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O Estado deve criar um fundo permanente para ajuda humanitária, que poderá ser usado excecionalmente para apoiar a reconstrução de segundas habitações afetadas pelo incêndio de Pedrógão Grande, recomenda a comissão eventual de inquérito parlamentar.
"Deve ser criado um fundo financeiro de caráter permanente, para onde devem ser centralizados todos os donativos para ajuda humanitária", lê-se no relatório da comissão eventual de inquérito parlamentar à atuação do Estado na atribuição de apoios na sequência dos incêndios de 2017 na zona do Pinhal Interior.
O projeto de relatório, que teve como relator o deputado Jorge Paulo Oliveira (PSD), foi esta terça-feira apresentado na respetiva comissão, avançando com um conjunto de 83 conclusões e 36 recomendações sobre agricultura, atividades económicas, floresta e habitação.
A comissão recomenda que o fundo seja criado no âmbito de um novo quadro legislativo global "que regule a ajuda humanitária e solidária", que tenha previstos princípios éticos, regras sobre a definição de critérios de ajuda, procedimentos de coordenação e controlo e normas de transparência, prestação de contas e controlo financeiro.
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Segundo as recomendações do relatório na área da habitação, o fundo deveria ser reforçado com financiamento estatal.
No caso de ainda sobrar dinheiro do Fundo Revita após a conclusão da construção das casas afetadas pelo incêndio de Pedrógão Grande, em junho de 2017, esse valor por aplicar deveria ser depositado nesse fundo permanente a ser criado, "aguardando oportunidade adequada de utilização".
Terminado o processo de reconstrução das casas de primeira habitação, a comissão considera que deveria ser feito um levantamento do número correto das casas de segunda habitação afetadas.
Jorge Paulo Oliveira explica, na TSF, que há instrumentos que "não correram mesmo nada bem".
"O Estado deve suportar o custo da reconstrução total ou parcial das segundas habitações afetadas pelos incêndios de junho de 2017" e o novo fundo permanente a ser criado poderia ser "utilizado excecionalmente" para essa reabilitação, acrescenta a comissão.
Nas conclusões, o relatório sublinha que o processo de apoio às segundas habitações (em que os municípios poderiam contrair um empréstimo para ajudar numa parte das obras) "tornou o processo de reconstrução injusto, tratando de forma desigual pessoas que foram, da mesma forma, afetadas pelos incêndios".
Para a comissão, as segundas habitações desempenham "um papel fundamental como motor de desenvolvimento socioeconómico da região", considerando que os apoios "não foram comunicados de forma clara aos cidadãos, tendo alimentado confusões e expectativas em relação às segundas habitações".
Relativamente às suspeitas de fraude na reconstrução de habitações, a comissão sublinha que o não envolvimento da sociedade civil no processo "poderá ter levado a falhas na identificação das reais necessidades".
Além disso, após os primeiros levantamentos, feitos por equipas multidisciplinares que "favoreciam a independência na análise", os diagnósticos passaram a depender "quase em exclusivo de pareceres dos municípios", ficando "feridos na sua independência".
"A execução de qualquer plano de ação em contexto de gestão de crise tem a beneficiar imensamente com a avaliação e acompanhamento permanente de técnicos ou entidades independentes", segundo a comissão, registando que, no caso de Pedrógão Grande, o processo "foi sobretudo gerido ao nível do poder local".
O incêndio que deflagrou em 17 de junho de 2017 em Escalos Fundeiros, no concelho de Pedrógão Grande, e que alastrou depois a municípios vizinhos, nos distritos de Leiria, Coimbra e Castelo Branco, provocou 66 mortos e 253 feridos, sete deles com gravidade, e destruiu cerca de 500 casas, 261 das quais eram habitações permanentes, e 50 empresas.