- Comentar
O pneumologista Filipe Froes considera que a Covid longa (ou long Covid, em inglês) vai ser uma das marcas que a pandemia vai deixar no mundo e está preocupado com a capacidade de resposta do Serviço Nacional de Saúde.
Em entrevista ao programa Em Alta Voz, da TSF e do Diário de Notícias, o pneumologista diz que a Covid longa "vai ser, provavelmente, das heranças mais pesadas que a pandemia nos vai deixar".

Leia também:
Filipe Froes: "Os dois vencedores da pandemia são a ciência e a população"
"O long Covid também é uma novidade e é um termo derivado de uma hashtag do Twitter e é a primeira vez que nós temos uma doença que resultou de uma arqueóloga chamada Elisa Perego, da University College of London, que teve Covid, não sei se em março ou abril, e que no dia 20 de maio de 2020 mantinha queixas e fez uma hashtag que dizia long Covid. Pegou de tal maneira que toda a gente fala em long Covid", explica Filipe Froes.
A importância desta doença, segundo o pneumologista, está patente no facto de a Organização Mundial da Saúde (OMS) ter entendido "que era preciso uniformizar quer a linguagem e os procedimentos quer as definições e os conceitos".
Subscrever newsletter
Subscreva a nossa newsletter e tenha as notícias no seu e-mail todos os dias
"Chamou-lhe outro nome, chamou-lhe condição pós-Covid-19 e estabeleceu que para definir long Covid, porque Covid longa foi a expressão que ficou, um indivíduo que tenha tido infeção por SARS-CoV-2 documentada ou provável há mais de três meses e em que persistam sinais ou sintomas há mais de dois meses, sem outra razão para a sua persistência, entende-se que seja condição pós-Covid-19", conta.
Nessa altura, sem as vacinas que a maioria da população portuguesa já tomou, estimava-se que 10% das pessoas que testavam positivo para a Covid-19 iriam sofrer de Covid longa.
"Podemos dizer que quando chegámos à variante Delta tínhamos cerca de um milhão de portugueses infetados, portanto, previsivelmente, já nessa altura íamos ter 100 mil pessoas a sobrecarregar por legítimo interesse, por necessidade, o Serviço Nacional de Saúde", diz o pneumologista.
Relativamente à Ómicron, Filipe Froes considera que "ainda tem muito pouco tempo".
"Foi declarada variante de preocupação no dia 26 de novembro, chegou a Portugal no dia 28 de novembro, no rastreio para um jogo de futebol B SAD - Benfica, e só a partir do dia 28 de fevereiro podemos falar de Covid longa relacionada com a Ómicron. Mas o que sabemos é que, atendendo ao facto de as pessoas estarem muito vacinadas, já há menor probabilidade de evoluírem para long Covid, portanto, a vacina tem múltiplas vantagens", esclarece.
"Portanto, as pessoas que estão vacinadas, como têm formas mais ligeiras da doença, e sabemos que as formas mais graves estão associadas a maior evolução para long Covid, evoluem menos. Long Covid pode acontecer a qualquer pessoa, na minha consulta tenho de todas as idades, adultas, com formas graves e menos graves", garante Filipe Froes.
O pneumologista não tem a certeza de que o SNS tem capacidade de responder a todos estes casos de Covid longa: "Estou, estou preocupado, porque exige um desvio muito grande de recursos para o long Covid. E imaginemos o que é mais 100 mil ou 150 mil pessoas a necessitarem de cuidados complexos multidisciplinares ou com uma abordagem muito grande em termos de consultas, recursos e meios complementares de diagnóstico."
Nesse sentido, Filipe Froes tem proposto que Portugal deveria "ter um programa nacional para o long Covid, com um diretor, com centros de referência, com protocolos, com linhas de investigação, para encontrar os melhores tratamentos para os melhores resultados para recuperarmos mais rapidamente a população e, ao mesmo tempo, assegurarmos a sustentabilidade das nossas estruturas de saúde".