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A atleta amadora Maria Coelho vai fazer os cerca de 740 quilómetros da Estrada Nacional nº 2 (EN2), entre Chaves e Faro, a caminhar. O objetivo é angariar quase 16 mil euros para pagar as despesas de 12 meses de terapia a Duarte Silva, um menino autista de quase cinco anos, que vive em Lamego. A aventura começa no dia 31 de março.
Duarte nasceu em abril de 2018, mas só aos 28 meses lhe foi diagnosticado autismo. Um problema que afeta o desenvolvimento neurológico da criança, que gera alterações na comunicação, dificuldade ou ausência de interação social e mudanças no comportamento.
Ouça aqui a reportagem da TSF
O rendimento dos pais, Sofia Mendonça e Vítor Hugo Silva, não chega para suportar os 1300 euros mensais que custa tratar o Duarte numa clínica especializada em Penafiel, cidade onde também frequenta uma escola terapêutica, e que está a prepará-lo para ser autónomo e independente no futuro.
Maria Coelho é uma alentejana que vive e trabalha em Lamego há 15 anos. É atleta da associação desportiva Lamego Pelos Trilhos. Quando tomou conhecimento da situação do Duarte e da família decidiu que tinha de ajudar.
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Como gosta de correr, Maria definiu como objetivo fazer a EN2, entre Chaves e Faro, a caminhar. "É uma estrada que tem imensos quilómetros para poder vender e como conheço muitas pessoas dos trails achei que as podia convidar a ajudar", justifica. O objetivo é "vender" quilómetros a dois euros cada um. Por exemplo, quem quiser acompanhar a atleta ao longo de 10 quilómetros, deverá contribuir com 20 euros.
Um sacrifício grande
Maria Coelho já recebeu dezenas de intenções de apoio. Diz estar "muito surpreendida pela positiva", pois "há grupos que se estão a organizar", o que a deixa "muito feliz". Caminhar, correr, de bicicleta ou de mota são opções para entrar nesta aventura. "Só não vale de carro", avisa a atleta.
Há, no entanto, outras formas de ajudar. O ideal é passar pela página de Facebook "Em Busca De Um Futuro Pelo Duarte" na qual podem ser obtidas informações e também contactar a atleta. "O meu sonho é angariar o suficiente para pagar um ano de terapias ao Duarte. Sei que é difícil e vai ser um sacrifício grande, mas meti isso na cabeça e vou conseguir", acredita Maria. Sofia Mendonça agradece-lhe "de coração". "Ela tem sido incansável e já nos ajudou muito.", refere.
Joana Mourão, residente em Vila Real, é uma das pessoas que já manifestou a intenção de ajudar e vai fazer um percurso entre Vila Real e Lamego, no dia 2 de abril. "Fazer um pouco e esse pouco fazer é diferença" é o seu objetivo.
Ao longo da EN2, Maria pretende ainda participar em sessões de esclarecimento sobre autismo. Entende que é necessário "despertar consciências, pois os autistas ainda são muito incompreendidos". Para o efeito vai contar com profissionais de saúde.
"Morta por começar"
A caminhada de Maria Coelho começa no dia 31 de março, no quilómetro zero da EN2, em Chaves, às 08h30, e prevê chegar a Faro no dia 21 de abril, por volta das 12h30. Vai fazer uma média de 37 quilómetros por dia, maioritariamente a caminhar. "Estou preparada. Vamos a isso. Estou morta por começar. Quando me faltarem forças, vou lembrar-me do Duarte para poder continuar."
Para cumprir esta missão teve de tirar férias no Hospital de Lamego, onde trabalha. Um amigo de Maria, que é bombeiro, comunicou com corporações dos concelhos atravessados pela EN2 para lhe poderem assegurar a pernoita nos quartéis. As refeições são por conta dela, mas já teve convites para almoçar ou jantar em restaurantes nos locais de passagem.
"Muitas melhorias"
O acompanhamento do Duarte na clínica em Penafiel tem permitido "muitas melhorias". Segundo a mãe, "o diálogo ainda não é fluente porque não entende muitas coisas, mas já fala quase tudo". Ao nível da autorregulação após o início de uma crise "agora demora dois ou cinco minutos, enquanto antes demorava duas horas". Mais: "Já sabe as cores, o nome dos animais e de meios de transporte, entre outras coisas."
A frequência da escola terapêutica vai continuar a ser necessária "até entrar para a escola primária", enquanto os tratamentos na clínica vão ser necessários "ainda por muito tempo". Até agora, os custos têm sido suportados com ajudas, nomeadamente da Junta de Freguesia de Avões, além do dinheiro angariado através da "venda de rifas, sorteios, uma caminhada solidária" e outras iniciativas. "Também faço bolos para fora e limpezas", acrescenta Sofia Mendonça.