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Filipe Gaivão já pedalou por diversas causas, desde a Liga Portuguesa Contra o Cancro, a AMI, as questões ambientais, ou os fogos de 2017.
Praticamente sem bagagem, Filipe Gaivão parte esta quarta-feira de Bruxelas para pedalar até Lisboa.
A viagem solitária deste amante das duas rodas pretende ser um grito de alerta para a necessidade de alterações de âmbito legal que permitam aos doentes de Esclerose Múltipla alguma melhoria nas condições de vida.
Filipe Gaivão está habituado a pedalar em nome de causas. Em 2017, ligou Lisboa ao Vaticano, onde foi recebido pelo Papa, a quem entregou uma mensagem de apelo contra o desperdício alimentar.
Agora já programou o GPS, e está pronto para voltar a fazer-se à estrada. Tem pela frente 2400 km, a pedalar. Decidiu ligar Bruxelas a Lisboa por esta causa, depois de de "uma amiga, mãe de uma doente" o ter desafiado, tendo aceitado "sem hesitação", para dar voz a quem sofre com esta "doença silenciosa".
"Aparentemente, não têm nada, mas passam muitas dificuldades", frisou, em declarações à TSF, em Bruxelas, poucas horas antes de deixar a capital belga, onde se encontrou com eurodeputados e com representantes da Plataforma Europeia de Esclerose Múltipla.
Filipe Gaivão espera que a mensagem chegue aos legisladores europeus, por considerar necessária uma adaptação ao nível legal, para mitigar os entraves provocados pela Esclerose.
"Era necessário que pudesse haver ajustes, principalmente ao nível profissional, porque estes doentes muitas vezes não conseguem acompanhar a sua carreira até ao final, porque têm dificuldades motoras e têm dificuldades de vária ordem", afirmou Filipe Gaivão, defendendo "uma alteração que permitisse, aos doentes, mais facilmente o trabalho a partir de casa ou com outras condições nos seus locais de trabalho".
"Pretende-se fazer chegar esta mensagem a quem possa decidir e para que se possa estudar melhor estes pormenores da questão profissional e um registo de doentes", disse, tendo falado de "uma série de questões ligadas aos hospitais para facilitar a vida destes doentes".
N2 e outras causas
Filipe Gaivão começou, "há vários anos, a pedalar", primeiro "por prazer durante as férias". Depois, de uma forma mais estruturada, ligou Chaves a Faro, percorrendo a Nacional 2, "por ser uma estrada mítica e a mais comprida da Europa, sempre com o mesmo nome".
Naquela altura, "houve tanta gente que me seguiu, que eu resolvi - em conjunto com um colega - aproveitar essa energia de toda a gente, para pedalar por causas solidárias", relatou à TSF.
"A partir daí vieram várias iniciativas solidárias, desde a Liga Portuguesa Contra o Cancro, a AMI, as questões ambientais, ou os fogos de 2017", descreveu, sem esquecer aquela viagem que "até agora foi o ponto alto, quando foi de Lisboa a Roma".
A viagem de bicicleta, com uma média de "155 quilómetros diários", permitiu-lhe uma audição no Vaticano, onde entregou "uma mensagem ao Papa Francisco sobre o desperdício alimentar".
Sem bagagem
Filipe Gaivão viaja praticamente sem bagagem. "É muito pouca, porque o peso é todo [puxado] com as pernas, portanto é o mínimo indispensável", relatou à TSF, em Bruxelas, dizendo que isso significa transportar "o mínimo para poder todos os dias lavar a minha roupa e continuar, no dia a seguir, com a mesma roupa. Todos os dias vou fazer a minha lavandaria"
"Aqui também trago algumas barras energéticas e coisas assim, que vou comendo durante a viagem, porque nem sempre é fácil encontrar este tipo de produtos à distância da [deslocação de] bicicleta", descreve, de forma descontraída, com o ar de quem conhece as dificuldades do caminho.
O maior desafio está na "parte mental" e muito menos no ponto de vista físico. "Já não sou novo, tenho 57 anos, mas se não conseguir ir a 30 quilómetros por hora, vou a 25. E, se não conseguir, vou a 20 ou 15 e, se tiver que parar uma hora para descansar num sítio, porque estou bastante cansado, descanso", afirma, dizendo que o esforço físico "não é o problema".
Porém, "a parte mental, de ter que estar todos os dias, consecutivamente, durante sete horas, mais ou menos, em cima de uma bicicleta sozinho, isso é a parte mais chata".
Sem ajuda
O apoio logístico, durante os 2400 km, é "zero", isto é, "nenhum". Filipe Gaivão fará todo o percurso "completamente sozinho", percorrendo a distância por etapas de 120 km "em média", entre os "sítios previamente marcados", onde tem alojamento reservado. A primeira etapa, com 85 km, será a mais curta de todas. Mas, no segundo dia, terá de enfrentar uma distância de 150 km.
"Vou sempre por estradas nacionais ou ciclovias, quando elas existem, tentando passar em alguns locais emblemáticos do percurso, ajustando ligeiramente à direita ou à esquerda, para conseguir fazer desta viagem também uma situação agradável e que possa mostrar a todos aqueles que me seguem", descreve.
Ao longo do percurso, - que pode seguir aqui em tempo real -, Filipe Gaivão passará por Paris, Le Mans, e Bordéus. Já em Espanha, San Sebastian, Burgos e Salamanca, dirigindo-se depois para Portugal, onde cruzará Coimbra, para chegar, finalmente, a Lisboa, no dia 28 de julho.