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O índice de transmissibilidade da covid-19, um dos indicadores identificados pelo Governo como fundamentais para ir 'tomando o pulso' ao avanço da pandemia, deve chegar a 1 dentro de dois dias. Pelo menos é isso que indicam os cálculos matemáticos da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
Depois do pico da terceira vaga, desde o final de janeiro que o Rt está abaixo de 1. Ou seja, cada infetado está a contagiar, em média, menos de 1 pessoa há quase 2 meses, o que faz com que desde essa altura se tenham registado cada vez menos novos casos de covid-19.
No entanto, após um mínimo de 0,61 na segunda semana de fevereiro, o Rt tem subido de forma contínua e na última segunda-feira o número revelado pela Direção-Geral da Saúde (DGS) apontava para 0,89.
Carlos Antunes, professor da Faculdade de Ciências que tem trabalhado na equipa do epidemiologista Manuel Carmo Gomes e feito parte do grupo de peritos que tem aconselhado o governo, explica à TSF que os dados da DGS - oriundos do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) - têm, no entanto, um atraso de vários dias e referem-se, na verdade, à média de 13 a 17 de março e a 17 de março o Rt diário já estava em 0,92.
À data de hoje o índice de transmissão está mais elevado e a previsão é que por volta de 25 de março, quinta-feira, chegue ao valor de 1 - quer pela metodologia de cálculo do Rt usada pelo INSA, quer pela usada pela equipa da Faculdade de Ciências.
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Contudo, devido ao atraso dos dados calculados pelo INSA esse cruzar do 1 só será detetado, formalmente, pela DGS, na próxima semana, pelo que não será de estranhar que durante vários dias, até lá, os boletins da pandemia indiquem valores mais baixos.
Rt de 1 não pára desconfinamento
Apesar do enfoque que o primeiro-ministro fez sobre a avaliação do Rt e sobre a fasquia de 1 na apresentação do processo de desconfinamento que se vai prolongar - se tudo correr bem - até meio de maio, Carlos Antunes explica que não devemos ficar preocupados com esta subida.
"É algo natural, mas que requer algum cuidado. Quando a incidência deixa de diminuir, o Rt tende naturalmente para 1 pela sua própria definição de número de reprodução em função dos casos existentes", refere o perito.
Com a descida para valores muito baixos de novos casos diários - cerca de 500 a nível nacional - é normal que o Rt suba para 1 pois a margem de diminuição é cada vez mais curta.
"Não é preocupante, a não ser que o número de novos casos comece a aumentar de forma significativa. Por agora, estamos com essa incidência em valores confortáveis", detalha Carlos Antunes, para quem o fundamental é manter o Rt sempre ali à volta de 1, não chegando a 1,1 ou 1,2.
Alcançada a fasquia de 1, o essencial é avançar com as "armas" da saúde pública como o aumento da testagem em massa para que o índice "oscile" umas vezes um pouco acima e outras vezes um pouco abaixo de 1.
O professor da Faculdade de Ciências sublinha que aquilo que a equipa de peritos tem aconselhado ao Governo não é parar o desconfinamento apenas porque o Rt alcança a linha mágica de 1 que no mapa de risco significa entrar numa zona laranja.
Depois de alcançar essa fasquia, que deve ser vista como um "alerta", o fundamental, segundo a equipa de peritos que aconselhou o Governo, é avançar primeiro com as tais medidas de saúde pública e testagem, nomeadamente numa altura de mais mobilidade das pessoas com o progressivo avanço do processo de desconfinamento.
