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Os portugueses são, tradicionalmente, mais solidários no Natal. Todos os anos, multiplicam-se as campanhas que apelam a doações para ajudar as famílias mais carenciadas a festejar a época natalícia. A maioria das doações são de bens alimentares, mas e se os que mais precisam pudessem escolher o que lhes é oferecido? Na grande maioria dos casos escolheriam também bens alimentares.
Foi o que demonstrou a iniciativa "Cartão Dá", um projeto-piloto da Cruz Vermelha Portuguesa (CVP) em parceria com a Sonae, no primeiro ano de funcionamento, e só nos últimos seis meses, mais 900 famílias passaram a beneficiar da ajuda.
As mais de 4 mil famílias abrangidas recebem um cartão carregado com um saldo pré-carregado através de donativos. Esse saldo pode depois ser em compras nas lojas Continente.
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Segundo a Cruz Vermelha, 94% das compras com este cartão solidário foram em produtos alimentares (dos quais metade em frescos e congelados), 5% em produtos de higiene e limpeza e apenas 1% em bebidas alcoólicas, segundo dados de junho deste ano.
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As famílias podem de forma "mais digna, mais autónoma, fazerem as suas escolhas", destaca Ana Jorge, presidente da Cruz Vermelha Portuguesa, em declarações à TSF.
Aquando o lançamento, em 2021 (como uma solução para ajudar as famílias durante a pandemia), houve alguma resistência à ideia. "Havia o receio de que algumas famílias pudessem usar o cartão em produtos não essenciais, que é aquilo que, no fundo, consta de um cabaz de apoio familiar." Acabou por se revelar o oposto. O cartão "está a ser usado para foi criado, que é de facto apoiar nas necessidades básicas das famílias".
A comida continua a ser o bem mais necessário. Assegurar a alimentação é "complexo" para muitas famílias, afirma Ana Jorge, lembrando que crianças e idosos são especialmente vulneráveis ao risco de subnutrição.
Mas para manter uma casa não basta assegurar a alimentação. Uma família pode receber um cabaz alimentar mas faltar dinheiro para comprar produtos de higiene pessoal ou para fazer limpezas. E geralmente os cabazes tradicionais não incluem produtos frescos. "Se puder ter um cartão, a pessoa pode comprar, por exemplo, legumes e fazer uma boa sopa".
Outra vantagem: não são precisos armazéns para guardar os produtos doados, nem mobilizar voluntários para os distribuir por cabazes. Por outro lado, o Cartão Dá ainda não chega a todas as zonas do país, uma vez que só pode ser usado em lojas do grupo Sonae.
As famílias abrangidas pelo projeto-piloto foram escolhidas pela Cruz Vermelha e foram acompanhadas pela instituição ao longo do processo. "O contacto periódico com as equipas técnicas também ajuda muitas famílias a ultrapassar dificuldades", destaca Ana Jorge.
O saldo dos cartões varia consoante o tamanho do agregado familiar. São atribuídos 50 euros a beneficiários individuais, 75 euros a agregados com dois ou três elementos, 100 euros para famílias de quatro. Para agregados com mais elementos, será acrescentada uma percentagem de 10% por cada pessoa.
Para carregar estes cartões, os clientes de lojas Continente podem ser convidados a adquirir um vale na caixa quando estiverem a pagar as suas compras. São também aceites donativos através do IBAN PT50 0010 00005892 0750 0019 2, da referência multibanco - Entidade: 20 999 | Referência: 999 999 999 - ou do número de telefone 212 222 222.
Com o agravamento do custo de vida, verifica-se, por um lado, "uma redução de ofertas" e, por outro, "uma maior procura, com mais famílias a pedirem apoio", aponta Ana Jorge. "Neste momento, todas as doações são importantes, mesmo as menores."