situações reportadas nas RAPs, mas se alguns pais assinalam melhorias nos filhos, outros são menos colaborantes. "Há alguma resistência por parte de alguns pais, sobretudo os alegados agressores, que vêem isto como uma acusação".
Conheça o trabalho do gabinete Girassol
Além de atenderem as crianças e jovens no gabinete Girassol, em Leiria, Ana Moreira e Tatiana Jesus são itinerantes. Percorrem quilómetros, para levar as sessões de apoio psicológico aos vários concelhos do distrito de Leiria. Os pedidos de apoio têm aumentado desde Abril, mas a presidente da associação Mulher Século XXI, que suporta a RAP, está preocupada com o futuro do projecto. Susana Pereira realça que estas respostas de apoio psicológico são totalmente financiadas por fundos comunitários, que estão garantidos apenas até Junho de 2023. Com o próximo quadro comunitário ainda por definir, as candidaturas das equipas de apoio psicológico estão paradas e as RAPs estão em risco. Susana Pereira lança "um grito de alerta muito grande: por favor, tenham em conta que temos estruturas muito importantes que, por falta de quadro comunitário e por não estarem inscritas em Orçamento do Estado (OE), correm o risco de encerrar".
Susana Pereira alerta que não existe um quadro comunitário ao qual as equipas de apoio psicológico se possam candidatar
A presidente da Mulher Século XXI preconiza que as RAPs passem "para a esfera do OE", até para não desperdiçar "recursos humanos competentes e esforçados", como é o caso das psicólogas Ana Moreira e Tatiana Jesus. "Cada vez temos mais casos e é uma resposta importante. Existe uma necessidade e se nós faltarmos, o que poderá ser feito?", questionam.
Susana Pereira alerta para os riscos de perder estes recursos
O vice-presidente da CIG garante que "todos os esforços estão a ser feitos para que estes projectos continuem e sejam reforçados", admitindo estender as RAPs a mais territórios. Manuel Albano espera que até ao final do ano, este processo esteja terminado e "a abertura de um novo quadro comunitário permitirá fazer um desenho diferenciado das respostas e com o seu respectivo financiamento".
A autora não segue as normas do novo Acordo Ortográfico