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Para a prova gastronómica dedicada ao judaísmo, a cozinha foi entregue a Raquel Ruah que confecionou uma receita de trigo com carne e batata-doce, condimentada com sal e colorau. "É uma coisa simples", descreve sobre este prato típico de judeus de Marrocos, onde tem as suas origens.
Embora seja mais "invernosa", esta é uma receita que acaba por ser feita em qualquer altura do ano e que está na mesa aos sábados. "Os judeus não fazem grande destrinça se é verão ou inverno. Comem os pratos típicos sempre porque são adaptados à questão de não se poder cozinhar ao sábado", conta.
A alimentação judaica tem por base um conjunto de regras estabelecidos pelo livro sagrado judeu, a Torá, que acaba por determinar a alimentação e impedir o consumo de alguns animais, nomeadamente carne de porco ou de coelho por não serem animais ruminantes. Quanto ao peixe, Raquel Ruah conta que só se pode consumir os que têm "escamas, barbatanas e espinhas", o que deixa de lado, por exemplo, o safio. "Tem barbatanas, tem espinhas, mas não tem escamas, portanto, fica completamente de lado", explica.
Ouça a reportagem da TSF.
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A tertúlia dedicada ao judaísmo foi conduzida por Debbie Suiza, casada com o Chefe Rabi em Lisboa, que fala da relação entre alimentação e judaísmo como "algo espiritual". "O que pomos no nosso corpo automaticamente vai afetar a nossa alma", afirma Debbie Suiza, defendendo que, ao seguir uma alimentação Kosher "estamos a elevar a nossa alma para um nível mais elevado para estar perto de Deus".

O diretor da BGUC, João Gouveia Monteiro, com Debbie Suiza
© Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra
O Colóquio Religião e Alimentação é uma iniciativa da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra (BGUC), a Academia para o Encontro de Culturas e Religiões da Universidade de Coimbra (APECER-UC), o Instituto Universitário Justiça e Paz e o Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos. Com estas sessões pretende-se, segundo João Gouveia Monteiro, diretor da biblioteca, "tentar perceber a razão de ser das diferentes dietas que existem nas grandes religiões mundiais".
João Gouveia Monteiro considera que esta é também uma forma de quebrar barreiras entre religiões, notando que a Universidade de Coimbra tem 20 por cento de alunos estrangeiros, oriundos de mais de uma centena de países com várias religiões e culturas.
A vontade é, por isso, a de mais esclarecimento e convívio entre as pessoas: "Queremos que seja possível, se amanhã, um cristão convidar um muçulmano, um hindu, ou um judeu, ou judia para jantar em sua casa, saber que tipo de refeição lhe pode proporcionar, e vice-versa".
João Gouveia Monteiro admite dar continuidade a este tipo de iniciativas, alargando a outras religiões como o Islão ou o budismo, por exemplo. Para já, o também diretor da APECER-UC revela que está a ser planeado um colóquio sobre religião e medicina para "ver como outras religiões, que não o catolicismo, pensam o corpo humano e a saúde e que técnicas é que se utilizam". A data prevista é o primeiro semestre de 2023.