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A Direção Geral do Património Cultural propôs ao Governo a classificação de um posto de combustível em Guimarães, da autoria do arquiteto Fernando Távora, como Monumento de Interesse Público (MIP).
A ideia tem provocado estranheza, mas a autoria do projeto e a necessidade de preservar o imóvel são argumentos que sustentam a proposta.
A obra foi desenhada pelo arquiteto Fernando Távora, reconhecido como um dos principais nomes da arquitetura portuguesa contemporânea e, na opinião do arquiteto Miguel Frazão, em declarações à TSF, é um argumento de peso. "Não é das obras mais icónicas, mas é uma obra muito caraterística dele. E é um edifício como outro qualquer, o facto de ser uma bomba de gasolina não impede que seja classificada", justifica Miguel Frazão, quem colaborou na proposta inicial apresentada pela Fundação Marques da Silva em janeiro de 2014 à Direção Regional de Cultura do Norte.
O mesmo responsável aponta os recantos que denunciam o traço criativo de Távora, indicando, por o exemplo, que "faz lembrar o pavilhão de ténis de Leça, tem aquela mistura que ele tão bem fazia e que marca a arquitetura dessa época em Portugal, de misturar os materiais modernos como o betão e o aço com os materiais tradicionais, como são o granito".
Ouça a reportagem de Liliana Costa na bomba de gasolina em Guimarães
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Miguel Frazão sintetiza "uma obra que parece muito simples, como o costume, e que é ao mesmo tempo muito erudita. Távora dizia muitas vezes que o difícil é fazer simples, porque complicar, qualquer um complica".
Além da autoria do projeto do posto de combustíveis de Covas, em Guimarães, encomendado pela Sacor e construído nos anos 60, há um outro argumento para defender a classificação deste imóvel como MIP, que se prende com a necessidade de impedir eventuais intervenções por parte do proprietário que ponham em causa a sua preservação. "Há coisas irreversíveis, como a paisagem. Uma das grandes caraterísticas deste edifício é que ele está implantado com uma vista sobre a Veiga de Creixomil, que é uma coisa gloriosa, mas que hoje em dia tem uns prédios pela frente que não são da melhor qualidade. Mas no que toca ao edifício propriamente dito penso que a Galp pode e deve cuidar do seu património e reverter, por exemplo, as caixilharias que eram de madeira e passaram a ser de alumínio", indica Miguel Frazão.
A proposta tem provocado estranheza e perplexidade. Muitos dos clientes ouvidos pela TSF preferem não comentar, outros desconhecem, mas há quem veja com bons olhos, quanto mais não seja pelo valor histórico. "Achei muito bem. Meto aqui gasolina há pelo menos 45 anos, é um sítio histórico", atira um dos automobilistas.
A proposta de classificação como monumento de interesse público (MIP) do Posto Duplo de Abastecimento de Combustíveis de Covas, no lugar do Salgueiral, no concelho de Guimarães, foi publicada em Diário da República na passada sexta feira, dia 8 de abril, decorrendo agora um prazo de 30 dias para consulta pública.
Notícia atualizada às 11h25