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Um ano de pandemia deixou um rasto de menos 46% de consultas médicas presenciais nos centros de saúde, uma quebra de 40% da procura das urgências hospitalares e menos 25% de cirurgias realizadas. Estes são alguns dos números recolhidos pelo Movimento Saúde em Dia (constituído pela Ordem dos Médicos e pela Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares) nas estatísticas oficiais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) para caracterizar o impacto da Covid-19 nos doentes não-Covid desde março de 2020 a fevereiro de 2021.
Nas consultas médicas presenciais a queda significa menos 9 milhões de consultas no primeiro ano de pandemia comparando com o período homólogo anterior. Foram igualmente realizadas menos 700 mil consultas hospitalares, registaram-se menos 2,5 milhões de idas às urgências e fizeram-se menos 175 mil cirurgias.
A descida, que se sabe que foi acentuada nos períodos de confinamento - nomeadamente no primeiro entre março e abril de 2020 - não revelou, contudo, sinais de recuperação ao longo dos meses, prolongando-se de março a fevereiro em quase todas as áreas da saúde: consultas médicas nos centros de saúde, contactos com serviços de enfermagem, cirurgias, exames de diagnóstico, consultas hospitalares, análises ou medicina física e de reabilitação, mas também acompanhamento de doentes crónicos com diabetes e hipertensão.
Na prática, os cuidados de saúde para os doentes não-Covid nunca voltaram, em nenhum período, aos valores que se registavam antes da pandemia.
O presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares defende que a situação é preocupante e vai ter efeitos ao longo de anos na saúde e mortalidade dos portugueses.
Alexandre Lourenço dá o exemplo dos cuidados de saúde primários onde se registam "efeitos dramáticos nos rastreios oncológicos, acompanhamento de doentes crónicos... Estamos perante um impacto profundo e dramático nos cuidados de saúde".
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O representante dos administradores hospitalares salienta que a "task-force" anunciada em setembro para dar resposta aos doentes não-Covid nunca apresentou resultados, não se conhecendo qualquer sinal desse trabalho ou de qualquer reunião.
Alexandre Lourenço defende que se aplique, de facto, uma estratégia, aproveitando os vários recursos dos setores público, privado e social, em rede e não de forma isolada, pois não tem existido uma resposta ao muito que tem ficado para trás.
"Caso contrário, e essa é a opinião generalizada dos médicos, os efeitos da falta de acesso dos doentes não-Covid irão ficar durante anos, com uma deterioração clara dos indicadores de saúde e da esperança de vida em Portugal", conclui o presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares.
