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O presidente do Conselho Nacional de Saúde deixou, esta quarta-feira, duras críticas à intenção do Governo de tornar obrigatório o uso da aplicação StayAway Covid nos contextos laboral, escolar e académico. À TSF, Henrique Barros fala de uma tentativa de criar medo entre os portugueses através de um instrumento que foi "inventado, proposto e desenvolvido como um instrumento de não-discriminação e integração".

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O aviso ao Governo é feito de forma direta: "A opção por medidas de contenção da infeção com base em atitudes coercivas é o caminho mais seguro para o falhanço."
Defensor da aplicação StayAway Covid desde muito cedo, Henrique Barros explica que, ao contrário de coerção e medo, o país precisa de "uma grande partilha de responsabilidades"
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Henrique Barros aponta "o caminho mais seguro para o falhanço".
"Temos de nos proteger a nós e aos outros, mantendo a distância física e evitando as aglomerações. Por isso, é mais importante que eu use a minha máscara em casa se tossir do que que ande de máscara na rua tranquilo, a assobiar e a apanhar sol", sublinha o médico.
O Governo vai enviar, ainda esta quarta-feira, uma proposta de lei para que a Assembleia da República legisle no sentido de tornar obrigatório o uso da app StayAway Covid em contexto laboral, escolar e académico. Perante esta intenção, Henrique Barros alerta para o que diz ser uma grande sensação de incompreensão por parte da população.
Os mais velhos e mais pobres, onde a infeção é mais frequente, nem sequer têm telefones para poder descarregar a aplicação
"Dói-me, verdadeiramente, passar de um instrumento que foi pensado e proposto como um instrumento solidário, para nos ajudarmos mutuamente e como forma de contribuirmos para que não houvesse tanta transmissão de infeção, para algo obrigatório que vai atemorizar as pessoas. Elas não vão perceber nem há nenhuma razão para essa obrigatoriedade", garante o médico, que lembra que "centenas de milhares de portugueses, nomeadamente os mais velhos e mais pobres, onde a infeção é mais frequente, nem sequer têm telefones para poder descarregar a aplicação".
Henrique Barros vai mesmo mais longe ao admitir que não compreende a opção do Governo: "Neste momento sou incapaz de ver uma razão para que um instrumento que foi inventado, proposto e desenvolvido como um instrumento de não-discriminação e integração possa ser usado para discriminar e até criminalizar."
Além da obrigatoriedade da utilização da aplicação, o Governo quer também que a máscara passe a ser obrigatoriamente utilizada na rua quando não for possível garantir a distância de segurança.
"Se criarmos uma situação de medo, coerção e vigilância pessoal, as pessoas se calhar vão usar a máscara na rua", começa por reconhece Henrique Barros, "mas chegam a casa e, perante os companheiros, amigos e família estão a tossir umas para as outras."
Para evitar situações como essas, o médico garante que há outras opções que permitem "ganhar muito mais" no combate português à Covid-19, embora obriguem a um novo esforço. "Somos inteligentes, capaz de pensar, raciocinar e compreendemos aquilo que nos explicam, temos é de fazer esse esforço. Dá mais trabalho do que simplesmente decretar qualquer coisa? Dá. Mas provavelmente ganha-se muito mais."
E para lá de legislar, há outras possibilidades? Há, garante o médico, que até admite estar a por a foice "em seara alheia".
"Uma rádio ou uma TV deviam, de forma simples, escorreita, clara e muito frequente ao longo do dia, lembrar e informar sobre estas coisas", defende o presidente do Conselho Nacional de Saúde, que dá um exemplo pessoal: "Eu próprio, enquanto pessoa, se me esquecer de por a máscara em determinada situação e o rádio me disser: 'Se estiver numa sala com mais alguém, ponha a máscara', sou capaz de me lembrar e já ponho."
A aplicação StayAway Covid está disponível para os sistemas operativos móveis Android e iOS. A aplicação móvel, lançada no dia 1 de setembro, permite rastrear, de forma rápida e anónima e através da proximidade física entre smartphones, as redes de contágio por Covid-19, informando os utilizadores que estiveram, nos últimos 14 dias, no mesmo espaço de alguém infetado com o novo coronavírus. A sua instalação é, até ao momento, voluntária.