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O Hospital de São João, no Porto, vai tomar uma decisão sobre a ativação do nível três do plano de contingência para a Covid-19 ainda esta semana.
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"O nível três do plano de contingência não foi efetivamente ativado, mas temos de tomar essa decisão nos próximos dois ou três dias, antes do fim de semana. Não podemos chegar ao fim de semana sem tomar essa decisão: ou para um lado ou para o outro. Mas a situação é grave", afirmou Nélson Pereira, diretor da unidade de urgência de medicina interna.
"Estamos a chegar às 08h00 de cada dia sem nenhuma vaga no hospital", disse. O nível três traduz-se, "se necessário", na possibilidade de "interromper a atividade programada, como consultas e cirurgias, até 20%".
Nelson Pereira garantiu que essa situação "ainda não aconteceu", mas, ainda que desejando "muito" que não venha a acontecer, considerou "premente estar preparado", porque "não se perspetiva que nos próximos dias venha a acontecer um alívio da situação epidemiológica".
Ouça aqui a reportagem da jornalista Rute Fonseca
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"A situação nos últimos 10 dias agravou-se significativamente. O serviço de urgência tem sido particularmente castigado. Estamos a bater recordes sucessivos. Nos últimos dias tivemos 50% de positividade nos nossos testes", contou.
O hospital enfrenta uma elevadíssima procura nas urgências por causa da Covid-19. Nélson Pereira referiu que "não se antecipa uma diminuição da situação" e, por isso, defende uma "análise detalhada" e uma ponderação de algumas "medidas extraordinárias para garantir resposta aos doentes Covid e não-Covid", nomeadamente o acesso generalizado e massivo aos testes.
"Generalizar o acesso aos testes para que os serviços de urgência possam ser aliviados. Tem sido difícil garantir em tempo útil o atendimento com qualidade aos doentes", explicou, sublinhando a importância de "dotar os serviços de ferramentas para poder lidar com este aumento".
O diretor da unidade de urgência de medicina interna do Hospital de São João indicou ainda que nunca houve tantos profissionais de saúde infetados nesta instituição. Neste momento, são "mais de 200". Nélson Pereira apontou como justificação a "retirada das medidas de proteção", que tem tanto impacto nos profissionais de saúde como na população em geral.
Questionado sobre como é que o hospital está a gerir a ausência dessas centenas de profissionais, Nelson Pereira deu o seu exemplo pessoal, contando que, em 10 dias, está a cumprir a quinta noite no serviço de urgência, e foi direto ao exigir medidas nacionais.
"É preciso trabalhar mais. Ponto final. Temos de dar a resposta que a comunidade precisa e nos exige. Exigimos também alguma antecipação e algum planeamento que possa aliviar quem está, de facto, na linha da frente", referiu.
Lembrando que o São João tem sido, na gestão desta pandemia, "uma espécie de farol" do que se vai passando no país, o diretor reiterou que a situação atual é "grave" e disse ter nota de que "os hospitais da região Norte já estão a sofrer esta pressão".
"Há dois dias, de forma unilateral, o Hospital de Santo António [no Porto] recusou doentes Covid porque já não tinha vagas", contou.
Há 80 doentes Covid internados no São João e dez nos cuidados intensivos. Até ao momento, "não foi necessário aumentar o número de camas disponíveis", mas "impõe-se respostas globais para que esta situação não rompa pelo elo mais fraco, que são os hospitais".
Sobre o perfil dos doentes internados, Nelson Pereira descreveu que a doença está a atingir todas as faixas etárias, depois deste novo pico ter começado há cerca de duas semanas pelos mais jovens.
"Mas está a progredir para as faixas etárias mais idosas", avisou.
Em enfermaria, disse, os doentes estão a permanecer, em média, sete dias. Já no que se refere a cuidados intensivos, a média é superior e varia conforme a gravidade dos casos.
Na terça-feira, a administração do Centro Hospitalar e Universitário de São João avançou que já tinha aberto uma nova enfermaria para Covid-19, um aumento de capacidade que Nelson Pereira disse hoje que pode não ficar por aqui, porque "a todo o momento se têm de tomar decisões novas devido à pressão".
"Não estamos numa situação epidemiológica mais difícil. Nós temos um problema de gestão e por isso é necessário planeamento e antecipação para não sermos surpreendidos, como estamos um bocadinho outra vez a ser", concluiu.

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* Notícia atualizada às 10h57