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A psicóloga e professora catedrática na Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa, Margarida Gaspar de Matos, defende que o objetivo da task force que vai estudar o comportamento dos portugueses face à pandemia, não passa necessariamente pela mudança de comportamentos.
A especialista, coordenadora do grupo de trabalho que agora entra em funções, considera que, globalmente, a forma como os portugueses têm reagido à pandemia é bastante positiva. Tendo em conta o contexto de um ano de fortes alterações à rotina de cada um, Margarida Gaspar de Matos pensa mesmo que os portugueses têm sido "incríveis"; o que se passa é que tendem a ver sempre a situação pelo lado mais negro.
"Passei toda a minha vida profissional a tentar que as pessoas não olhassem para o mundo com umas lentes escuras, que fazem sobressair tudo o que são coisas más. Eu acho que nós, como país, tivemos um comportamento incrível."
Ouça aqui a entrevista com Margarida Gaspar de Matos, conduzida pela jornalista Guilhermina Sousa.
Pode não ser preciso mudar
Se assim é, a pergunta que se impõe é se é necessário mudar. A psicóloga clínica e da saúde responde que ainda agora o trabalho da task force está a começar, por isso, só mais tarde haverá uma resposta a essa questão.
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De qualquer forma, Margarida Gaspar de Matos faz questão de sublinhar que o mais importante é "identificar barreiras" aos comportamentos que possam levar a uma menor proteção da saúde das pessoas, ajudá-las fazer escolhas que as protejam mais e facilitar-lhes o acesso a ambientes favoráveis a essas escolhas.
Desconfinamento: "A ansiedade é a medida da incerteza"
Com o país a iniciar o desconfinamento, Margarida Gaspar de Matos defende que é importante começar a abrir. E lembra que foi, há semanas, uma das signatárias de uma "carta aberta" em que se defendia isso mesmo.
E explica que um bom exemplo das razões pelas quais é necessário desconfinar é o que se passa com as crianças mais velhas e com os adolescentes, faixas etárias com as quais tem trabalhado mais de perto, ao longo dos anos.
"O que eles dizem é que o problema é não saber quando é que isto vai acabar. Esta incerteza está a angustiá-los muito e, por definição fenomenológica, a ansiedade é a medida da nossa incerteza."
Até ao final do ano, este grupo de trabalho de cientistas comportamentais vai desenvolver um trabalho de assessoria para o governo, através de uma série de estudos e documentos.
Foi criado por meio de um despacho do Ministério da Saúde e vai estar em ligação com o executivo através do secretário de estado adjunto do primeiro-ministro, Tiago Antunes, com o apoio dos Serviços Partilhados do ministério liderado por Marta Temido.