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Uma pessoa com uma baixa literacia em saúde tem maior tendência a sofrer de mais doenças crónicas em simultâneo. O estudo Literacia em Saúde na Doença Crónica, desenvolvido pela Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade NOVA de Lisboa (ENSP-NOVA), entrevistou pessoas com 11 doenças crónicas em simultâneo, quando a média é de quatro doenças crónicas.
Os dados mostram que 55% das pessoas com doença crónica têm um nível baixo de literacia em saúde e são estes doentes que mais recorrem a urgências hospitalares e consultas, quando comparados com doentes com níveis mais elevados de competências básicas em saúde.
As principais fontes de informação em saúde utilizadas pelos doentes crónicos são os médicos e enfermeiros (82,8%), seguindo-se os familiares e amigos (57,7%) e a televisão (55,1%), com apenas dois em cada dez doentes crónicos a utilizar a Internet.
Os resultados indicam que nove em cada dez doentes não utilizam a linha de atendimento SNS24 e três em cada dez renovam a medicação online.
O estudo mostra que há uma taxa de adesão à terapêutica de 78% por parte dos doentes crónicos, e quanto maior é o nível de literacia em saúde, melhor é a toma de medicamentos.
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A investigação da ENSP-NOVA conclui ainda que cerca de metade da população com doença crónica não tem competências para gerir a própria saúde, com cerca de metade dos inquiridos a afirmar não ter apoio em aspetos relacionados com a gestão da doença.
O estudo contou com a participação de um total de 412 indivíduos com doença crónica com idades compreendidas entre os 18 e os 94 anos, sendo que a idade média dos entrevistados ronda os 65 anos.
As quatro doenças crónicas mais prevalentes são a hipertensão arterial, a dislipidemia, a diabetes, e a depressão.
A jornalista Sara de Melo Rocha revela as conclusões do estudo sobre literacia em saúde
Mais intervenção política
Ana Rita Pedro, investigadora da ENSP-NOVA e responsável pelo estudo, defende que é preciso uma intervenção estratégica que envolva os profissionais de saúde, mas sobretudo os decisores políticos.
"Claro que os nossos profissionais de saúde, nomeadamente os médicos, estão mais que ocupados e têm pouco tempo para ver cada doente. Para mudar esta panorama, são necessárias orientações muito mais macro do que ao nível da prestação de cuidados", afirmou à TSF.
A investigadora considera que é preciso incluir "a literacia em saúde nos modelos de financiamento das instituições de saúde".
Para a investigadora, literacia em saúde envolve acesso a informação fidedigna sobre saúde, a sua compreensão e "sermos capazes de perceber o que é confiável e sermos capazes de adotar essa informação que temos ao nosso estilo de vida e às nossas decisões em concreto"..
Perante os dados do estudo, Ana Rita Pedro explica que investir em literacia em saúde é fundamental para que os cidadãos possam estar envolvidos no processo e não estejam "totalmente dependentes das orientações dos profissionais de saúde, que nem sempre estão acessíveis".
A investigadora da Escola Nacional de Saúde Pública considera que os médicos e os enfermeiros precisam melhorar a capacidade de comunicação com os doentes já que o estudo mostra que, para a maioria dos doentes crónicos, "a internet e as redes sociais têm pouco peso".