Como se explicam os diferentes efeitos secundários das vacinas contra a Covid?
Covid-19

Como se explicam os diferentes efeitos secundários das vacinas contra a Covid?

As farmacêuticas que produzem as vacinas utilizadas em Portugal usam duas formas diferentes de chegar a um mesmo objetivo. E se o que entra nos nossos corpos é diferente, o que lhes acontece também o será.

Portugal voltou, esta segunda-feira, a utilizar a vacina contra a Covid-19 fabricada pela AstraZeneca, exatamente uma semana após ter optado pela sua suspensão. Mais de uma dezena de países, sobretudo europeus, tinha tomado a mesma decisão depois de terem sido notadas alegadas ligações da vacina a casos de trombose.

Foi na quinta-feira passada que a Agência Europeia do Medicamento concluiu que, afinal, a vacina não faz aumentar o risco de trombose. Mas, assim sendo, o que causou todas as dúvidas quanto à segurança do fármaco? E porque é que apresenta efeitos secundários diferentes dos outros?

O mRNA e o vetor viral

Há três vacinas em utilização em Portugal: a da AstraZeneca, a da Pfizer e a da Moderna. Os fármacos produzidos por estas duas últimas farmacêuticas baseiam-se "apenas na inoculação do mRNA - ou RNA mensageiro - que dentro das células vai dar origem à proteína viral", explica o virologista Celso Cunha na TSF.

O mRNA inoculado por estas vacinas, explica o Center for Disease Control and Prevention (CDC) dos Estados Unidos, dá instruções às nossas células para que produzam proteínas virais inofensivas para o nosso corpo, mas que são iguais às encontradas na superfície do SARS-CoV-2.

Assim que o mRNA chega às células imunes, estas utilizam-no - como se fosse um livro de instruções - para criar a proteína viral e, de seguida, livram-se dele. Logo de seguida, as nossas células "mostram" a proteína viral nas suas superfícies.

É aí que entra em cena o sistema imunitário. Ao reconhecer que aquela proteína não devia estar onde está, constrói uma resposta imune e fabrica anticorpos, tal como acontece quando somos infetados de forma natural pela Covid-19.

Tudo isto serviu para que o corpo aprendesse a proteger-se de uma futura possível infeção. Tal como em todas as vacinas, a principal vantagem é a de que o corpo aprende a proteger-se sem precisar de ficar realmente doente.

Já a vacina da AstraZeneca - e também a russa Sputnik V - utiliza o chamado "vetor viral", que consiste em administrar uma forma inofensiva - o vetor - do vírus.

Neste caso, o vetor entra nas células do corpo e utiliza os recursos das mesmas para produzir uma molécula de RNA que, por sua vez, produz a proteína viral.

O que se segue é muito semelhante ao processo descrito acima: as células apresentam, na sua superfície, a proteína viral e o sistema imunitário percebe que algo está fora do sítio. A partir daí, começa a produzir anticorpos e a chamar células imunes para combater algo que só pode reconhecer como uma infeção.

Nem tudo tem de ser igual. E não é

A conclusão é a mesma: o corpo aprendeu a proteger-se sem precisar de ficar doente. Mas o que entra no corpo "é diferente", assinala na TSF Miguel Castanho, investigador no Instituto de Medicina Molecular, pelo que "em tese", podem também vir daqui diferenças.

"Não é por estarmos a utilizar medicamentos para o mesmo fim que tudo neles tenha de ser igual. Não é verdade, porque o mecanismo de ação pode ter semelhanças e não ser completamente igual, ou porque os componentes da formulação usada são diferentes e podem, eles próprios, ter algumas implicações".

Tudo isto é "comum e normal", garante Miguel Castanho. Celso Cunha reforça a ideia: "Não é de estranhar que sejam descritos efeitos secundários diferentes" entre as várias vacinas.

Os efeitos secundários que ainda não conhecemos

Para já, não há qualquer evidência científica de que as consequências adversas que têm sido observadas sejam uma consequência direta da toma da vacina da AstraZeneca.

É na Alemanha que decorre um estudo que pode ajudar a clarificar tudo. Um grupo de médicos estudou os casos de trombose associados à administração da vacina e conclui que "nesses doentes foi detetado um número bastante mais alto do que o normal de plaquetas sanguíneas", algo que pode ser a causa dos "eventos trombolíticos" registados internacionalmente

Mas há também um alerta que vale a pena ter em conta. "Não sabemos, neste momento, se após a segunda toma da Pfizer, Moderna, AstraZeneca ou outra qualquer, não vão começar a aparecer também efeitos secundários".

Razão vs emoção

Sem que sejam conhecidos, para já, outros efeitos secundários, o que está presente no pensamento de cada um são as consequências de cada vacina. Miguel Castanho explica que a perceção do risco associado aos diferentes fármacos também deve ser levada em conta.

"As pessoas avaliam a segurança das vacinas face ao que está em jogo. Ou é a saúde da própria pessoa, ou é a vida e saúde do pai e da mãe. E esta não tem preço, não entra na lógica das probabilidades. São valores muito íntimos, são sentimentos e não razões."

Por isso, se estão disponíveis outras vacinas e os planos de vacinação não ficam comprometidos se não for utilizada a vacina da AstraZenena, "seria bom saber que se dá preferência a outras vacinas" enquanto continuam os estudos sobre os casos de trombose.

Se ainda tem outras questões sobre a vacina, a Direção-Geral da Saúde tem uma secção "Perguntas Frequentes" que podem ajudar a desfazer algumas das dúvidas.

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