Castigos corporais aumentam: 60% das crianças sofrem violência física

80% das crianças sofrem violência psicológica e 60% física por parte dos pais ou dos cuidadores.

De acordo com os últimos dados do estudo realizado pelo Instituto de Saúde Pública do Porto, de um universo de 4500 jovens, com uma média de idade de 13 anos, as agressões continuam a aumentar e 5% são mesmo vítimas de violência física grave.

Dados que vão ser apresentados esta quarta-feira, durante o Encontro Castigos Corporais Nunca Mais, organizado pelo Instituto de Apoio à Criança.

Henrique Barros, coordenador do estudo que acompanha este grupo de crianças desde o nascimento, explica que os últimos dados remontam a 2020, ao início da pandemia e são preocupantes. "Temos um aumento da violência psicológica, à medida que os anos passam a criança apercebe-se melhor desta situação. 80% relatam violência psicológica, 60% violência física, como castigos corporais ou a bofetada. 10%, por exemplo, dizem que os pais os agridem com cintos, com escovas do cabelo, etc. Depois há cerca de 7% onde esta violência é mais grave, no sentido em que, por exemplo, podem ser atiradas ao chão, etc. Há 5% destas crianças são vítimas de violência física muito grave, em que são socadas e são mesmo ameaçadas até com facas."

O Código Penal proíbe a prática de castigos corporais sobre as crianças, mas Henrique Barros afirma que é preciso mais, é urgente mudar mentalidades. "O ponto é em que medida é que esse enquadramento legal é, por um lado, percecionado como uma resposta legislativa, que devia ser percebido por cada um de nós como verdadeiramente grave e em que medida é que a tradição cultural de séculos da utilização de diferentes formas de violência física é entendida como maneira de educar e permanece ainda nas nossas populações."

Henrique Barros sublinha que os castigos corporais são um problema de saúde pública, com consequências graves. "Uma criança maltratada, espancada, é uma criança que sofre e isto transforma-se numa doença crónica. A violência sobre as crianças é uma forma de colocar as crianças em sofrimento crónico, é como qualquer outra doença crónica, é como ter diabetes. Por outro lado, não lhe damos na sua própria educação alternativas, formas relativamente negociadas de viver em sociedade."

O presidente do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto sublinha que estes pais não são monstros. "Estes pais não são monstros, estamos a falar de pessoas normais, de diferentes classes sociais, com diferentes graus de instrução, com diferentes profissões e que recorrem a estas formas de tentativa de controlar os comportamentos dos filhos e se o fazem é porque não têm a compreensão da gravidade das consequências disso. O que está a falhar é a existência da introdução inequívoca, continuada, preocupada, deste problema na formação da nossa cidadania."

O estudo do Instituto de Saúde Pública do Porto avalia a disciplina parental, a violência psicológica e física. Conclusões que vão ser apresentadas esta quarta-feira durante a manhã no segundo Encontro Castigos Corporais Nunca Mais, promovido pelo Instituto de Apoio à Criança, e que vai realizar-se na Fundação Calouste Gulbenkian.

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