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Francisco George, antigo diretor-geral da Saúde, considera um erro culpar a ministra da Saúde, Marta Temido, ou a diretora-geral, Graça Freitas, pelas dificuldades que Portugal tem tido na resposta à pandemia.
Ouvido esta quarta-feira à tarde na Comissão Eventual que acompanha as medidas de reposta à Covid, o atual presidente da Cruz Vermelha Portuguesa diagnosticou um desinvestimento muito acentuado na saúde pública nos últimos 20 anos e garantiu que, com os meios com que começou este combate à pandemia, não se podia pedir mais à ministra Marta Temido.
"É um erro apontar dedos ou responsabilidades à ministra e à diretora-geral ou a outros governantes. Quando entrei na Direção-Geral da Saúde, em 2000, éramos 320 funcionários e quando saí éramos 140. Agora, depois de ter saído, em 2017, diminuíram. Diretores, subdiretores, tudo isso desapareceu", explicou Francisco George.
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O atual presidente da Cruz Vermelha apontou também a enorme fragilidade e os avisos que foram feitos e não foram atendidos por vários órgãos de soberania. O antecessor de Graça Freitas lembrou ainda que pediu, várias vezes, uma mudança na Constituição que nunca teve resposta.
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"Bastava ter mudado o articulado da alínea H do artigo 27 da Constituição para permitir a obrigatoriedade de um tratamento a um doente Covid e isso hoje não é possível. Se sairmos do estado de emergência, um doente Covid, se quiser, vai-se embora, entra no metropolitano e vai para casa", recordou o antigo diretor-geral da Saúde.
Antes destas críticas de Francisco George no Parlamento, foi também ouvido pelos deputados António Sarmento, diretor do serviço de infecciologia do Hospital de São João, no Porto. Garantiu que a unidade de saúde onde trabalha nunca esteve em situação de caos porque foi antecipando o que viria a seguir.
António Sarmento defendeu que este não é o momento de encontrar culpados e afirmou que a maior arma para combater uma pandemia é sempre a solidariedade.

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"Temos de acabar com esta coisa de andarmos a culpar-nos uns aos outros, não vale a pena. Temos de pensar no que vamos fazer no futuro. Há duas coisas que têm de ser claramente reforçadas: a saúde pública, com meios humanos e materiais, e a DGS, que tem gente de imensa categoria mas precisa de quadros, de dinheiro, meios, instalações e incentivos", sublinhou António Sarmento.
O diretor do serviço de infecciologia do Hospital de São João destacou que a abertura das ligações aéreas em julho, na Europa, foi demasiado precoce.
"Teria sido preferível ter-se adiado dois ou três meses esta abertura completa das fronteiras e dos aeroportos. Estamos numa posição extremamente vulnerável da qual não temos culpa nenhuma, nem ninguém tem.

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"Penso que a maior colónia de imigrantes em Portugal é o Brasil e, neste país, a situação é extraordinariamente problemática. O país para onde nós emigramos mais, neste momento na Europa, é para o Reino Unido, sítio problemático também. Por outro lado estávamos ao lado de Espanha, que era dos países do mundo com mais casos. A nossa situação não era fácil", acrescentou o diretor do serviço de infecciologia do Hospital de São João.